Capítulo 33 – O Preço de Ser Desejada
Quando saímos da sala de reunião, o silêncio entre nós era ensurdecedor. Leonardo andava ao meu lado, com passos firmes e expressão fechada. Seus olhos estavam distantes, como se calculasse cada movimento do universo à nossa volta.
Mas tudo o que eu conseguia pensar era em uma única frase:
"Ela é a melhor coisa que já me aconteceu."
Aquilo ecoava na minha mente como uma canção perigosa. Queria tanto que fosse real...
— Por que você disse aquilo? — perguntei, sem conseguir mais segurar.
— Porque é verdade. — respondeu ele, olhando direto nos meus olhos. — Você apareceu quando eu mais precisava. E agora... eu não quero perder você, Isabela.
Meu coração quis se derreter ali mesmo, mas a racionalidade gritou: cuidado.
— Mas você disse isso na frente do investidor. Pra convencê-lo, não pra mim.
Leonardo parou. O saguão do prédio ficou pequeno ao redor dele. Ele se virou e segurou meu rosto entre as mãos.
— Eu disse porque queria que ele ouvisse. Mas também queria que você ouvisse. Mesmo que não acredite ainda.
O elevador chegou, e entramos. O silêncio voltou, mas agora tinha outro tom. Um silêncio cheio de tensão... e desejo não resolvido.
Mas a paz não dura. Nunca dura.
No caminho para a mansão, meu celular tocou. Era um número desconhecido. Atendi, hesitante.
— Alô?
Uma voz feminina, fria e debochada, respondeu:
— Então é você a nova boneca do Leonardo?
— Quem tá falando?
— Alguém que já ocupou essa cama antes de você, querida. E que ainda pode voltar, se quiser.
A ligação caiu. Fiquei gelada.
Leonardo percebeu minha expressão pálida.
— O que foi?
— Uma mulher... disse que já foi sua. E que pode voltar quando quiser.
Ele cerrou os punhos, visivelmente irritado.
— É a Camila. Minha ex. Uma cobra.
— E por que ela me ligaria?
— Porque ela não suporta ver outra mulher comigo. Mas você é minha esposa, Isabela. Ela não vai te tocar.
O jeito como ele disse “minha esposa” me fez estremecer. Era estranho. Um contrato nos unia... mas cada vez mais, meu coração estava preso de um jeito real.
Chegamos à mansão, mas eu não conseguia relaxar. Naquela noite, recusei jantar, recusei conversa, recusei até dormir na mesma cama. Fui para o quarto de hóspedes.
Só que Leonardo não deixaria barato.
Bateu à porta, impaciente.
— Vai fugir de novo? — disse ele, entrando sem pedir licença.
— Não tô fugindo. Tô tentando entender onde eu tô pisando.
— Você tá pisando em mim — respondeu ele, se aproximando devagar — e eu sou o homem que você fez enlouquecer.
— Você é o homem que me comprou.
— E que agora quer te conquistar de verdade.
Engoli em seco. A raiva, a mágoa e o desejo se misturavam num coquetel explosivo dentro de mim.
— Então me conquista. Mas não só na cama, Leonardo. Me conquista na vida.
Ele parou. E pela primeira vez, pareceu não ter uma resposta pronta.
— Tá bem. Eu vou tentar. Mas não me pede pra fingir que não sinto algo por você, porque eu sinto. Mesmo quando você me odeia.
— Eu não te odeio. Eu só... não sei como amar alguém como você.
— Então começa com um passo de cada vez. — Ele tocou minha mão. — Janta comigo amanhã?
— Só se tiver pizza.
Ele sorriu. Um sorriso bobo, real, quase adolescente.
— Fechado. Pizza e... talvez um filme ruim.
— E sem ex-namoradas ligando?
— Sem ex-namoradas. Eu mesmo vou bloquear todas.
Foi o primeiro momento leve do dia. Mas no fundo, algo me dizia que aquela tal Camila não era o tipo de mulher que desaparece sem lutar.
E pela primeira vez, percebi: eu não era só uma noiva de mentira. Eu era um alvo.
Fim do episódio 33