Capítulo 6: A Verdade dos Olhos Prateados

Elara apertou o pingente de lua em sua mão, o aviso da voz ainda ecoando em sua cabeça.

Aquele que mais te odeia pode ser quem você precisa confiar. Poderia ser Kael?

Ela deslizou o colar sobre sua cabeça e o escondeu sob a camisa. O metal frio aqueceu contra sua pele enquanto ela se preparava para o jantar.

A sala de jantar da casa do bando tirou seu fôlego. Uma mesa enorme se estendia sob um lustre de cristal, com mais garfos e colheres em cada lugar do que Elara jamais havia possuído.

"Você está na hora. Bom." Alfa Marcus estava sentado na cabeceira da mesa.

Luna Evelyn estava à sua direita, Kael à sua esquerda. Ronan acenou para Elara se sentar na cadeira vazia ao lado dele, em frente a Darian.

"Nossa convidada de honra," Ronan anunciou com uma piscadela. O maxilar de Kael se contraiu.

"Ela não é uma convidada. Ela é uma obrigação."

"Kael," Luna Evelyn advertiu. Os servos trouxeram pratos fumegantes de comida.

Elara nunca tinha visto tanta comida em um só lugar.

"Então, Elara," Alfa Marcus começou, "Ruth me disse que sua transformação está progredindo. Sua loba pode surgir em breve." Elara quase se engasgou com a água.

"Minha loba? Mas eu sou—eu era uma ômega. Nós não nos transformamos."

"Você nunca foi realmente uma ômega," Darian disse baixinho.

"Seja lá o que ela for, não é material de Alfa," disse Kael, cortando sua carne com golpes afiados e raivosos.

"A Luna deve ser forte, educada e reverenciada. Ela não tem nenhuma dessas características."

As bochechas de Elara queimaram. "Estou sentada bem aqui."

"Estou ciente," Kael respondeu friamente.

"Chega," ordenou Alfa Marcus. "Elara fica. A profecia precisa ser compreendida."

"E quanto a Tobias Grey?" perguntou Luna Evelyn.

"Ele parece saber muito sobre essa situação."

"Ele está sendo interrogado," disse Alfa Marcus.

"O renegado vai falar eventualmente." Elara pensou no amuleto escondido sob sua camisa. Tobias de alguma forma o havia colocado em seu quarto enquanto supostamente estava preso.

"Por que não ouvimos os pensamentos de Elara?" Ronan ofereceu, apertando suavemente a mão dela por baixo da mesa.

"Isso afeta principalmente ela." Todos os olhares se voltaram para ela.

Elara engoliu em seco. "Eu só quero a verdade," ela disse. "Sobre quem eu sou e por que isso está acontecendo."

"A verdade?" A risada de Kael foi afiada e sem humor. "A verdade é que você jogou nosso bando no caos. Celeste foi treinada desde o nascimento para ser Luna. O bando a respeita. E agora todos devem aceitar uma... uma ninguém em seu lugar?"

"Kael!" Luna Evelyn ofegou.

Mas Kael não tinha terminado. Ele se levantou, dominando a mesa. "Eu nunca aceitarei uma ômega como minha companheira. Nunca. O bando merece coisa melhor. Eu mereço coisa melhor."

Suas palavras cortaram mais fundo que qualquer faca.

Elara empurrou sua cadeira para trás e se levantou, surpreendendo até a si mesma. "Eu não pedi por isso," ela disse, sua voz mais alta do que se sentia. "Não pedi por essas marcas, ou esses olhos, ou nada disso. E certamente não pedi para ser companheira de alguém tão cruel." A sala ficou em silêncio.

Até Alfa Marcus parecia chocado. "Com licença," disse Elara, jogando o guardanapo sobre seu prato, "perdi o apetite." Ela saiu, de cabeça erguida, embora seu coração batesse tão forte que pensou que poderia quebrar suas costelas.

Atrás dela, ouviu Ronan gritando com Kael e cadeiras raspando contra o chão. Ela mal conseguiu chegar ao seu quarto antes que as lágrimas viessem. Jogou-se na cama, escondendo o rosto em um travesseiro que custava mais do que tudo o que possuía. Uma leve batida veio à sua porta.

"Vá embora," ela chamou.

"É o Darian." Ela fez uma pausa, então enxugou os olhos.

"Entre."

Darian entrou com um pequeno prato de comida. "Pensei que você pudesse ficar com fome mais tarde."

"Obrigada," ela disse, surpresa com sua gentileza. Ele colocou o prato e ficou desajeitadamente ao lado da cama.

"Kael passou dos limites."

"Ele foi honesto," respondeu Elara. "Pelo menos sei onde estou."

"Sabe mesmo?" Darian perguntou, inclinando a cabeça. "Meu irmão é muitas coisas, mas simples não é uma delas."

"Ele me odeia."

"Ele teme você," corrigiu Darian. "Há uma diferença."

Elara tocou o pingente secreto. "Por que ele me temeria?"

"Porque você muda tudo." Darian moveu-se para a janela, olhando para a noite. "Kael passou toda a sua vida planejando ser Alfa. Cada decisão, cada sacrifício, foi por esse motivo. Então você aparece, e de repente o futuro que ele planejou está incerto."

"Eu não quero tirar nada dele."

"Às vezes, as coisas que queremos e as coisas que o destino planejou são caminhos diferentes," disse Darian misteriosamente.

"Descanse, Elara. Amanhã não será mais fácil."

Depois que ele saiu, Elara não conseguiu dormir. Sua mente estava cheia de perguntas. Ela andou pelo quarto até se sentir como um animal enjaulado.

Finalmente, ela escorregou para o corredor. A casa do bando estava silenciosa e escura. Ela vagou, memorizando o plano, até se encontrar em uma biblioteca. A luz da lua entrava pelas janelas altas, iluminando prateleiras de livros. Elara passou os dedos pelas lombadas, maravilhada.

"Você não deveria estar aqui." Ela se virou.

Kael estava na porta, braços cruzados. Ele vestia apenas uma calça de moletom, seu peito largo nu sob a luz da lua.

"Eu não conseguia dormir," ela explicou.

"Então decidiu bisbilhotar?"

"Eu estava procurando livros," ela disse defensivamente. "Ler me ajuda a pensar." Algo em sua expressão mudou.

"Você sabe ler?" A pergunta doeu.

"Sim, eu sei ler. Só porque eu sou—eu era uma ômega não significa que sou estúpida." Kael entrou na sala.

"A maioria dos ômegas em nosso bando nunca aprendeu."

"Minha mãe me ensinou antes de morrer," disse Elara. "Livros eram as únicas coisas de valor que ela me deixou." Eles ficaram em um silêncio constrangedor. Kael parecia diferente aqui—menos duro, mais perturbado.

"Eu não deveria ter dito aquelas coisas no jantar," ele finalmente disse.

"Mas você quis dizer," respondeu Elara.

Ele não negou. Em vez disso, perguntou: "O que você ia ler?"

"Algo sobre profecias de lobisomens, se você tiver." Kael a estudou, depois foi até uma prateleira e pegou um velho livro encadernado em couro.

"Tente este." Seus dedos se tocaram quando ele entregou o livro. Uma faísca de eletricidade subiu pelo braço dela e, pela sua respiração súbita, ela sabia que ele também tinha sentido.

"A ligação," ela sussurrou.

"Não importa," ele disse com firmeza, recuando. "Uma ligação de companheiro pode ser rejeitada."

"É isso que você quer?"

"É o melhor para o bando."

Elara apertou o livro contra o peito. "E o que é melhor para você?"

Algo brilhou em seus olhos—vulnerabilidade, rapidamente mascarada. "São a mesma coisa."

"São mesmo?" ela desafiou. "Ou é isso que seu pai te ensinou a acreditar?" O rosto de Kael endureceu.

"Você não sabe nada sobre mim ou meu pai."

"Eu sei que você está com medo," ela disse com confiança. "Não de mim, mas do que eu represento. Mudança."

"Você está certa sobre uma coisa," ele disse, aproximando-se até que ela teve que inclinar a cabeça para trás para encontrar seu olhar. "Eu estou com medo. Medo do que vai acontecer quando todos virem que você não tem nada de especial. Apenas uma ômega brincando de se vestir."

O pingente queimou contra sua pele, e de repente a raiva de Elara explodiu. Sua visão melhorou, a sala ficando cristalina apesar da escuridão. "Você está errado, Kael Blackwood," ela disse, sua voz estranhamente poderosa. "Eu sou especial. E no fundo, você sabe disso."

Os olhos dele se arregalaram quando os dela brilharam prateados sob a luz da lua. Antes que ele pudesse responder, um grito de arrepiar ecoou pela casa do bando.

"Elara!" Era a voz de Ronan, cheia de medo. "Elara, onde você está?" Kael agarrou o braço dela. "Fique aqui," ele ordenou, mas o medo em seus olhos não era por ele mesmo. Era por ela. A porta da biblioteca se abriu com força, e Ronan apareceu, sangue escorrendo de um corte em sua testa.

"Ela está aqui," ele ofegou. "Celeste. Com caçadores. Eles estão vindo atrás de Elara." O aperto de Kael em seu braço apertou. O ódio em seus olhos havia desaparecido, substituído por algo muito mais perigoso—determinação.

"Deixe que tentem," ele rosnou, e pela primeira vez, Elara viu um lampejo do Alfa que ele estava destinado a se tornar.