Episódio 38

EPISÓDIO 38 – As verdades que o amor esconde

Narrado por Isabela

Eu estava tremendo. Não pelo frio — estávamos em pleno verão. Mas por tudo que tinha desmoronado nas últimas horas.

As palavras de Leonardo ecoavam na minha cabeça desde que ele disse:

"Eu escondi algo de você. Algo que pode mudar tudo."

Não era a primeira vez que ele fazia isso. Leonardo sempre foi um mistério ambulante, uma mistura perigosa de arrogância e ternura. Mas, dessa vez, algo no tom dele me fez gelar.

Havia sinceridade. Havia... medo.

— Fala, Leonardo — minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — O que você escondeu de mim?

Ele respirou fundo. Estávamos no escritório da mansão, a porta trancada, longe dos olhares dos empregados e da mídia. Seus olhos, geralmente tão frios e controlados, agora estavam dilacerados por dúvida.

— Eu tenho uma filha, Isabela.

Fiquei em silêncio. Por um segundo, achei que tinha escutado errado. Uma... filha?

— O quê?

— Ela tem quatro anos — ele disse, e sua voz falhou. — O nome dela é Lara. Ela vive com a avó materna. E... é minha filha.

O mundo girou. Eu me apoiei na beira da mesa para não cair.

— Você tem uma filha e só agora me conta? Depois de tudo que vivemos? Depois de me casar com você?

— Eu não sabia como te dizer. Eu... não tive coragem — ele passou a mão pelos cabelos, nervoso. — Foi antes de você. Uma relação rápida, sem amor, mas que deixou uma marca. Eu fiz o teste de DNA quando ela nasceu, mas jurei a mim mesmo que não ia repetir os erros do meu pai. Eu pago pensão. Eu cuido à distância. Mas...

— Mas o quê, Leonardo?

— Mas eu me apaixonei por você. E de repente, tudo aquilo que eu escondia virou uma bomba-relógio.

Eu queria gritar. Chorar. Sair correndo. Mas só conseguia encará-lo, tentando entender se aquilo era real.

— Você ia me deixar descobrir sozinha? Pela mídia? Por fofoca? Pelo destino?

— Eu ia contar, Isabela. Juro. Mas depois da última briga... eu tive medo de te perder.

As palavras dele atravessaram meu peito como uma flecha.

Medo de me perder?

Eu me aproximei dele, encarando-o de perto.

— Você me perdeu no dia que decidiu esconder a verdade, não quando teve uma filha. O problema não é a criança. É a sua mentira.

Ele segurou meu rosto com as duas mãos.

— Eu nunca menti sobre o que sinto por você.

Meu coração queria acreditar. Meu orgulho, não.

— Eu preciso de um tempo, Leonardo — disse, me afastando. — Preciso entender o que isso significa. Pra mim. Pra nós.

— Vai embora?

— Não. Eu vou pro quarto de hóspedes. Essa casa é tão sua quanto minha agora. Mas não espere que eu durma do seu lado como se nada tivesse acontecido.

Ele assentiu, em silêncio. E pela primeira vez... Leonardo Vasques pareceu realmente pequeno.

Horas depois...

Deitada na cama do quarto de hóspedes, eu chorava em silêncio. Não sabia se era tristeza, decepção ou uma mistura amarga dos dois. Eu o amava. Com todas as forças. Mas confiar... era outra história.

O som de uma notificação no celular me tirou dos pensamentos. Era uma mensagem da Clara, minha melhor amiga:

"Isabela, você viu a manchete de hoje? Estão dizendo que a filha do Leonardo vai herdar parte da fortuna antes do possível herdeiro do casamento. Confere isso?!"

Eu congelei.

O contrato. O maldito contrato de casamento. Tudo aquilo fazia sentido agora. Leonardo precisava de um herdeiro. E talvez... estivesse me usando?

Mas então por que ele contou?

Por que se abriu? Por que parecia tão genuinamente assustado em me perder?

Minha cabeça girava. Mas antes que pudesse responder a mensagem, a porta se abriu devagar.

Era ele.

— Sei que devia respeitar seu espaço, mas... não consegui — ele disse, parado na porta. — Se quiser que eu vá embora, vou.

— O que você quer, Leonardo?

Ele caminhou até mim. Se ajoelhou ao lado da cama.

— Quero que você saiba que eu não sou o mesmo homem que assinou aquele contrato. Não quero uma esposa por obrigação. Quero você... por amor.

— E sua filha? Vai continuar escondendo?

— Não. Você pode conhecê-la, se quiser. Ela é uma parte de mim. E... se você permitir, quero que ela seja uma parte de nós.

O silêncio pairou entre nós.

E ali, naquela troca de olhares sinceros, percebi que talvez... o amor verdadeiro não fosse feito de perfeições, mas de reconstruções.

— Amanhã — sussurrei. — A gente conversa mais amanhã. Mas... obrigado por me contar.

Ele apenas assentiu, com os olhos marejados. E saiu, respeitando meu tempo.

Mas algo me dizia... que o tempo dele comigo ainda não tinha acabado.