Suficiente

— Você não disse que já tinha organizado tudo? Então o que aconteceu hoje? — Spencer rosnou enquanto voltavam para casa no carro.

Melanie olhava pela janela, observando as luzes da cidade passarem embaçadas, sua expressão impassível enquanto o ouvia.

— Você tinha um trabalho! Um trabalho! — ele continuou, sua voz se elevando. — Garantir que tudo estivesse pronto para o meu retorno para que eu pudesse assumir meu lugar de direito sem problemas. E ainda assim, você nem conseguiu fazer isso! Você me decepcionou, Melanie!

Decepcionou ele?

Ela soltou uma respiração lenta e controlada, forçando-se a não reagir. Que piada.

Ela o estava ignorando, com o foco voltado para dentro. Seria possível que ela realmente tivesse desligado todos os seus sentimentos por Spencer em um dia? Nesta mesma hora ontem, ela estava na cozinha, cuidadosamente cobrindo o bolo favorito dele com glacê, ansiosa para recebê-lo de volta em casa.

Mas agora?

Agora, ela quase desejava poder empurrá-lo de volta para qualquer avião que o tivesse trazido para casa.

Ela passou três anos convencendo a si mesma de que importava para ele, que o casamento deles foi construído sobre uma base sólida de amor e respeito. Que mesmo tendo havido desentendimentos pelo caminho, uma vez que ele voltasse, eles seriam capazes de se comunicar melhor. Mas olhando para ele agora — para o puro egoísmo em suas palavras, a maneira como ele a via não como uma parceira, mas como um degrau para suas próprias ambições — ela percebeu que tinha sido desesperadamente, dolorosamente cega.

Um pequeno sorriso sem humor puxou seus lábios. A cortina finalmente caiu. E a parte mais irônica? Ela tinha sido a atriz principal nesta peça trágica e, no entanto, nunca soube qual era seu próprio papel. Ela pensou que ele era seu príncipe encantado quando na verdade era o vilão.

Azar para Spencer, ela não era uma pobre donzela indefesa. Ela era uma pessoa paciente cujos limites acabavam de ser atingidos. Ela não deixaria as coisas passarem tão facilmente.

Enquanto pensava nisso, ela não pôde deixar de se perguntar. Ela se perguntava como Adam havia adivinhado sua intenção de tentar impedir que o conselho fizesse de Spencer o próximo presidente.

Ela balançou a cabeça levemente. Não. Adam Collins não era o tipo que agia baseado em suposições. Ele deve ter tido suas próprias razões para intervir, para forçar o conselho a adiar sua decisão. Talvez fosse pessoal, talvez fosse estratégico. De qualquer forma, não importava.

Porque o resultado era o mesmo — ela havia recebido um adiamento.

Meses. Ela passou meses meticulosamente convencendo os diretores a dar uma chance a Spencer, a confiar em sua liderança, a acreditar em sua suposta visão. E em um único momento, com apenas algumas palavras, Adam havia varrido tudo isso.

E ela ainda estava satisfeita. E daí se tudo foi por água abaixo? Porque agora, com o que ela sabia, nunca teria querido apoiar Spencer também.

Mas mesmo enquanto pensava em tudo isso, tentando convencer a si mesma de que Adam estava agindo por conta própria e não por ela, ela não podia deixar de pensar no que ele havia dito, pouco antes de deixar a grande sala de conferências. "Espero que esteja satisfeita com este resultado. Você continuará sendo a presidente pelo próximo ano."

Ela foi tirada de seus devaneios quando Spencer a sacudiu pelo braço, — Você está me ouvindo?

O olhar de Melanie voltou-se para Spencer, sua expressão desprovida de emoção. Os dedos dele se cravaram em seu braço, seu aperto implacável, seu rosto contorcido de frustração.

— Você está me ouvindo? — ele exigiu rispidamente.

Ela não se encolheu nem desviou o olhar como teria feito em qualquer outro momento. Ela não gostava de confrontos e os teria evitado a qualquer custo, mas agora... tudo o que ela queria era uma briga. E ainda assim, ela lentamente afastou os dedos dele de seu braço e virou-se para encará-lo completamente e falou com uma voz fria, — Solte.

Ele hesitou, surpreso com a frieza em seu tom.

— Eu disse — solte, Spencer.

Não havia raiva em sua voz, e ela estava feliz por isso. Porque, se deixasse sair, certamente choraria.

O aperto dele afrouxou enquanto ele a olhava chocado, e ela libertou seu braço, limpando a sensação persistente do toque dele como se não fosse nada além de poeira em sua manga.

Ela se mexeu ligeiramente em seu assento e gesticulou em direção à frente do carro onde seu querido melhor amigo e o motorista estavam sentados, ouvindo. — Não tenho intenção de discutir assuntos pessoais na frente de estranhos. Podemos conversar depois.

Spencer olhou furiosamente para ela, seu orgulho ferido, sua voz afiada com irritação. — Hallie não é uma estranha — ela é —

Melanie já tinha o suficiente.

Momentos atrás, entrar em seu próprio carro tinha sido um incômodo porque ela teve que pedir à senhorita Hallie para sair de seu lugar. E agora isso? Spencer tinha a audácia de considerar Hallie como família enquanto a repreendia na frente de todos?

Sua paciência se esgotou.

— Pare o carro — ela ordenou ao motorista.

O motorista obedeceu imediatamente, parando suavemente.

Melanie virou-se para Spencer, enfrentando seu olhar furioso com uma expressão calma e distante. — Já que Hallie é um membro tão querido da família para você, você pode ir para casa com ela. Eu irei mais tarde.

Antes que ele pudesse proferir um único protesto, Melanie abriu a porta e saiu.