O grupo havia deixado Kalden um dia atrás.A viagem até lá havia sido silenciosa, tensa… mas a saída foi tranquila.As compras na vila foram simples, com trocas e aquisições de mantimentos, roupas reforçadas e alguns utensílios. Apesar do clima estranho com a presença dos Escarlates, nenhum problema ocorreu. Parecia que a vila respirava com cuidado, com medo de provocar qualquer faísca que pudesse gerar mais destruição.
Enquanto a família seguia seu retorno pela estrada…
Quartel de Kalden — Ao mesmo tempoNo posto militar improvisado dentro da vila, Kane de Imperis, comandante dos Escarlates designado para a região, andava de um lado para o outro, inquieto.
Chamou seu vice-comandante.
— Onde está Krail?
O vice deu de ombros, com um leve tom de estranheza:
— Já tem um tempo que não o vejo… Ele e Peter também estão sumidos desde ontem à noite.
Kane parou, os olhos se estreitando. Imediatamente chamou o terceiro do trio que sempre andava com eles.
— Você. Onde estão os dois?
O soldado hesitou. Engoliu seco.
Kane deu um passo à frente, e sua voz veio cortante:
— Se não me disser agora… eu te mato.
O soldado arregalou os olhos, pálido.
— Eles… eles saíram atrás daquela família! — gaguejou. — Eu tentei impedir, Comandante. Isso estava muito além do que eu faria. Eu juro!
Kane sentiu o sangue ferver nas veias. Apertou o punho com força.
— Quando?
— Cerca de… dez horas atrás.
Por um segundo, a fúria do comandante quase se tornou violência. Ele se virou bruscamente, batendo com o punho na mesa mais próxima.
— Mobilizem uma tropa! Vamos trazê-los de volta ou proteger a famí—
— Comandante! — o vice interrompeu, sério. — Nenhum oficial está autorizado a sair de Kalden. A fronteira está próxima. Qualquer movimento pode arruinar a formação. Já estamos com ordens diretas de não atravessar a zona de segurança.
Kane permaneceu imóvel. O ar parecia mais pesado.
Por fim, se sentou com força, como se o peso de tudo o esmagasse.
— … Então trate os dois como desertores.
Levantou o olhar, firme.
— Se alguma tropa escarlate ou aliada os vir, devem ser mortos imediatamente.Se voltarem… morrerão também.
Um silêncio sombrio caiu no posto. Kane apoiou os cotovelos nos joelhos e cobriu parte do rosto com as mãos.
— Eu não quero meu nome vinculado a esses lixos.São piores do que os soldados de Draverns.
Respirou fundo. A voz agora vinha baixa, cansada, quase um sussurro:
— Tomara que aquela família sobreviva.
Reviravolta Moral — No caminho, próximos da família
Os três Escarlates seguiam por entre as árvores e trilhas estreitas da floresta, silenciosos, atentos. Havia rastros frescos — pegadas e sinais de passagem — que indicavam que estavam perigosamente próximos da família.
A tensão crescia. Sabiam que a distância era curta. Krail acelerava o passo, quase como se estivesse correndo atrás de um alvo vivo.
Peter, no entanto, começava a hesitar.
— Krail… isso já passou dos limites. Será que não deveríamos apenas deixar eles em paz? — questionou, a voz baixa, quase um sussurro.
Krail se virou, olhos ardendo de fúria.
— Você não entende, Peter! Eles são o problema. Eles são a causa de tudo isso!
Uma discussão explodiu. Peter tentou impedi-lo, mas Krail avançou com raiva. Em meio à confusão, algo saiu errado.
Peter tentou fugir, mas Krail reagiu com violência.
Quando a poeira baixou, Peter estava caído, ferido — ou pior — desertando por conta própria.
Krail, enlouquecido, murmurava para si mesmo:
— A culpa é deles… essa família maldita! Por isso tudo!
A emboscada na floresta
Depois de um dia inteiro de perseguição, os quatro finalmente alcançaram o local onde a família descansava. Galan, que estivera atento durante a caminhada, começou a relaxar. Já se passava mais de um dia, e o cansaço falava mais alto.
Eles montaram acampamento na floresta, se revezando para vigiar, enquanto tentavam se recuperar.
Mas quando estavam arrumando as barracas para partir, Krail apareceu de repente.
Sem aviso, atacou Galan por trás, desferindo um golpe que causou uma ferida profunda.
Galan tentou se manter de pé, ofegante.
— Foi só você? — perguntou com dificuldade. — Cadê os outros dois?
Krail, com olhar sombrio e descontrolado, respondeu:
— Peter morreu por causa deles. O outro não quis participar.
Galan sorriu, apesar da dor.
— Foi tolice vir sozinho e atacar de dia.
Krail retrucou:
— Não precisa se preocupar com crianças. Você é o único que pode me preocupar.
Leo e Aaron, que ouviram o barulho, correram para a frente do pai, armas em punho.
Sarah, em choque, ficou junto ao pai, chorando.
— Retome, Sarah — Galan ordenou. — Isso não é nada pra você. Um leão já tentou te atacar. Se ficar assim, seus irmãos vão morrer.
Sarah viu que os irmãos estavam calmos e na linha de frente.
— Se ajustem e ataquem em grupo — ela sussurrou.
Krail riu, mas ao ver Leo avançar, entendeu que não era brincadeira.
A luta de Leo com Krail
Leo se moveu com foco absoluto, lembrando das lições de Gael — a importância de ler o oponente, usar o peso do corpo e mover-se com propósito.
Ele entrou em guarda, sentindo o silêncio absoluto ao redor, apagando tudo menos a figura do inimigo.
No primeiro movimento, Leo investiu rápido, desferindo um golpe certeiro que Krail defendeu por pouco.
No segundo, Leo tentou um ataque lateral, deslizando o corpo e buscando uma abertura, mas Krail antecipou e desviou.
No terceiro, Leo simulou um avanço, fazendo Krail se inclinar para o lado, criando a brecha para um golpe de corte — que acertou o braço do comandante.
Krail estranhou a força daquele garoto. Ele não era apenas rápido — tinha técnica, foco, algo mais.
No quarto movimento, Leo avançou com tudo, mas Krail reagiu com mais força, aplicando um chute violento que derrubou Leo de lado, sentindo o impacto.
Aaron entra na batalha
Enquanto Krail se recuperava e se preparava para seguir contra Leo, ele viu Aaron atacando de surpresa.
Krail defendeu o segundo ataque, mas sua guarda começava a ceder.
Seu braço que segurava a espada estava levantado, cansado da defesa.
Krail percebeu que Aaron estava vulnerável à sua frente. Acreditando ter vantagem, avançou — mas Aaron se abaixou no último segundo.
Atrás dele, uma flecha cortou o ar e acertou o ombro de Krail.
Mesmo ferido, ele atacou Aaron, que esquivou, mas não sem sofrer um arranhão no rosto — um corte leve na orelha e no lado esquerdo da face.
Krail riu, mesmo sentindo o corpo falhar, mas então uma dor aguda surgiu no lado esquerdo da barriga.
Antes que pudesse reagir, Leo estava lá — com toda a força e concentração que tinha aprendido com Gael — cravou a espada inteira no corpo de Krail.
O comandante caiu no chão, sem vida, ali mesmo.
Depois da batalha
Galan, aliviado, respirou fundo e sentou-se lentamente. Olhou para Sarah, que gritava.
Ao se virar, viu Leo batendo com força no corpo caído de Krail, repetindo, quase em súplica:
— De novo não! De novo não! Não vou deixar! Não vou deixar!
Sarah abraçou Leo, sussurrando:
— Leo, já passou. Estamos bem. Ninguém vai morrer. O pai vai se recuperar, e o corte do Aaron foi leve. Tá tudo bem.
Leo respirou fundo e se afastou, sentando-se sob uma árvore para tentar se acalmar. Observou suas mãos tremendo — não de pânico, mas de medo.
Medo de perder novamente.
Com o tempo, Galan desmaiou, exausto e enfraquecido pela ferida.