Onde Você Está?

Sara

"Sara? Fale comigo," Marishka diz, me sacudindo suavemente.

Eu olho para ela. "Nada. Não é nada que eu possa mudar agora. E eu prefiro não te contar," eu digo.

A verdade é que não quero que Marishka saiba. Marishka ainda me olha como quando eu era uma garotinha. Pura e inocente. Se ela souber das coisas que fiz para conseguir o que quero... ela ficará desapontada. Ela pode até começar a me odiar como Matthew faz.

Não suporto a ideia de decepcionar Marishka. Ela me amava. Possivelmente mais do que meus próprios pais.

"Por favor, Marishka," eu sussurro, minha voz falhando. "Apenas deixe pra lá. Eu posso lidar com isso sozinha."

A testa de Marishka se franze de preocupação, mas ela acena lentamente, respeitando meus desejos mesmo enquanto a preocupação se grava nas linhas de seu rosto. Ela me puxa para um abraço apertado, e por um momento, eu me permito afundar no conforto de seus braços, o calor de seu amor me envolvendo.

"Tudo bem, querida. Me conte quando estiver pronta, ok?" ela diz. "Você sabe que pode confiar em mim, não é?"

Eu aceno silenciosamente antes de me levantar. "É melhor eu ir me arrumar."

Ela franze a testa. "Se arrumar para quê?"

"Preciso ir ver o Papai na empresa. Ele quer transferir tudo antes de partir para a França," eu respondo.

Marishka se anima com isso. "Ah! Ele vai fazer isso hoje, é?"

Eu sorrio pela primeira vez. "Sim. Eu disse a ele que não havia pressa, mas ele diz que não pode esperar para me passar todas as responsabilidades e se aposentar em Paris."

Ela sorri. "Então é melhor você ir."

Eu subo para me vestir, mas quando fico na frente do espelho, congelo.

Há um hematoma feio se formando na minha garganta.

Fecho os olhos com força, mas a memória da noite passada atormenta minha mente, indesejada e vívida: o rosto bonito de Matthew transformado em uma máscara de fúria enquanto ele me estrangulava ontem à noite.

Escolho uma gola alta macia de cashmere. A gola alta esconde a feiura. Meu pai nunca pode saber como Matthew me machucou. Ele provavelmente terá um ataque cardíaco!

A viagem até o prédio da empresa é curta, então quando finalmente chego, respiro fundo e saio do carro.

Meu pai me recebe com um sorriso caloroso e um abraço. "Sara, minha querida, você está linda como sempre," ele diz, sua voz cheia de orgulho.

Forço um sorriso, tentando ignorar o aperto no peito. "Obrigada, Papai."

Ele se afasta e estreita os olhos. "O que há de errado?"

Solto uma risada nervosa. "Como assim? Não há nada de errado."

Meu pai estuda meu rosto atentamente, seus olhos procurando os meus. "Sara, eu te conheço melhor do que ninguém. Algo está te incomodando."

Desvio o olhar, incapaz de encarar seus olhos. "Não é nada, Papai. Nada para você se preocupar."

Ele franze a testa, não convencido. "Não minta para mim, Sara. Este é o dia depois do seu casamento. Você deveria parecer feliz, e no entanto..."

"Por favor, Papai... apenas... deixe pra lá, ok?" eu disparo.

Me arrependo de ser tão dura instantaneamente. Suavizo minha expressão, estendendo a mão para apertar a dele. "Desculpe, Papai. Não quis ser grosseira com você. Eu estou bem, de verdade."

Ele acena lentamente, seus olhos ainda cheios de preocupação. "Tudo bem, querida. Mas lembre-se, eu sempre estou aqui para você, não importa o quê."

Engulo o nó na garganta, forçando outro sorriso. "Eu sei. Obrigada."

Seguimos para o escritório dele.

"Aqui está, Sara. Os documentos da empresa. Já assinei tudo, e depois que você assinar, tudo será seu," ele diz, sua voz carregada de emoção.

Olho fixamente para os papéis. Esta é outra coisa que sempre quis. Então por que me sinto tão vazia por dentro?

"Tem certeza de que mereço isso, Papai?" sussurro.

"Claro que merece, Sara! Você é minha única filha. E tenho certeza de que com Matthew ao seu lado, você cuidará bem desta empresa," ele diz com firmeza.

Estremeço ao ouvir o nome de Matthew, meu coração se apertando dolorosamente. Se ao menos meu pai soubesse a verdade. Mas não posso suportar destruir suas ilusões, ver a decepção e preocupação nublar seus olhos.

"Obrigada, Papai," consigo dizer, minha voz pouco mais que um sussurro. "Farei o meu melhor para deixá-lo orgulhoso."

Com uma mão trêmula, pego a caneta, meus dedos tremendo enquanto assino meu nome na linha pontilhada.

"Parabéns, minha querida," meu pai diz, seu sorriso largo e genuíno. "Sei que você fará grandes coisas."

Aceno com a cabeça, sem confiar em mim mesma para falar. Os papéis ficam embaçados diante dos meus olhos, e pisco para afastar as lágrimas que ameaçam cair. Este deveria ser um momento de triunfo, de celebração, mas tudo o que sinto é uma dor vazia no peito.

Porque não tenho ninguém com quem compartilhar.

"Onde está Matthew? Esperava que vocês dois viessem juntos esta tarde," Papai pergunta.

"Ele... ele tinha alguns negócios para resolver," minto, forçando um sorriso frágil. "Você sabe como ele é ocupado."

Meu pai acena, aceitando minha explicação sem questionar. "Claro, claro. Bem, tenho certeza de que ele ficará emocionado ao ouvir as boas notícias."

Engulo em seco, minha garganta apertada. "Sim, tenho certeza que ficará," murmuro.

Meu pai bate palmas, seus olhos brilhando de empolgação. "Isso merece uma comemoração! Vamos jantar hoje à noite. Você, eu, sua mãe e Matthew."

De repente me sinto em pânico. "Hum... não sei se ele pode vir esta noite."

A expressão do Papai escureceu. "Por que não?"

Minha mente corre enquanto tento inventar uma desculpa.

"Ele... ele mencionou que tem que ver alguns amigos hoje à noite," digo.

Papai franze a testa, sua sobrancelha franzindo. "Sem você?"

"Hum... um velho amigo. Alguém que eu não conheço. Eu não ia com ele já que... hum... não conheço muito bem essa pessoa ainda," divago.

Papai me olha com desconfiança. "Certamente ele pode remarcar para ter um jantar de comemoração com sua nova esposa e sua família, Sara. Esta é uma ocasião especial. Quero que estejamos todos juntos para celebrar seu sucesso."

Aceno com a cabeça, engolindo o nó na garganta. "Vou falar com ele, Papai."

Ele sorri, seus olhos se enrugando nos cantos. "Veja se consegue. Se não, posso falar com ele por você."

"Não, não. Deixe comigo," digo rapidamente.

"Tudo bem. Bem, não vou te prender aqui mais. Este é apenas o dia depois do seu casamento. Tenho certeza de que Matthew vai querer você em casa," ele diz.

Se ao menos isso fosse verdade.

Saio do escritório dele com o peso do mundo nos ombros, meu estômago revirando de pavor.

Como vou convencer Matthew a vir para este jantar? Como posso sentar na frente dele, fingindo que está tudo bem quando os hematomas na minha garganta pulsam a cada respiração?

E para completar, Matthew anunciou que não estará em casa até a meia-noite esta manhã!

Respiro fundo enquanto pego meu telefone, meus dedos tremendo enquanto disco o número de Matthew. A linha toca uma, duas, três vezes antes que ele finalmente atenda.

"O que é, Sara?" ele dispara.

Estremeço com seu tom, meu coração afundando. "Eu... eu só estava me perguntando onde você está," digo suavemente, tentando manter minha voz firme.

"Eu te disse esta manhã que estou com amigos," ele responde impacientemente. Ao fundo, posso ouvir risadas e música, o tilintar de copos e o murmúrio de conversas.

"Quais amigos?" pergunto hesitante, temendo a resposta.

Há uma pausa, e posso praticamente ver a raiva brilhando nos olhos de Matthew. "Não é da sua maldita conta."

Engulo em seco, minha garganta apertada. "Eu só... pensei que talvez você pudesse voltar para casa mais cedo hoje. Meu pai quer que tenhamos um jantar de comemoração juntos. Ele acabou de transferir a empresa para mim e-"

"Oh, parabéns-porra-pra-você, Sara," Matthew interrompe, sua voz pingando sarcasmo. "Bem, estou muito feliz por você, mas tenho planos. Não vou largar tudo só porque o papaizinho querido estala os dedos."

Lágrimas ardem em meus olhos, e eu as afasto furiosamente. "Por favor, Matthew. Isso é importante para mim. Para nós. Você não pode apenas-"

"Não, não posso," ele me corta novamente, seu tom definitivo. "Não estou com vontade de brincar de família feliz com você e seus pais esta noite. Você terá que dar minhas desculpas."

"Mas Matthew-"

A linha fica muda antes que eu possa terminar minha frase.

Que se dane. Não vou simplesmente aceitar isso.

Ligo para ele novamente.

"O QUÊ?" ele late do outro lado da linha.

"Onde você está, Matthew? Se você não está vindo para casa, vou buscá-lo," declaro.

"Nem ouse!" Matthew rosna ao telefone. "Eu te disse, tenho planos. Não sou seu maldito cachorrinho, Sara. Você não pode simplesmente me dar ordens."

Seguro o telefone com mais força, meus dedos ficando brancos. "Eu sou sua esposa, Matthew."

"Esposa?" ele zomba.

Lá vamos nós de novo.

"Onde diabos você está, Matthew?" repito, minha voz ficando mais alta. "Apenas me diga onde você está, ou então-"

"Ou então o quê?" ele interrompe, seu tom pingando sarcasmo.

"Vou começar a contatar todos os seus amigos. Certamente alguém deve saber onde você está se escondendo," ameaço, plenamente consciente de que isso não agradaria Matthew.

"Pelo amor de Deus, Sara..."

"Você vai me dizer, ou devo começar a fazer ligações?" pergunto.

Há uma longa e tensa pausa do outro lado da linha. Ouço alguém dar risadinhas ao fundo.

"Tudo bem," Matthew finalmente diz entre dentes, sua voz tensa com fúria mal contida. "Estou no Crimson Lounge na 5th Street. Mas estou te avisando, Sara, você não vai gostar do que vai encontrar aqui."

"Estarei aí em 20 minutos," digo.

"Como quiser," Matthew responde friamente antes que a linha fique muda.

Olho para meu telefone por um longo momento.

O Crimson Lounge... ele está em um maldito clube de strip-tease em vez de estar em casa com sua esposa.

Corro para dentro do carro e digo ao motorista para me levar ao clube.