Capítulo 10 — Dois Reis, Uma Princesa
Dizem que o poder atrai. Mas o que eu sentia naquele instante era puro magnetismo de guerra.
Henrique e Miguel estavam a poucos metros de mim, na sala de recepções do Palácio do Itamaraty, cada um envolto por uma aura tensa. O ar estava carregado de algo invisível e quase elétrico: orgulho ferido.
Tudo começou quando Miguel apareceu de surpresa. Eu estava ali representando a Casa Imperial numa reunião com representantes europeus, usando um vestido azul e verde que me dava o ar de "princesa em pleno poder". Miguel se aproximou com sua postura impecável e sorriso diplomático, como quem estava pronto pra roubar os holofotes.
— Majestade. — Ele se curvou levemente. — Permita-me acompanhá-la até o jantar.
Henrique surgiu minutos depois, vestindo seu terno preto com discreto broche da Ordem Nacional. Ele parecia mais sério que o normal, mas não foi até mim. Ele foi até Miguel.
— Acompanhá-la? — Sua voz saiu baixa, firme. — Achei que compromissos oficiais não envolviam cortejos particulares.
Miguel sorriu com a calma de quem estudou psicologia antes de entrar em qualquer sala.
— Não estou aqui como pretendente, apenas como diplomata. Acompanhá-la é um gesto de respeito.
Henrique cruzou os braços. Ele não era do tipo que explodia. Mas cada palavra era afiada.
— O respeito à futura rainha também inclui conhecer seus limites. E suas intenções.
Miguel virou-se para mim.
— Sua Alteza prefere que eu me afaste?
Fiquei em silêncio por alguns segundos. Meu coração batia como um tambor dentro do peito. Eu estava cercada por dois homens que, de formas diferentes, significavam algo para mim. Um era a paixão antiga, o fogo proibido. O outro era a promessa de segurança, poder e reconhecimento.
— Prefiro que a conversa pare de parecer uma disputa medieval. — Olhei para ambos. — Isso aqui é o século XXI.
Henrique não recuou. Ele se aproximou um pouco mais de mim.
— Você não precisa de bajuladores com títulos, Isabela. Você é forte sozinha.
Miguel respondeu antes que eu pudesse abrir a boca:
— Ninguém disse que ela precisa. Mas até a mais forte das rainhas pode escolher um aliado. Alguém que a entenda... e não a esconda.
A última frase bateu como um tapa. Henrique travou o maxilar. Miguel o encarava, ainda com aquele sorriso calmo. Eu percebi então: não era apenas rivalidade. Era guerra de mundos.
Henrique vinha da resistência. Ele lutava contra o sistema. Ele me amava, mas me escondia por medo. Miguel era parte do sistema. Ele sabia jogar o jogo. Sabia usar cada palavra como um movimento no tabuleiro.
Eu estava no meio. Dividida entre dois tipos de amor: o que me queimava por dentro e o que me dava estrutura.
— Chega. — Falei, mais alto do que pretendia. Ambos se calaram. — Eu sou a princesa. E eu decido quem fica ao meu lado.
Henrique abaixou os olhos por um instante. Miguel fez uma leve reverência.
— Como desejar, Alteza.
Eu caminhei até a janela, tentando recuperar o ar. A vista de Brasília à noite parecia bonita demais pra combinar com meu caos interno. Me perguntei, por um instante, como era viver uma vida simples. Sem coroas, sem disputas, sem escolher entre um coração e um reino.
Minutos depois, senti uma presença atrás de mim.
Era Henrique.
— Eu não devia ter explodido. — Ele disse baixo.
— Mas você explodiu.
— Porque te amo. E ver você com ele...
Me virei devagar.
— Não é sobre ele. Nem sobre você. É sobre mim. Sobre o que eu quero. Sobre quem eu quero ser. — Minha voz tremia, mas era verdadeira. — E agora... eu não sei.
Ele me olhou como quem entende, mas odeia aceitar.
— Quando você souber... me procura.
Ele saiu. Pela segunda vez, me deixando com o coração na mão.
E pela primeira vez, eu não sabia se queria que ele voltasse