Sara
Enquanto a conversa muda para assuntos mais mundanos, percebo minha atenção se dispersando. Tomo um gole do meu vinho, esperando que alivie a tensão no meu peito.
É então que noto Matthew olhando para algo. Sigo a direção do seu olhar e então a vejo.
Ela está sentada em uma mesa perto da parede distante, uma visão em um vestido verde-esmeralda justo que destaca suas curvas nos lugares certos. Seu cabelo, um tom vibrante de vermelho, cai em ondas soltas ao redor dos ombros.
Mas não é sua beleza que faz minha respiração parar na garganta. É a maneira como Matthew está olhando para ela, seu olhar cheio de desejo e intensidade com os quais estou muito familiarizada.
O reconhecimento me atinge como um golpe físico, roubando o ar dos meus pulmões.
Amanda. A ex-namorada de Matthew. Aquela que se foi por minha causa.
E agora ela está aqui, a poucos metros de distância.
Sinto-me enjoada, uma onda de náusea que não tem nada a ver com a comida rica ou o vinho. É como se o chão sob mim tivesse subitamente se deslocado.
Minha mãe está dizendo algo, sua voz um zumbido distante nos meus ouvidos. Concordo com a cabeça, um sorriso plástico fixo no meu rosto, mas por dentro, estou gritando. Quero agarrar Matthew pelos ombros e sacudi-lo até que ele olhe para mim, realmente olhe para mim.
Mas não posso fazer isso.
Os olhos de Matthew permanecem grudados em Amanda, seu maxilar se tensionando ligeiramente enquanto ela se inclina mais perto do homem sentado ao lado dela.
Sua mão, casualmente apoiada na mesa, de repente se fecha em um punho. Ele está com raiva, percebo.
Amanda diz algo para seu acompanhante, levanta-se e se afasta.
"Com licença, preciso ir ao banheiro," Matthew diz abruptamente e se levanta também.
Ele vai vê-la, penso comigo mesma.
O pânico borbulha dentro de mim, mas mantenho minha expressão neutra. Meus pais ainda estão envolvidos na conversa, completamente alheios.
"Claro," minha mãe diz distraidamente.
Seguro minha taça de vinho, meus dedos embranquecendo enquanto o observo se afastar, seus movimentos determinados e tensos. Não preciso segui-lo para saber para onde ele está indo, mas a ideia de ficar sentada aqui enquanto ele a procura é insuportável.
"Com licença," digo rapidamente, empurrando minha cadeira para trás quando ele não volta nos próximos dois minutos.
Meu pai olha para mim, franzindo a testa. "Sara, está tudo bem?"
Forço um sorriso tranquilizador. "Só preciso de um momento. Preciso ir ao banheiro feminino."
Antes que ele possa insistir, viro-me e sigo em direção aos banheiros, meu coração batendo forte no peito.
Enquanto me apresso pelo corredor, uma sensação de pavor se instala no fundo do meu estômago.
Dobro a esquina, minha respiração presa na garganta ao avistá-los. Matthew e Amanda estão a poucos centímetros de distância, seus corpos inclinados um para o outro de uma maneira que fala de intimidade e familiaridade.
A mão de Matthew se move para cima, e ele acaricia o rosto dela, e eu me contenho para não gritar com eles.
Meu peito aperta dolorosamente enquanto observo a cena diante de mim. A mão de Matthew permanece contra a bochecha de Amanda, e ela se inclina levemente ao seu toque, seus olhos brilhando com lágrimas.
Eles ainda não me notaram, mas o corredor parece pequeno demais, o ar muito denso. Quero dar meia-volta e ir embora para me poupar da agonia de ouvir o que vem a seguir.
Mas não consigo. Meus pés estão congelados no lugar, e meu coração está trovejando no meu peito, abafando qualquer pensamento racional.
Amanda fala primeiro, sua voz suave, mas clara no corredor silencioso. "Você não pode fazer isso comigo, Matthew. Não mais. Você está casado agora."
Matthew toma um fôlego afiado, deixando cair sua mão da bochecha de Amanda como se as palavras dela o tivessem machucado fisicamente.
"Eu entendo," ele diz, sua voz cheia de conflito. "Sei que você não acredita em mim, mas eu nunca quis isso. É por causa dela..."
"Não," Amanda interrompe bruscamente. "Você não pode culpar tudo na Sara."
A expressão de Matthew fica fria. "Mas é a verdade. Tudo o que aconteceu conosco é por causa dela. E agora, estou preso a ela. Eu a odeio tanto, Amanda."
Uma onda de gelo corre através de mim, entorpecendo meus sentidos e tornando impossível respirar. Eu o ouvi dizer o quanto me odiava antes. Ouvi repetidamente e, ainda assim, nunca fica mais fácil.
"Não importa se você a odeia ou não, Matt. O que está feito está feito e agora você está casado com ela. Agora, por favor. Deixe-me voltar para o meu encontro," Amanda diz e tenta afastá-lo.
Matthew agarra seus ombros. "Amanda, por favor..."
"Solte-a, Matthew," eu intervenho fracamente. "Este não é o momento nem o lugar."
No momento em que falo, tanto Matthew quanto Amanda congelam, seus olhos se voltando para mim. Mal consigo sustentar o olhar deles, meu coração batendo contra minhas costelas.
O rosto de Matthew se contrai, seus lábios se apertando em uma linha fina.
Amanda se endireita, ajeitando-se.
"Sara," ela começa, sua voz gentil, mas cortante, "sinto muito. Não vim aqui para causar problemas. Não sabia que nos encontraríamos." Ela gesticula levemente na direção de Matthew.
Mal consigo respirar enquanto olho para ela.
Matthew finalmente fala, sua voz rouca. "Não peça desculpas a ela, Amanda. Sara sabe que sempre será a outra mulher, não você."
"O anel no meu dedo diz o contrário," eu argumento.
O olhar de Matthew cai para minha mão, demorando-se no diamante brilhante por um momento antes de olhar de volta para mim, seus olhos estreitados. "Um anel não significa nada, Sara. É apenas um pedaço de metal sem sentido."
Claro, ele diria isso. O que eu esperava?
Amanda se move desconfortavelmente, seus olhos saltando entre nós. "Eu deveria ir," ela murmura, dando um passo para trás. "Isso não é... Eu nunca quis que isso acontecesse."
"Não, fique," Matthew diz, sua mão disparando para agarrar o pulso dela. "Não terminamos aqui."
A raiva explode dentro de mim, quente e feroz. "Solte-a, Matthew," eu disparo, minha voz tremendo com raiva mal contida. "Você está aqui comigo."
Matthew me ignora, sua atenção totalmente focada em Amanda. "Só me diga uma coisa," ele diz, sua voz baixa e intensa. "Você ainda me ama? Você realmente parou alguma vez?"
Os olhos de Amanda se arregalam, e por um momento, vejo um lampejo de algo em suas profundezas - talvez saudade, ou arrependimento. Mas então ela puxa o pulso do aperto dele, dando outro passo para trás.
"Não posso fazer isso," ela sussurra, balançando a cabeça. "Sinto muito, Matthew. Mas tenho que ir."
Com isso, ela se vira e se apressa, seus saltos batendo contra o chão polido. Matthew a observa partir, seu maxilar cerrado e seus punhos fechados ao lado do corpo.
Eu fico ali. Quantas vezes mais meu coração pode sobreviver sendo despedaçado, eu me pergunto?
Finalmente, Matthew se vira para mim, seus olhos ardendo com uma fúria que me tira o fôlego. "Você se sente uma verdadeira vencedora, aposto," ele sibila, avançando sobre mim até que estou encostada na parede. "Se não fosse por você, Amanda e eu ainda estaríamos juntos. Seríamos felizes."
"Bem, eu venci porque você está comigo agora. Então acostume-se." Eu engasgo, lágrimas ardendo nos meus olhos.
Matthew bate a mão contra a parede ao lado da minha cabeça, me fazendo estremecer.
"Tanto faz. Vamos apenas terminar este jantar para que eu possa ir para casa," ele sibila, depois se afasta sem olhar para trás.
Tomo um momento para respirar antes de segui-lo. Hora de colocar uma cara feliz para o Papai novamente.
~-~
Assim que entramos em nossa casa, a fachada desmorona.
Matthew sobe as escadas sem dizer mais nada e eu o sigo, recusando-me a deixá-lo escapar.
"Você quase arruinou tudo, Matthew," declaro, minha voz tremendo com fúria mal contida. "E se meus pais tivessem visto você com ela? Tocando nela?"
Ele gira para me encarar, seus olhos brilhando perigosamente na luz fraca. "E se eles tivessem visto? O que mamãe e papai pensariam da preciosa filhinha deles então? Que ela nem consegue manter o marido interessado?"
Suas palavras parecem um golpe físico, tirando o ar dos meus pulmões.
"Isso não é justo," sussurro, odiando o tremor na minha voz.
"Eu nunca quis isso, nada disso! Você me prendeu neste casamento de fachada, e agora espera que eu faça o quê? Agradeça por isso?" Matthew ruge.
"Eu não te prendi," argumento, mas mesmo para meus próprios ouvidos, as palavras soam fracas e incertas. "Nós dois fizemos escolhas-"
"Não, você fez escolhas," ele interrompe, apontando um dedo para mim. "Você escolheu interferir na minha vida. Não sei por que preciso continuar te lembrando, Sara."
Ele se vira, seus ombros largos subindo e descendo com cada respiração irregular. Observo-o servir-se de uma generosa dose de uísque do decanter na mesa lateral. Ele bebe tudo em um gole rápido, depois serve outro.
"Você realmente me odeia tanto assim?" pergunto suavemente. "Por quanto tempo você vai me odiar?"
A mão de Matthew para no decanter, de costas para mim. "Pelo resto da sua vida miserável."
"Bem, eu não aceito isso!" grito. "Eu sou sua esposa agora, e você... você é meu marido, e você vai agir como tal!"
Matthew ri. "Minha esposa, hein? Deixe-me lembrá-la, querida. Você é minha esposa apenas no nome. Caso tenha esquecido. Nunca consumamos nosso casamento porque o pensamento de deitar com você me deixa enjoado."
"Pare," sussurro, minha voz quebrando. "Pare de dizer essas coisas."
Mas ele continua, implacável, seus olhos brilhando com cruel satisfação. "Pobre menininha rica, tão acostumada a ter o mundo entregue a ela em uma bandeja de prata. Bem, adivinhe, querida? Você pode ter me prendido nesta farsa de casamento, mas nunca terá meu coração. Isso sempre pertencerá à Amanda."
Algo se quebra dentro de mim, uma represa estourando após muita pressão. "Chega!" grito, empurrando-o com força. Ele tropeça para trás, surpresa piscando em seu rosto. "Estou tão cansada de você jogar ela na minha cara a cada oportunidade que tem! Eu sou sua esposa, Matthew. Eu! Não ela!"
"Minha esposa apenas no nome," ele zomba, recuperando o equilíbrio. "Um título que você me chantageou para ter. Mas você nunca será minha esposa onde realmente importa."
Raiva ardente corre através de mim, queimando a dor. "Eu sou sua esposa em todos os sentidos que importam," sibilo entre dentes cerrados. "E é hora de você começar a me tratar como tal."
Com um aperto feroz em seu rosto, esmago meus lábios contra os dele, canalizando toda a minha raiva e ressentimento no beijo.
Espero que ele me afaste, mas ele me beija de volta.