Sara
No caminho para casa, não paro de pensar nas mãos de Matthew no corpo de Lola. Meus dedos se contraem no meu colo, as unhas cravando nas palmas das mãos. Não sei como me controlei para não bater nele e depois nela.
Matthew está sentado ao meu lado, uma estátua esculpida em gelo e pedra. O silêncio se estende entre nós, denso e sufocante. Quero gritar, quebrar esse silêncio frágil, mas as palavras ficam presas na minha garganta.
"Bela gola alta." A voz zombeteira de Matthew quebra o silêncio. "Você pegou emprestado do túmulo da sua avó?"
Ele está falando sério agora?
Viro-me para encará-lo. "Na verdade," digo, minha voz surpreendentemente calma apesar da tempestade que se agita dentro de mim, "estou usando esta gola alta para esconder as marcas que você deixou no meu pescoço ontem à noite. Fui ver o Papai hoje. Você preferia que eu as exibisse para ele?"
O maxilar de Matthew se contrai, um músculo pulsando sob sua pele. Seus olhos escurecem, e vejo um lampejo de algo. Arrependimento, talvez?
"Não dou a mínima," ele cospe, suas palavras impregnadas de veneno. "Mostre para ele, não mostre para ele. Não faz diferença para mim."
Sinto uma dor familiar no peito, mas a reprimo. Não vou deixar que ele veja o quanto suas palavras me machucam.
Matthew se mexe em seu assento, um sorriso cruel brincando em seus lábios. "Sabe, Lola é uma ótima animadora," ele diz, sua voz pingando malícia. "Ela sabe como agradar um homem, ao contrário de algumas pessoas que conheço."
Cravo minhas unhas nas palmas das mãos, me forçando a manter a compostura. Ele está tentando me provocar, me fazer explodir ou desmoronar. Não vou dar a ele essa satisfação.
"Ela tem esse movimento," ele continua, seus olhos brilhando com crueldade calculada, "onde ela—"
"Já chega, Matthew," interrompo, minha voz firme apesar do tremor nas minhas mãos. "Não estou interessada nos detalhes sórdidos da sua noite."
Ele ri, um som áspero e irritante que me causa arrepios na espinha. "Ah, mas eu acho que você está, Sara. Acho que você está morrendo de vontade de saber cada coisinha que fiz com ela. Está te corroendo por dentro, não está?"
Respiro fundo. "Na verdade, Lola parece ser uma garota legal," digo, com voz calma e controlada.
As palavras têm gosto de cinza na minha boca, mas forço um pequeno sorriso. Não vou deixar que ele veja o quão profundamente suas farpas me cortaram.
Os olhos de Matthew se estreitam, seu maxilar se contraindo. Por um momento, a surpresa passa por seu rosto antes de ser substituída pela irritação. Ele não esperava essa reação, e posso ver que isso o desequilibrou.
"Ah, é mesmo?" ele rosna.
Dou de ombros, mantendo minha compostura. "Sim. É mesmo."
Sua expressão endurece e ele desvia o olhar.
De repente, ele pergunta, "Quão ruins elas estão?"
"O quê?" Pisquei, pega de surpresa pela mudança abrupta de assunto.
"As marcas," ele esclarece, sua voz áspera. "No seu pescoço. Quão ruins elas estão?"
Engulo em seco. "Por que você se importa?" pergunto.
"Não me importo," ele responde.
Silêncio novamente.
"Por que você me beijou lá atrás?" pergunto a ele.
Os olhos de Matthew se voltam para os meus. Prendo a respiração, esperando sua resposta, meu estômago se contorcendo.
Finalmente, os lábios de Matthew se curvam em um sorriso sardônico. "Beijar você?" ele zomba, sua voz pingando sarcasmo. "Não se iluda, princesa. Mal foi um beijo. Mais como... controle de pragas."
"Isso não é uma resposta," insisto, minha voz suave mas firme. "Por que você fez isso?"
"Por que isso importa?" ele escarnece, sua voz dura. "Tentando construir alguma fantasia romântica nessa sua cabecinha bonita? Desculpe estourar sua bolha, mas não significou nada. Apenas um momento de tédio, nada mais."
Respiro fundo, me preparando. "Certo. Claro," murmuro.
O carro para, e percebo que chegamos em casa. Sem mais uma palavra, Matthew sai tempestuosamente, batendo a porta atrás dele. Eu o sigo, minhas pernas trêmulas enquanto subo as escadas para nosso quarto.
Dentro, tiro minha gola alta, desesperada para escapar de seu abraço sufocante. Quando alcanço o vestido estendido sobre a cama, vejo Matthew no espelho. Ele está congelado na porta, seus olhos fixos em mim com uma intensidade que me faz prender a respiração.
Viro-me lentamente, encontrando seu olhar. Há algo diferente em sua expressão agora, uma fome que envia uma descarga de eletricidade pelo meu corpo.
"Estou apenas me trocando para o jantar," digo.
Matthew avança em minha direção, seus olhos nunca deixando os meus. Mantenho minha posição, coração acelerado enquanto ele para a centímetros de distância. Sua mão se estende, a ponta do dedo traçando o contorno da marca no meu pescoço. Estremeço involuntariamente, uma mistura de dor e algo mais. Algo que não quero nomear percorrendo meu corpo.
"Você vai contar a eles?" ele pergunta, sua voz baixa e perigosa. "Sobre estas?" Seu dedo pressiona um pouco mais forte, me fazendo ofegar.
Engulo em seco, tentando firmar minha voz. "Contar a quem?"
"Seus pais," ele esclarece, um sorriso cruel brincando em seus lábios. "Sobre as marcas. Eu não me importaria, sabe. Talvez valesse a pena uma temporada na prisão se isso significasse me livrar de você."
As palavras ferem, mas forço uma risada seca. "Nem pensar, Matthew," digo, encarando-o desafiadoramente. "Você não vai se livrar de mim tão facilmente."
Sua sobrancelha se arqueia, surpresa passando por seu rosto antes de ser substituída por aquela familiar máscara de desprezo. Viro-me de costas para ele, reunindo coragem antes de falar novamente.
"Fecha o zíper para mim?" peço, apontando para meu vestido.
Há um momento de silêncio tenso antes que eu sinta suas mãos nas minhas costas, dedos roçando minha pele enquanto ele puxa o zíper lentamente.
Fecho os olhos, tentando aproveitar seu toque. Ele nunca me tocará com tanta gentileza de propósito, eu sei disso. Bem que posso aproveitar esse breve momento de felicidade.
"Pronto," ele diz, sua respiração quente contra minha orelha. "Toda embrulhada como o presente que você pensa que é. Aquele que eu nunca pedi."
"Boa essa," digo secamente.
Ele sai, e fico sozinha, minha pele ainda formigando com seu toque.
~-~
Rapidamente apliquei corretivo e base na marca roxa no meu pescoço antes de cuidadosamente misturá-los. Então selecionei um colar delicado, sua corrente prateada brilhando sob a luz do banheiro, e o prendi ao redor do meu pescoço. Passo bastante batom vermelho para esconder a marca de mordida recente deixada no meu lábio inferior. Será que essa vai ser minha vida agora? Cobrindo hematomas e cortes deixados por Matthew.
Você fez isso consigo mesma, meu eu interior grita para mim.
Com um suspiro profundo, forço um sorriso para meu reflexo no espelho, determinada a esconder qualquer traço de dor ou tristeza.
Meu pai está prestes a se aposentar, e não suporto a ideia dele se preocupar comigo antes de partir para seu merecido descanso. Eu faria qualquer coisa para esconder as marcas e fazer meu pai acreditar que tudo estava bem.
"Ah, aí está ela," meu pai diz, sua voz retumbante enquanto me aproximo da mesa deles. "Venha aqui, Sara. Sente-se ao meu lado."
Sorrio radiante e permito que Matthew puxe uma cadeira para mim.
A mão de Matthew permanece no encosto da minha cadeira por uma fração de segundo a mais enquanto me sento. Meu pai não percebe a tensão irradiando entre nós. Ele está ocupado demais servindo vinho na minha taça, seu sorriso orgulhoso aquecendo a atmosfera apesar do gelo agarrado ao meu interior.
"Como vai o trabalho, Matthew?" Papai pergunta, seu tom jovial.
Os lábios de Matthew se curvam no tipo de sorriso educado que ele reserva para ocasiões como esta. "Ocupado, como sempre. Mas gosto do desafio," ele responde suavemente.
Papai acena com aprovação. "Bom, bom. Um homem que trabalha duro é um homem digno de respeito. Suponho que Sara já lhe contou as boas notícias."
"Sim, ela contou. Acho que isso significa que ela se tornará minha chefe," Matthew diz secamente.
"Ah, não veja dessa forma, querido." Minha mãe ri levemente, seus olhos cintilando com um divertimento condescendente que faz meu estômago se contrair. "Você sabe que nossa Sara nunca foi particularmente hábil em assumir o comando."
Obrigada pelo apoio, Mamãe, penso sarcasticamente.
Ela toma um gole delicado de seu vinho antes de continuar. "Uma vez ela tentou organizar aquele evento beneficente no ensino médio? O buffet nunca apareceu, as decorações eram uma bagunça, e a pobre Sara estava correndo como uma galinha sem cabeça tentando salvar a situação. Acredito que você será quem realmente comandará a empresa, Matthew."
Sinto minhas bochechas queimarem de humilhação. Deixe para minha mãe minimizar tudo o que faço. Olho para Matthew, esperando ver uma satisfação presunçosa em seu rosto, mas, em vez disso, sua expressão é indecifrável.
"E depois teve aquela vez em que ela tentou liderar aquele projeto em grupo na faculdade," minha mãe continua, alheia ao desconforto que suas palavras estão causando. "Ela tinha ideias tão grandiosas, mas no final, seus colegas de equipe tiveram que intervir e assumir o controle. Nossa Sara simplesmente não tem aquela qualidade natural de liderança, receio."
Ela estende a mão e dá tapinhas na minha. "Mas tudo bem, querida. Nem todo mundo é talhado para tais papéis. Tenho certeza de que você se sairá bem trabalhando sob a orientação de Matthew."
Meu pai pigarreia, sua testa franzida com preocupação. "Ora, ora, Evelyn," ele diz gentilmente, "tenho certeza de que Sara se destacará em sua nova posição. Ela é uma garota brilhante com muito potencial."
Mas minha mãe apenas acena com a mão de forma dismissiva, como se as palavras do meu pai não fossem mais que uma mosca irritante a ser espantada. "Claro, Charles. Não estou dizendo que ela não se sairá bem. Só estou apontando que liderança nunca foi seu ponto forte. Mas tenho certeza de que Matthew estará lá para ajudá-la no caminho, não é, querido?"
Ela volta seu olhar para Matthew, seus olhos brilhando com um olhar conhecedor que me faz arrepiar. Não suporto ver sua reação, então me concentro no padrão intrincado da toalha de mesa, traçando os redemoinhos e laços com meus olhos.
"Farei o que for necessário para apoiá-la," Matthew responde, sua voz suave e uniforme. "E não tenho dúvidas de que Sara administrará tão bem quanto Charles."
Arrisco um olhar para ele, surpresa com suas palavras. Por um momento, nossos olhos se encontram, e vejo algo cintilar em suas profundezas - um indício de compreensão, talvez até simpatia. Mas desaparece tão rapidamente quanto surgiu.