[PERSPECTIVA DE ELIAN]
Quando pisei dentro da fenda, pensei que fosse ser engolido pelo vazio. Mas ao invés disso, o que encontrei foi um mundo paralelo, uma dimensão que parecia estar em ruínas, onde tudo estava distorcido e fragmentado, como um espelho quebrado. As ruas, as construções, os rostos das pessoas — tudo parecia estar se desintegrando lentamente, como se o espaço e o tempo estivessem sendo corroídos por algo invisível.
O ar era denso, frio. E, ao contrário do mundo lá fora, o silêncio era absoluto. O som de minha respiração era amplificado, e cada passo parecia pesar, como se a própria realidade estivesse me testando, me desafiando a continuar. Era como se eu estivesse em um lugar entre os mundos, onde a linha entre o real e o imaginário fosse tênue, quase inexistente.
Eu:
O que é isso?
Mas eu já sabia a resposta. Eu estava dentro do Cisma, o lugar onde a realidade se desfaz e tudo pode acontecer. Onde as fendas não são apenas buracos no espaço — são portais para o inconsciente coletivo, lugares onde os medos, os desejos e as lembranças se misturam. Cada pessoa que entra, cada mente que atravessa, deixa uma marca nesse mundo. E eu não sabia se essa marca era algo que eu iria deixar ou absorver.
Eu continuo caminhando. Meu instinto me guia, me empurrando para frente, como se alguma força invisível estivesse me forçando a continuar. Eu não sei o que vou encontrar, mas a sensação de que algo ou alguém está me observando me faz acelerar o passo.
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[A FENDA DO GUARDIÃO]
Após alguns minutos, eu chego a uma grande praça, cercada por altos edifícios que parecem estar se desintegrando. No centro da praça, há uma figura — um homem, vestido com uma capa negra e uma máscara, de costas para mim. Ele parece estar esperando por alguém, mas, ao mesmo tempo, sua postura rígida indica que ele está em guarda.
Homem mascarado:
“Você veio.”
A voz dele é baixa, mas carrega uma autoridade inquietante. Eu não posso explicar, mas, ao ouvir aquelas palavras, sinto como se estivesse sendo julgado. Como se minha presença nesse mundo fosse uma violação. A fenda atrás de mim ainda brilha fraca, mas eu sei que não posso voltar para o mundo real sem entender o que está acontecendo aqui.
Eu:
“Quem é você? O que é esse lugar?”
Ele se vira lentamente, revelando a máscara que cobre seu rosto. Seus olhos são penetrantes, frios, como se ele já soubesse tudo o que estou pensando. Como se tivesse visto milhares de pessoas entrar nesse lugar antes de mim e tivesse se cansado de esperar algo novo.
Homem mascarado:
“Eu sou o Guardião do Cisma. E você não é o primeiro a chegar aqui, nem será o último. As fendas não são para qualquer um. Você não deveria estar aqui.”
Eu:
“O que são as fendas? O que aconteceu com minha irmã?”
A pergunta sai impulsivamente, sem pensar. Eu tenho que saber. Eu tenho que entender o que aconteceu com ela. Eu sei que a resposta está aqui. No entanto, o Guardião apenas me observa em silêncio, como se estivesse avaliando minha intenção. Ele não parece ansioso para responder.
Homem mascarado:
“Você ainda não compreendeu o suficiente, Elian. Este lugar não é apenas sobre o que você perdeu, mas sobre o que pode perder. Cada fenda é uma escolha. Mas nem todas as escolhas têm retorno.”
Eu não entendo. Ele fala como se soubesse exatamente o que está acontecendo comigo, como se soubesse o que minha mente está tentando evitar. E isso me incomoda. Eu não quero ser apenas mais uma pessoa que se perde nesse lugar. Mas o Guardião não me dá tempo para questionar mais. Ele começa a caminhar, me convidando a segui-lo.
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[O CAMINHO DOS FRAGMENTOS]
Nós caminhamos por um caminho estreito, cheio de escombros e sombras. Não há mais pessoas aqui, apenas vestígios de outras realidades que foram esquecidas. O Guardião me leva até uma grande porta de ferro enferrujada, que parece estar vibrando com uma energia estranha. Ele coloca a mão na porta e ela se abre lentamente, revelando uma sala escura, iluminada apenas por luzes pulsantes que flutuam no ar.
Dentro da sala, há uma grande esfera flutuante no centro — uma espécie de núcleo de energia, que brilha com uma luz intensa e fria. O Guardião se aproxima e, com um gesto sutil, a esfera começa a se distorcer, projetando imagens e fragmentos de memórias no ar.
Eu vejo cenas que não reconheço, mas que parecem estranhamente familiares. Pessoas que não existem, mas cujos rostos estão gravados na minha mente. Minha irmã, ela aparece, mas está diferente. Sua figura está distorcida, como se estivesse sendo arrastada por algo invisível. Eu a vejo atravessando uma fenda, e depois… desaparecendo.
Eu tento avançar, mas o Guardião me impede.
Homem mascarado:
“Não é o momento, Elian. Essas imagens não são para você agora.”
Eu hesito, confuso. Não entendo. Por que ele está me mostrando isso? Por que minha irmã está ali, no centro de tudo isso? O Guardião olha para mim, como se soubesse o que estou pensando.
Homem mascarado:
“Essas fendas têm um preço, Elian. E você já pagou muito. O que você está buscando, e o que você vai encontrar, pode te consumir de maneiras que você ainda não compreende.”
Eu não respondo. O medo começa a tomar conta de mim. Será que minha irmã se perdeu aqui? Será que, ao procurar por ela, eu também estou me perdendo?