Capítulo 9

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Capítulo 9 — O Pretendente Perfeito Tem um Sorriso Perigoso

Três dias sem Henrique.

Três dias sem mensagens, sem encontros escondidos, sem nenhuma palavra.

Era como se ele nunca tivesse existido.

Como se o nosso beijo, o nosso silêncio, não tivessem significado nada.

Mas significaram. E ainda significam.

Por fora, eu agia como a princesa que todos esperavam: vestida de gala, educada nas entrevistas, presente nos eventos diplomáticos.

Por dentro, eu era uma tempestade.

Foi num desses eventos que ele apareceu.

Um jantar formal no Palácio Imperial, com embaixadores da Europa e representantes da antiga aristocracia. Um daqueles encontros que parecem saídos de filmes de época — champanhe, violino, sorrisos falsos e alianças invisíveis.

E foi lá que conheci Dom Miguel de Alcântara.

Alto.

Moreno.

Com olhos cinza que pareciam enxergar além da pose.

Filho de um duque espanhol, nascido em Portugal, criado entre castelos e internatos de elite. Uma relíquia da nobreza europeia, enviada especialmente para “fortalecer os laços entre reinos”.

E pelo jeito, entre corações também.

— Alteza — ele disse, curvando-se e beijando minha mão com perfeição assustadora. — Ou devo dizer… Isabela?

— Pode escolher — respondi, sorrindo educadamente.

— Prefiro Isabela. É mais verdadeiro. — Ele me olhou como quem vê algo raro. — E eu sou fã do que é real.

Conversamos por quase meia hora.

Sobre política, arte, cultura brasileira.

E, surpreendentemente, ele sabia muito sobre meu país. Mais do que alguns ministros daqui.

— Eu acredito no Brasil — ele disse. — E acredito em você.

Frase ensaiada? Com certeza.

Mas dita com uma calma perigosa.

Ele sabia seduzir com palavras.

O problema é que os olhos dele… não mentiam.

Quando a noite terminou, ele me ofereceu o braço.

Caminhamos até o jardim iluminado por lanternas douradas.

— Sei que deve estar cansada desses jogos — ele falou. — Mas eu vim aqui pra ser honesto. Não com a corte. Com você.

Parei. Encarei-o.

— Honesto como?

Ele chegou mais perto. Não o bastante pra me tocar, mas o suficiente pra fazer meu coração acelerar.

Mas não como com Henrique.

Era diferente.

Era perigoso.

— Dizem que você está envolvida com alguém. Um guarda. Um rival político. — Ele me olhou nos olhos. — Mas eu não sou desses que julga o passado. Eu sou alguém que constrói o futuro. Com você… se deixar.

Por um segundo, não consegui responder.

Ele sorriu.

— Boa noite, princesa. — E se afastou, deixando perfume e confusão no ar.

Voltei pro quarto com o coração pesado.

E o pior… quando abri meu celular, havia uma mensagem de Henrique.

“A corte não perde tempo, né?”

Só isso.

Sem emoji.

Sem explicação.

Sem saudade.

Apenas ciúmes disfarçados de ironia.

E eu?

Eu não sabia mais quem era meu perigo…

E quem era meu destino.