Episódio 25 – O Dia Seguinte ao Beijo
Acordei com o coração leve, os lábios ainda aquecidos pelos beijos da noite anterior… e um sorriso bobo no rosto.
Por um momento, tudo parecia perfeito. Leonardo havia sido doce, carinhoso, quase... humano. O homem por trás dos contratos finalmente se mostrava, e eu, idiota como sou, estava começando a acreditar que talvez isso pudesse virar amor de verdade.
Mas eu devia saber.
A felicidade, pra mim, sempre vem com prazo de validade.
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Desci para o café da manhã com aquele vestido branco de seda que ele tinha elogiado uma vez. Me sentia bonita, confiante, pronta para viver um novo começo com meu marido. Sim, marido.
Mas quando entrei na sala de jantar… lá estava ele. Leonardo. Frio de novo. Terno impecável. Olhar duro.
E acompanhado.
— Isabela, essa é Valentina, minha assessora pessoal. Ela vai cuidar das suas roupas, compromissos e imagem daqui pra frente.
Valentina. A mulher mais elegante e artificial que já conheci. Alta, loira, fina até a alma… e com um sorriso venenoso pintado no rosto.
— Um prazer, senhora Vasques — ela disse, me olhando dos pés à cabeça como quem avalia um produto de segunda linha.
Senhora Vasques. Que piada.
— Você contratou uma assessora pra mim? Sem me avisar? — perguntei, tentando manter a calma.
— É necessário — ele respondeu, sem nem levantar os olhos do celular. — Agora que estamos aparecendo em eventos, preciso que você pareça… adequada.
Adequada.
Aquela palavra caiu como um tapa na minha cara.
Respirei fundo. Sorri. Engoli o orgulho.
— Claro. Afinal, eu sou só uma pobre garota que você comprou por engano, né? Preciso parecer rica, comportada e… silenciosa.
— Não deturpe as coisas, Isabela — ele respondeu, levantando finalmente os olhos. — Isso é o que fazemos pra manter as aparências.
Aparências.
Era isso. Nada mais. A noite anterior não tinha significado nada pra ele.
— Ótimo. Então vamos manter as aparências, senhor Vasques. Vou sorrir nas fotos. Fingir que sou feliz. E esconder, bem fundo, a mulher que você beijou ontem como se o mundo fosse acabar.
Dei meia-volta e saí da sala, o peito ardendo, os olhos prestes a transbordar.
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Me tranquei no quarto, tirei os saltos e joguei o celular na cama. Não queria chorar. Mas doía. Doía porque ontem ele me olhou como se me visse. Como se me quisesse. Como se… se importasse.
E agora? Agora ele me tratava como uma funcionária a mais. Um item de vitrine. Uma boneca decorativa pra aparecer bem na imprensa.
Fui até o espelho.
Olhei pra mim. O cabelo preso, o vestido bonito, a maquiagem leve. Eu estava exatamente como ele queria: perfeita por fora… arrasada por dentro.
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Horas depois, ele bateu na porta.
— Posso entrar?
— Depende. É o Leonardo da noite passada… ou o empresário gelado da manhã?
Ele não respondeu. Entrou devagar e se sentou na beirada da cama.
— Eu não sou bom com isso, Isabela. Nunca fui. As coisas que sinto… confundem minha cabeça. Eu fui treinado pra controlar, não pra sentir.
— E acha que isso é desculpa pra me tratar como lixo?
Ele abaixou a cabeça.
— Não. Eu só não sei como... continuar. Ontem foi real. E me assustou.
Fiquei em silêncio. Ele continuou:
— Eu te beijei porque quis. Não porque mandava o contrato. E isso me fez sentir coisas que... que não sei como lidar.
Eu respirei fundo. Fui até ele. Me abaixei na frente dele, peguei sua mão.
— Leonardo… se você sente alguma coisa de verdade, só existe um jeito de lidar: sentindo.
Ele me olhou. E nos olhos dele havia dor, dúvida… e desejo.
Mas, dessa vez, eu não me joguei.
Me levantei, olhei nos olhos dele e disse:
— Quando você souber o que quer… me procura. Até lá, não me beija mais. E não me compra com flores nem vestidos caros. Eu não sou sua boneca. Sou sua esposa.
Saí do quarto antes que ele dissesse algo.
**
Naquela noite, deitada sozinha na cama fria, eu entendi: o amor que nasce no meio do caos é o mais difícil de manter.
Mas também o mais verdadeiro.
E se Leonardo quisesse mesmo ficar comigo… ele teria que lutar. Não com contratos. Mas com o coração.