Episódio 41 – Abertura da Segunda Temporada: Um Novo Amanhecer
Isabel narrando
O som do riso ecoava pelo jardim, leve como o vento que balançava as cortinas de linho branco da varanda. Eu os observava ali, meus dois pequenos milagres, correndo descalços entre as flores, com os cabelos dourados iluminados pelo sol da manhã.
Se me dissessem, anos atrás, que eu terminaria aqui, cercada por tanto amor, talvez eu não acreditasse. Porque por muito tempo... eu vivi na escuridão. Entre dúvidas, segredos e um casamento construído sobre cicatrizes do passado.
Mas a vida — essa imprevisível e generosa vida — me deu a chance de recomeçar. De curar. De amar de novo... e melhor.
— Mamãe! — gritou Clara, minha menina esperta e curiosa, com os olhos castanhos herdados do pai. — O Pedro roubou minha flor!
— Eu só peguei emprestado! — gritou o irmão, sempre sorrindo, mesmo diante de pequenas travessuras.
Sorri.
Ser mãe de gêmeos é como viver duas vidas ao mesmo tempo. Duas personalidades tão diferentes, mas que compartilham um laço invisível, mágico. Pedro é sensível e calmo, Clara é impulsiva e apaixonada. Eles têm apenas dez anos, mas já são capazes de ensinar lições que nem mesmo os adultos aprenderam.
Leonardo apareceu na varanda, ajustando a gravata azul-marinho.
— Eles estão impossíveis hoje — disse ele, sorrindo ao ver as crianças correrem em círculos.
— Estão apenas sendo crianças — respondi, levantando-me e indo ao seu encontro.
Ele me envolveu pela cintura. O toque era diferente agora. Mais leve. Mais seguro. Após tudo o que enfrentamos, nossas mãos aprenderam a se encaixar sem medo.
— Está pronta para o evento de hoje? — perguntou ele.
Assenti, mesmo com o coração um pouco inquieto. Hoje seria o lançamento do nosso novo projeto social: uma escola gratuita para meninas órfãs. Um sonho antigo, uma promessa que fiz a mim mesma nos dias mais sombrios do passado, quando eu também era apenas uma menina esquecida pelo mundo.
— Eles precisam de esperança, Léo. Como nós precisávamos.
— E vão tê-la, meu amor — respondeu ele, beijando minha testa. — Porque você não apenas sonha, Isabel. Você realiza.
Fechei os olhos por um segundo.
Sim, agora eu era mãe. Esposa. Empreendedora. Mas, acima de tudo, eu era Isabel. A mulher que sobreviveu a traições, mentiras, confusões... e aprendeu a se perdoar.
— Mamãe, papai! — Pedro correu até nós, segurando algo em mãos. — Desenhei nós quatro juntos!
O desenho era simples, mas tão verdadeiro. Quatro bonecos de mãos dadas, com um sol sorridente no canto da folha.
— Você esqueceu o cachorro, Pedro — Clara cutucou.
— Nós não temos cachorro — respondeu ele.
— Mas a gente pode ter!
Leonardo riu.
— Vamos conversar sobre isso depois do evento, tá bem?
Eles gritaram de alegria como se já estivessem com um filhote no colo. Eu sorri novamente. Aqueles momentos valiam mais que qualquer fortuna.
E mesmo que o mundo lá fora ainda tivesse seus fantasmas... aqui, nesse pequeno universo que construímos, tudo fazia sentido.
A campainha tocou, interrompendo a calmaria.
Era Laura, minha amiga e atual sócia na fundação. Ela entrou apressada, os saltos ecoando pelo mármore da entrada.
— Isa! Precisamos ir. Os jornalistas já chegaram. E o prefeito também.
— Estou indo — respondi.
Leonardo segurou minha mão.
— Você está linda.
Ele sempre dizia isso, mesmo nos dias em que eu me sentia desajeitada ou cansada. E talvez fosse isso que tornasse seu amor tão especial: ele via beleza onde o mundo só via falhas.
Beijei nossos filhos e caminhei até a porta. Antes de sair, me virei uma última vez e os vi ali — meus três amores — acenando como se fosse a primeira vez.
A vida não me deu uma estrada fácil. Mas me deu uma nova chance.
E agora, com cada passo, eu escrevo uma nova história. A minha história.
A nossa.