Episódio 37 – A Filha Dele, O Silêncio e Eu
Narrado por Isabela
Naquela noite, depois de tudo o que ouvi, eu não consegui dormir.
A casa estava silenciosa, mas dentro de mim havia uma tempestade. Me virei para o lado, para o outro... e o travesseiro que um dia cheirava a conforto agora cheirava a mentira.
Levantei. Caminhei até o quarto de hóspedes — onde Leonardo estava dormindo desde a nossa briga — e parei na porta. Ele estava acordado, sentado na poltrona, com a cabeça entre as mãos.
— Não consegui dormir — disse ele, me olhando.
— Eu também não — murmurei. — Você me roubou o direito de escolher.
Ele respirou fundo.
— Eu sei.
— Leonardo... — minha voz falhou. — Eu teria aceitado ela. Eu teria amado aquela menina com todo o meu coração se você tivesse sido honesto.
— Eu tive medo — ele repetiu. — Medo de que o passado estragasse o nosso presente. Mas agora vejo que foi a mentira que destruiu tudo.
Sentei na beira da cama. Olhei para ele com olhos cansados.
— Ela é linda. E eu gosto dela... mesmo sem saber quem era. Mas eu preciso de um tempo. Preciso entender o que sinto, quem sou... depois disso tudo.
Ele se aproximou devagar. Pegou minha mão.
— Me promete uma coisa?
— O quê?
— Que você vai conhecê-la de verdade. Como minha filha. E talvez... um dia, como nossa filha.
Não respondi. Apenas deixei que ele segurasse minha mão, e naquele silêncio, havia tudo o que eu não conseguia dizer.
Dois dias depois, fui até o parque onde Leonardo combinou de me apresentar oficialmente à menina.
Lá estava ela: de vestidinho amarelo, cabelos presos com fitas e um sorriso tímido. Quando me viu, seus olhos brilharam.
— Tia Isa! — ela correu até mim.
Meu coração disparou. Me agachei e a abracei com força.
— Oi, pequena. Que saudade.
Ela me olhou, confusa.
— O papai disse que você agora sabe.
— Sei sim — sorri. — E estou feliz por te ver.
Ela então sussurrou algo no meu ouvido que fez meu peito tremer:
— Você ainda quer ser minha mamãe?
Olhei para Leonardo, que observava tudo de longe, com um nó na garganta.
Voltei a olhar para ela.
— Vamos dar um passo de cada vez, tá bom? Mas sim... eu quero te conhecer. Quero brincar com você. Te ensinar a pintar as unhas, a fazer tranças e comer pipoca vendo desenho. Podemos começar assim?
Ela assentiu, animada. — Sim!
Aquela menina não tinha culpa de nada. E, sem perceber, já tinha roubado um pedaço do meu coração.
Mais tarde, Leonardo e eu caminhamos lado a lado até o carro.
— Obrigado por ter vindo.
— Eu não fiz por você — respondi. — Fiz por ela. E por mim. Porque guardar rancor só faz doer mais.
— Você me perdoa?
Respirei fundo.
— Ainda não. Mas... estou disposta a tentar.
Ele parou. Segurou meu rosto com delicadeza.
— E se eu te dissesse que te amo mais do que tudo?
— Eu diria... que você vai ter que provar. Todos os dias.
Ele sorriu.
— Um desafio à altura do meu nome.
— Do seu dinheiro, você quer dizer?
Rimos. Pela primeira vez em dias.
No fundo, eu sabia: aquela história ainda estava longe de terminar. Mas agora tínhamos uma nova personagem. Uma menina de olhos brilhantes, que nos ligava mais do que qualquer contrato, beijo ou jura de amor.
Ela era o elo.
E talvez... fosse ela quem salvaria a nossa história.
Fim do Episódio 37