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Entre Ecos e Mentiras

[PERSPECTIVA DE ELIAN]

As imagens da minha irmã continuam girando na minha mente como vidro quebrado. Fragmentos que brilham e cortam. Eu não consigo mais distinguir o que vi do que imaginei, mas sei de uma coisa: ela estava ali. Ou uma parte dela.

A fenda me devolveu ao nosso mundo com um estalo — como acordar de um sonho molhado de suor e medo. Estou de volta à estação de trem, mas ela está vazia. A mesma hora congelada no relógio digital. Os mesmos cartazes rasgados e trilhos escurecidos pela ferrugem. Mas algo mudou.

Eu mudei.

Meus sentidos estão mais aguçados. Eu ouço coisas que não devia ouvir. Vozes sussurrando em línguas esquecidas. Nomes que ninguém diz em voz alta. E entre elas, uma voz mais familiar: a dela.

“Você está mais perto do que pensa, Elian… mas cuidado com quem conta as verdades.”

[NO APARTAMENTO DE LINA]

Eu não queria ver ninguém. Mas se há alguém que pode me ajudar a juntar os pedaços, é Lina. Ela me recebe de cara fechada e olhos cansados, mas sem perguntas. Só me oferece chá e silêncio. E, às vezes, isso diz mais que mil palavras.

Lina:

“Você entrou, não foi?”

Eu não respondo de imediato. Ela não precisa da confirmação. Ela sente. Talvez sempre tenha sentido.

Eu:

“O Guardião me mostrou coisas… não sei se eram lembranças ou ilusões.”

Lina:

“Dentro do Cisma, é tudo a mesma coisa. Ilusão é só uma verdade que ainda não aconteceu.”

Ela parece saber demais. Pela primeira vez, eu me pergunto se Lina já atravessou alguma fenda também. Mas eu não pergunto. Ainda não.

[O MAPA DOS ESQUECIDOS]

Lina me leva até um cômodo escondido no fundo de sua casa. Uma sala coberta por anotações, rabiscos, diagramas e fotos queimadas. No centro, um grande painel — um mapa da cidade, com marcas de energia, cruzes vermelhas, datas e nomes. E ao redor dele, palavras que se repetem:

“Ressonância.”

“Ecos.”

“O Vazio Fala.”

“Ele está chegando.”

Eu:

“O que é tudo isso…?”

Lina:

“Registros das pessoas que desapareceram. Todas foram vistas pela última vez perto de alguma anomalia.”

Ela aponta para um ponto marcado com uma fita preta. Um prédio abandonado no setor norte da cidade.

Lina:

“Hoje cedo, um grupo entrou nesse prédio. Foram atraídos por vozes. Só um voltou. Está… diferente.”

[O SOBREvivente]

O tal sobrevivente está em uma cela improvisada nos fundos da delegacia. A polícia não sabe o que fazer com ele — fala línguas que ninguém entende, olha fixamente para o teto, não come, não dorme. Lina usa um contato para me deixar vê-lo.

Eu me aproximo devagar.

Eu:

“Você entrou numa fenda?”

Nada. Ele não pisca. Até que, de repente, ele sussurra:

Sobrevivente:

“Ele nos viu. Ele está acordando…”

Eu:

“Ele quem?”

Sobrevivente:

“O que sente… o que quer… libertar.”

Ele agarra meu braço com força sobre-humana. Seus olhos se voltam direto para os meus.

Sobrevivente:

“Elian… você é a porta. E o selo.”

[A REVELAÇÃO]

A cela treme. Só por um segundo. Mas é o suficiente. O chão racha levemente sob os pés do homem. Uma fenda tenta se formar… e se fecha logo depois. Como se algo tivesse recuado. Como se alguém tivesse olhado para dentro dele e visto algo… incompleto.

Lina me puxa para longe. O homem perde a consciência logo depois.

Lina (baixa):

“Você viu isso, não viu?”

Eu:

“Ele me chamou de… selo. O que isso quer dizer?”

Lina:

“Que você está mais envolvido do que imaginava.”

Ela hesita.

Lina:

“Talvez… até mais do que sua irmã.”