Capítulo 2 -O peso de um nome

Capítulo 2 – O Peso de Um Nome

Desde o dia em que fui dada a Nabal como esposa, compreendi o que significava ser prisioneira de uma casa ampla. Os servos o chamavam de senhor. Os homens da cidade o temiam. E eu… eu apenas o suportava.

Meu nome, Abigail, significa "alegria do pai", mas minha vida com Nabal era tudo, menos isso. Não havia alegria. Havia silêncio.

Logo ao chegar à sua casa como esposa, percebi que não era vista como uma companheira, mas como uma posse. O olhar de Nabal era o de um homem que mediria minha utilidade pelos jantares que eu organizava e pelos filhos que talvez lhe desse, não pelas palavras que eu dizia.

Ele era um homem poderoso na região do Carmelo, dono de milhares de ovelhas e cabras. Sua riqueza se espalhava como os ventos da primavera — vasta, espalhada e arrogante. E, no entanto, por dentro, sua alma era árida.

Eu tentava honrá-lo. A cada manhã, levantava cedo para coordenar os servos. A cada noite, orava ao Deus de Israel por paciência, por paz, por misericórdia.

Mas com o passar dos meses, compreendi: Nabal era insensato. Seu nome, ironicamente, significava "tolo". E ele honrava bem esse nome.

Certa vez, ao receber visitantes vindos de Hebrom, recusou-se a oferecer água, pão ou descanso. "Por que devo alimentar quem nada me traz?", ele dizia, enquanto as tradições de nosso povo clamavam por hospitalidade. O que me feria não era apenas sua grosseria — era o peso que caía sobre mim, pois todos olhavam para mim como se eu pudesse fazer diferente. Mas o que pode uma mulher, sem voz diante de um homem que se orgulha da própria dureza?

Nabal não consultava a ninguém. Nem a mim. Nem aos anciãos. Muito menos a Deus.

Mesmo assim, eu escolhi calar. A sabedoria não grita — ela observa. Ela espera o tempo certo para falar, e esse tempo ainda não havia chegado.

E foi assim que continuei, dia após dia, entre tecelagens, orações e olhares para o deserto. Às vezes eu me perguntava: "Será que o Senhor me vê? Será que Ele se lembra de mim?"

E então, chegou o tempo da tosquia.

Era comum entre os donos de rebanho fazerem grandes festas quando as ovelhas eram tosquiadas. Era o tempo da abundância, da colheita de lã, de gratidão. Mas para Nabal, era apenas mais uma desculpa para vangloriar-se.

Ele reuniu seus servos, ergueu barris de vinho, assou carne em excesso e gritou aos céus que nenhum homem era tão próspero quanto ele.

Foi nessa época que ouvi falar de Davi.

Os servos murmuravam: "Ele está perto", "Acampado no deserto", "Com seus homens", "Protegendo rebanhos".

Davi, o homem ungido por Deus. O fugitivo de Saul. O guerreiro cantado em canções: "Saul matou seus milhares, mas Davi, seus dez milhares".

E meus ouvidos se aguçaram. Eu conhecia as histórias. Sabia que ele não era um bandido, mas um escolhido. Um líder forjado em exílio, não em tronos.

Então, certo dia, um servo se aproximou de mim apressado. Tinha os olhos arregalados e a voz tremendo.

— Minha senhora, mensageiros de Davi vieram… pediram comida, em nome da paz. Eles têm guardado nossos pastores por semanas. Nenhuma ovelha foi perdida. Nenhum homem ferido. Foram como muralhas ao nosso redor… mas Nabal os expulsou com palavras duras.

Meu coração apertou.

— O que ele disse? — perguntei.

— Que não conhecia esse tal Davi… que muitos servos hoje fogem de seus senhores… que ele não daria pão de sua mesa a qualquer andarilho do deserto.

Fechei os olhos. A tolice tinha falado mais alto, outra vez.

Mas dessa vez, o preço seria alto. Eu sabia o que significava desonrar Davi — não era apenas uma ofensa. Era uma provocação a um homem ferido, exilado, cercado de soldados. Um homem que, se desejasse, poderia vir e destruir tudo.

Ali, meu silêncio já não era mais sabedoria. Era covardia. Era omissão.

Senti o peso do momento cair sobre mim como o calor do sol do meio-dia. Se eu não agisse, sangue inocente seria derramado. E o nome do meu Deus seria envergonhado por causa da estupidez de um homem que só pensava em si mesmo.

Levantei-me sem dizer palavra a ninguém. Meus pés sabiam o caminho dos depósitos. Minhas mãos não tremiam ao escolher os melhores pães, os vinhos puros, os figos secos, os cordeiros preparados.

Preparei tudo em silêncio. Mas dentro de mim, uma tempestade crescia.

Não mais por mim. Mas por todos os que eu podia proteger.

Enquanto os servos amarravam os jumentos e enchiam as cestas, meu coração orava:

"Senhor dos Exércitos, guia meus passos. Dá-me palavras que desarmem a fúria. E se for esta minha hora, que eu a enfrente com honra."

E assim começou minha jornada. Não para fugir de Nabal, mas para enfrentar algo muito maior: um destino que só Deus poderia traçar.