Capítulo 34 – Infiltrada no Paraíso
Quando acordei naquela manhã, a luz do sol atravessava as cortinas como uma promessa de paz. Por alguns segundos, quase esqueci que minha vida era uma loucura de contratos, ameaças e sentimentos confusos.
Mas a tranquilidade durou pouco.
Desci as escadas e encontrei a sala movimentada. A empregada — sempre discreta — me lançou um olhar nervoso e cochichou:
— Tem visita.
— Visita?
Antes que eu pudesse perguntar mais, ouvi o som de saltos ecoando pelo mármore da mansão. Saltos firmes, decididos... e perigosos.
E lá estava ela.
Camila.
Alta, impecável, com um vestido justo demais para uma "visita educada" e um sorriso que transbordava veneno doce.
— Olá, querida — disse ela, abrindo os braços como se esperasse um abraço.
— Você tá fazendo o quê aqui?
— Vim tomar um café com o Leo. Como nos velhos tempos.
— Ele não está em casa — respondi, seca.
Ela riu. Aquela risada ensaiada, de novela ruim.
— Ah, mas ele sabe que eu viria. Sempre sabe. Nós temos uma conexão... antiga.
— Vocês têm o passado. Eu sou o presente.
— Será? — Ela ergueu uma sobrancelha e se aproximou. — Cuidado, Isabela. O Leonardo se cansa rápido dos brinquedos novos.
O sangue me subiu.
— E você parece um brinquedo velho, desses que ninguém mais quer, mas insiste em aparecer quebrado só pra chamar atenção.
Ela estreitou os olhos. A guerra silenciosa havia começado. E eu estava pronta.
Antes que ela respondesse, Leonardo entrou pela porta da frente, tirando a gravata, distraído. Quando viu Camila ali, parou.
— O que você tá fazendo aqui?
— Vim te ver, amor.
— Não me chama assim. — Ele se virou para mim. — Isabela, eu não sabia que ela viria.
— Eu sei. E tá tudo bem — respondi, mantendo a pose firme. — Ela já tava de saída.
— Ainda não terminei meu café — disse Camila, tentando sorrir.
— Ah, claro. Você pode levar uma cápsula na bolsa e tomar no carro.
Leonardo segurou um riso e coçou o queixo, divertido com a minha resposta.
Camila bufou, virou nos saltos e foi embora sem dizer mais nada. Mas deixou o ar carregado de perfume caro... e ameaça.
Naquela noite, o jantar foi silencioso.
— Ela não vai parar, vai? — perguntei, mexendo no prato sem fome.
— Camila sempre foi obcecada pelo que não pode ter.
— Então por que você ficou com ela?
— Porque eu era idiota. — Ele me olhou. — E carente. E ela... manipuladora.
— E você gosta de mulheres difíceis?
— Não. Gosto de mulheres que me enfrentam sem medo. Gosto de você, Isabela.
As palavras me pegaram desprevenida. A sinceridade nos olhos dele era desarmante.
— Leonardo... eu preciso saber se você tá mesmo aqui. Por mim. Por nós. Ou só pelo contrato.
Ele se aproximou e segurou minha mão sobre a mesa.
— Se fosse só pelo contrato, eu não estaria com ciúmes toda vez que algum cara te olha. Se fosse só pelo contrato, eu não perderia o sono querendo saber se você tá feliz aqui.
Fiquei muda.
Meu coração queria gritar “confia!”, mas minha razão ainda colocava escudos.
— Então prova — sussurrei.
Ele se levantou, veio até mim e me puxou pela cintura. Seus lábios tocaram os meus com calma, mas intensidade. Era um beijo que dizia "me escuta, me sente, me acredita".
Me entreguei por um instante. Só um. Depois me afastei.
— Isso é só o começo, Vasques.
Ele sorriu.
— É o melhor começo que eu poderia desejar.
Mas do lado de fora daquela mansão... Camila não havia ido embora de verdade.
Do carro estacionado na rua, ela observava tudo com olhos sombrios.
— Acha mesmo que vai vencê-lo, Isabela? — murmurou, ligando o telefone. — Hora da próxima fase.
Ela não estava sozinha.
E eu, por mais forte que tentasse parecer... também não fazia ideia do que vinha pela frente.
Fim do episódio 34