Episódio 44 – A Primeira Resposta
Narrado por Isabel
Passei a noite em claro.
Deitada na cama, com os gêmeos dormindo ao meu lado — um de cada lado do meu corpo — eu olhava o teto e pensava nas palavras de Leonardo.
"Eu quero casar com você, Isa."
Não era uma frase qualquer. Era o tipo de frase que mudava a rota de uma vida inteira. E a minha já tinha tido voltas demais.
Será que eu estava pronta para outra?
Fechei os olhos, tentando imaginar como seria dizer “sim”. Imaginava a casa com jardim, os domingos em família, os jantares com bagunça dos nossos filhos, e nós dois deitados no sofá depois de um dia cansativo, mas felizes.
Mas também vinham os medos. A dor do abandono. As lágrimas do passado. O silêncio dele quando eu mais precisei.
Levantei da cama e fui até a varanda, deixando o vento da madrugada bater no meu rosto. Respirei fundo e falei baixinho, só pra mim:
— Eu não sou mais a mesma. E ele também não é. Então o que nos impede?
No dia seguinte, Leonardo apareceu cedo em casa.
Não avisou. Só chegou.
Estava com uma cesta de café da manhã, flores e... um sorriso de fazer qualquer raiva derreter.
— Bom dia, Isa. Vim te ver... e ver nossos filhos.
— Tu sabe que pode ver eles quando quiser.
— Eu sei. Mas... queria aproveitar e te ver também.
— Leonardo, sobre ontem...
— Não. — Ele levantou a mão com delicadeza. — Não precisa dizer nada agora. Só quero estar perto. De vocês.
Nesse momento, os gêmeos apareceram na sala correndo. Um tropeçando no outro, os dois com pijamas amarrotados e cabelos em pé.
— Papaaaai! — gritaram juntos.
Ele se ajoelhou, os braços abertos, e os dois se jogaram nele.
Fiquei olhando aquela cena e senti algo mexer dentro de mim. Era amor. Era medo. Era saudade do que nunca tivemos juntos.
— Eu fiz panquecas — eu disse, num impulso. — Fica pra tomar café com a gente?
Ele sorriu.
— Fico. Nada me faria mais feliz.
Sentamos todos na cozinha. Os gêmeos falavam sem parar, com a boca cheia de panqueca e xarope escorrendo pelos dedos. Leonardo ria com eles como se estivesse ali todos os dias.
E naquele momento, percebi que algo dentro de mim estava mudando.
Não era perdão.
Era aceitação.
Aceitar que ele errou, mas estava tentando consertar. Que talvez o amor não fosse perfeito... mas podia ser verdadeiro.
Depois que ele foi embora, me sentei sozinha na sala e escrevi uma mensagem.
"Leonardo... ainda não sei se posso dizer sim. Mas quero tentar. Uma tentativa sincera. Devagar. Um passo de cada vez."
Ele respondeu quase na mesma hora.
"Isa, esse é o melhor presente que você podia me dar. Um passo seu vale mil dos meus. E eu vou caminhar ao teu lado. Até o fim."
Sorri.
E pela primeira vez, em muito tempo, acreditei.
Mais tarde, fui ao quarto e peguei uma antiga caixa onde eu guardava lembranças. Fotos. Cartas. Recibos de ultrassom. Um par de sapatinhos azuis.
Tudo que me lembrava da dor e da esperança. Dos altos e baixos.
Abri uma carta que eu nunca enviei.
“Leonardo, você não sabe o quanto eu esperei você chegar. Cada chute que senti na minha barriga, eu imaginava você segurando minha mão. Mas você não estava lá...”
Respirei fundo.
Queimei a carta.
Era hora de deixar o passado onde ele devia estar.
E começar uma nova história.
Não perfeita.
Mas possível.