"Precisamos nos mover," Kael ordenou, puxando Elara em direção a uma porta escondida atrás de uma das estantes.
"Esta passagem leva à sala segura." Ronan limpou o sangue dos olhos.
"Não há tempo. Eles já estão dentro." Como que para provar seu ponto, gritos e estrondos ecoaram pelos corredores, se aproximando.
"Quantos?" Kael exigiu.
"Pelo menos dez caçadores, mais Celeste e três traidores da alcateia," Ronan rosnou.
"Eles têm armas com acônito." O coração de Elara disparou. Acônito podia matar lobisomens. Até mesmo Alfas.
"Por que Celeste trabalharia com caçadores?" ela perguntou, com a voz tremendo.
"Eles são inimigos de todos os lobos!"
"O ciúme faz as pessoas fazerem coisas loucas," Ronan disse sombriamente.
Passos pesados trovejaram pelo corredor. Kael empurrou Elara para trás dele, encarando a porta. Seu corpo ficou tenso, pronto para lutar. "Vá com Ronan," ele ordenou. "Eu vou detê-los."
"Mas—" Elara começou.
"Agora!" Kael rugiu, seus olhos brilhando em ouro Alfa.
Ronan agarrou sua mão e a puxou em direção à porta secreta. A última coisa que ela viu foi Kael se transformando, sua forma humana se desfocando enquanto um enorme lobo negro tomava seu lugar. Ronan a conduziu por passagens escuras e estreitas.
"Kael ficará bem," ele disse, sentindo seu medo. "Ele é mais forte do que parece."
Eles emergiram do lado de fora, o ar frio da noite atingindo o rosto de Elara. Uivos distantes e tiros a fizeram estremecer.
"A alcateia está reagindo," Ronan explicou, puxando-a em direção à floresta. "Precisamos levar você para um lugar seguro até que tudo acabe."
Eles correram até que os pulmões de Elara queimassem. Finalmente, chegaram a uma pequena cabana no meio da floresta. "Meu esconderijo," Ronan disse, destrancando a porta. "Ninguém sabe sobre ele, exceto Darian."
O interior era simples, mas aconchegante — uma cama, uma pequena cozinha e uma lareira. Ronan imediatamente verificou as janelas e portas, certificando-se de que estavam seguras.
Elara afundou em uma cadeira, suas pernas tremendo. "Tudo isso é culpa minha."
"Não," Ronan disse firmemente.
"Celeste fez sua escolha. Ela traiu a alcateia."
"Pessoas estão se machucando por minha causa."
Ronan ajoelhou-se diante dela, pegando suas mãos nas dele.
"Escute-me, Elara. Você não pediu por nada disso. Mas agora que está acontecendo, temos que ser fortes." Seu toque era quente, reconfortante.
Ao contrário da frieza distante de Kael, Ronan irradiava calor e vida. "E se Kael—"
"É teimoso demais para morrer," Ronan completou com um pequeno sorriso. "Confie em mim."
Eles esperaram durante a noite, sobressaltando-se a cada som. O amanhecer finalmente chegou, pintando a floresta de dourado. O telefone de Ronan vibrou.
"É Darian," ele disse, lendo a mensagem. "Os caçadores se foram. Celeste fugiu com eles. Três membros da alcateia morreram."
Elara cobriu a boca, lágrimas escorrendo por suas bochechas. "Não..."
"Não é sua culpa," Ronan repetiu, puxando-a para seus braços.
"Estamos em guerra agora, mas não por sua causa. Porque Celeste escolheu o poder em vez da lealdade."
Eles retornaram à casa do bando para encontrá-la danificada, mas de pé. Alfa Marcus estava organizando grupos de busca para rastrear Celeste. Luna Evelyn estava tratando dos feridos. E Kael... Kael estava no pátio, coberto de sangue, mas vivo.
Quando ele viu Elara, algo cintilou em seus olhos — alívio, rapidamente escondido. "Você está segura," ele disse rigidamente.
"Graças a você," ela respondeu.
Ele assentiu uma vez, depois se virou para ajudar com os reparos.
Os dias seguintes foram tensos. Membros da alcateia cochichavam quando Elara passava. Alguns a culpavam pelo ataque. Outros simplesmente tinham medo do que ela poderia ser.
"Ignore-os," Ronan disse a ela enquanto caminhavam pelo território principal da alcateia. "Eles vão se acostumar."
Mas os sussurros machucavam. Uma manhã, quando Elara foi tomar café da manhã na cozinha da casa do bando, um grupo de jovens lobos bloqueou seu caminho. "Olha quem está aqui," um deles zombou.
"A ômega que pensa que é especial."
"Meu primo morreu por sua causa," outro cuspiu. "Os caçadores o balearam com balas de acônito."
Elara tentou passar por eles, mas a cercaram. "Talvez devêssemos mostrar a ela o que acontece com ômegas que esquecem seu lugar," o maior deles sugeriu, agarrando seu braço.
Um rosnado rasgou o ambiente. Ronan apareceu, seus olhos brilhando perigosamente. "Tire suas mãos dela," ele ordenou, sua voz mortalmente calma.
"Ela não pertence aqui," o lobo argumentou. Ronan se moveu tão rápido que Elara mal viu. De repente, o valentão estava preso contra a parede, com a mão de Ronan em sua garganta. "Ela é minha companheira," Ronan rosnou. "Desrespeite-a novamente e você terá que se explicar para mim. Entendido?" Os lobos se dispersaram, murmurando desculpas.
Ronan virou-se para Elara, seu rosto suavizando. "Você está bem?"
Ela assentiu, embora suas mãos tremessem. "Por que eles me odeiam tanto?"
"O medo torna as pessoas cruéis," ele disse.
"Venha, quero mostrar algo a você." Ronan a levou para o interior do território da alcateia, longe dos olhares críticos.
Eles caminharam morro acima por uma hora até chegarem a um mirante deslumbrante. Todo o vale se estendia abaixo deles, com montanhas se erguendo à distância.
"Uau," Elara respirou, a beleza momentaneamente fazendo-a esquecer seus problemas.
"Venho aqui quando preciso lembrar pelo que vale a pena lutar," Ronan disse, sentando-se em uma pedra.
"Esta terra, nossa alcateia... é maior que os medos ou ressentimentos de qualquer pessoa." Elara sentou-se ao lado dele.
"Até mesmo os de Kael?" Ronan riu.
"Especialmente os de Kael. Meu irmão passa tanto tempo preocupado em ser o Alfa perfeito que se esquece de viver."
"E você não se preocupa?"
"Em ser perfeito? Nunca." Seus olhos cintilaram.
"A vida é curta demais para isso." Pela primeira vez desde que chegou à casa do bando, Elara sentiu-se relaxar. Ronan tinha um jeito de fazer tudo parecer mais simples.
"Me conte algo sobre você," ele disse. "Algo que ninguém mais saiba." Elara pensou por um momento.
"Eu costumava inventar histórias sobre as estrelas. Fingia que elas estavam me observando quando eu me sentia sozinha."
"Você não está mais sozinha," Ronan disse suavemente. Ele contou histórias engraçadas sobre crescer como trigêmeo, sobre as travessuras que fazia com Kael, sobre a vez em que se transformou em lobo pela primeira vez e ficou preso na metade do caminho. Elara riu até sentir dor nas costelas. Não conseguia se lembrar da última vez que tinha rido assim.
"Aí está," Ronan disse, seus olhos calorosos. "Eu estava esperando ouvir esse som."
Eles passaram o dia explorando seus lugares favoritos — uma cachoeira escondida, um carvalho antigo, um campo cheio de flores silvestres. A cada passo, a casa do bando e seus problemas pareciam mais distantes.
"Por que você é tão diferente de Kael?" ela perguntou enquanto voltavam.
"Podemos compartilhar o mesmo rosto, mas não compartilhamos o mesmo coração," Ronan respondeu.
"Kael vê o dever. Eu vejo possibilidades."
"E Darian?" "Darian vê tudo, mas não mostra nada," Ronan disse com um dar de ombros.
"Ele sempre foi o misterioso."
Quando retornaram, Alfa Marcus os esperava. Seu rosto estava sombrio.
"O conselho se reunirá amanhã," ele anunciou.
"Eles querem ver Elara... e decidir seu destino."
"O que você quer dizer com decidir seu destino?" Ronan exigiu.
"Ela é nossa companheira!"
"Nem todos aceitam isso," Alfa Marcus respondeu.
"Alguns acreditam que ela é uma ameaça, especialmente após o ataque de Celeste."
"Isso é ridículo," Ronan protestou. "Ela não fez nada de errado!" Os olhos de Alfa Marcus se estreitaram.
"Não se trata mais de certo ou errado, filho. É sobre poder. E há aqueles que farão qualquer coisa para obtê-lo."
Naquela noite, Elara não conseguiu dormir. A reunião do conselho pairava sobre ela como uma nuvem de tempestade. Eles a forçariam a sair? Ou pior? Uma leve batida veio à porta da sua varanda. Assustada, ela olhou para cima e viu Ronan parado do lado de fora. Ela abriu a porta.
"Não consegui dormir," ele explicou. "Estava preocupado com você."
"Estou com medo," ela admitiu.
"Não fique," ele disse, pegando suas mãos. "Não deixarei que nada aconteça com você." Sua proximidade fez seu coração acelerar.
Diferente de Kael, cuja presença a deixava nervosa, Ronan a fazia se sentir segura. Ele gentilmente levantou seu queixo. "O que quer que aconteça amanhã, lembre-se de que você não está enfrentando isso sozinha."
Justo quando ele se inclinou para mais perto, a porta do quarto se abriu bruscamente. Darian estava lá, seu rosto pálido. "Tobias Grey escapou," ele anunciou. "E deixou uma mensagem... escrita com sangue." Ronan ficou tenso.
"Que mensagem?" Os olhos de Darian encontraram os de Elara. "Dizia: 'A de olhos prateados deve escolher antes da próxima lua cheia, ou os três irmãos morrerão.'" A mão de Elara voou para o pingente de lua em seu pescoço enquanto as palavras de Ronan ecoavam em sua mente. Não enfrentar isso sozinha. Mas o aviso da profecia era claro — sua escolha poderia significar vida ou morte para os três irmãos.