Capítulo 8 — Quando Se Ama em Silêncio
No dia seguinte, Henrique não apareceu.
Não nas reuniões.
Não no café da manhã com a equipe.
Nem mesmo no treino de protocolo diplomático, onde ele sempre ficava só pra me zoar quando eu errava os talheres.
Ele sumiu.
Tentei fingir que não doía.
Fingi que não reparei.
Mas o silêncio dele foi mais alto do que qualquer escândalo.
Fui atrás dele no fim do dia.
Atravessei o palácio como quem atravessa um campo de batalha — com a cabeça erguida e o coração em frangalhos.
Encontrei-o no terraço dos fundos.
De costas pra mim, encarando o céu nublado, como se buscasse alguma resposta entre as nuvens pesadas.
— Fugindo de mim? — minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
Ele virou devagar. O olhar abatido. As mãos nos bolsos.
— Não tô fugindo de você, Isabela. Tô tentando proteger você… de mim.
Aquilo me atingiu como um tapa.
— Que frase mais covarde, Henrique. Achei que a gente já tivesse passado disso.
Ele suspirou, caminhando na minha direção. Parou a um passo de distância.
Perto o bastante pra me alcançar, mas longe demais pra me tocar.
— Você viu a foto. — Ele desviou o olhar. — Se isso vaza, você perde tudo. As terras. O título. O respeito. O apoio do povo. E tudo por causa de mim.
— Você acha que eu me importo mais com a coroa do que com o que sinto?
— Não. — Ele respondeu. — Mas eu me importo com o que vão fazer com você. Com o que vão dizer. E se eu tiver que sumir pra te proteger… eu sumo.
Meus olhos arderam. A vontade de chorar crescia na garganta como um nó.
— Eu não quero que você suma.
— Então me manda ficar. — ele disse. — Diz que vale a pena. Mesmo que a gente perca tudo.
Olhei pra ele. Pra aquele homem que entrou na minha vida como um rival político… e virou o único lugar onde meu coração se sente seguro.
Mas eu hesitei.
Por um segundo.
E aquele segundo foi suficiente.
Henrique deu um passo atrás.
— É isso. — Ele sorriu, mas o sorriso era triste. — Já entendi.
— Henrique… — dei um passo na direção dele. — Não faz isso.
— Você vai ser uma rainha, Isabela. E rainhas… não podem ter pontos fracos.
Ele virou e saiu.
Dessa vez, de verdade.
E eu fiquei ali. No terraço.
Com o gosto do adeus ainda grudado no céu da boca.