Episódio 45 – Um Pai em Treinamento
Narrado por Leonardo
Acordar às seis da manhã com dois baixinhos pulando na minha cama definitivamente não estava nos meus planos.
— Papaaai, acorda! Acorda! — gritava o Leo, me batendo com um travesseiro.
— A mamãe deixou! — completava a Léo, escalando minhas costas como se fosse o Everest.
Abri um olho, depois o outro, tentando lembrar em que momento da minha vida me tornei almofada de gente de um metro e vinte.
— O que tá acontecendo aqui?
— É sábado!
— E...?
— E a gente vai no parque! Tu prometeu!
— Eu prometi?
Os dois me encararam com aquele olhar de “é melhor cumprir”.
Suspirei. Tentei me sentar. Recebi outro travesseirazo.
— Tá bom, tá bom! Vamos ao parque. Mas primeiro, café. Vocês têm energia de foguete!
Na cozinha, encontrei Isabel com um robe azul e o cabelo preso, com olheiras suaves e um sorriso que só ela tem.
— Bom dia, pai em treinamento.
— Eles me atacaram antes mesmo do despertador tocar.
— Bem-vindo ao clube.
— Tem café?
— Tem. E paciência também, se precisar.
— Vou precisar das duas coisas. E talvez um capacete.
Ela riu.
E, meu Deus, como é bonito vê-la rir com leveza.
Chegamos ao parque depois de quase meia hora de debates sobre quem ia na frente no carro, quem ia levar a bola, e se o cachorro imaginário da Léo podia ou não ir junto.
Estacionei e antes mesmo de tirar o cinto, os dois saíram correndo em direção ao escorregador. Isabel e eu seguimos atrás, mais devagar.
— Eles são intensos — comentei, observando os gêmeos em ação.
— Eles puxaram a mim — ela disse, olhando para mim de lado. — E a você. Também é intenso, só que finge que não é.
— Como assim?
— Finge que não liga, mas sente tudo. Lá no fundo.
Ela tinha razão.
Sempre tive essa mania de esconder. Mas desde que voltei para a vida deles, não quero mais me esconder.
Quero ser inteiro.
Por eles.
Por ela.
Depois de muitos escorregões, corridas, e um picolé derretido que grudou até no cabelo da Léo, sentamos todos num banco do parque.
Leo deitou no meu colo. Léo na perna da mãe.
— Papai...
— Oi, campeão.
— Tu vai embora?
Meu coração apertou.
— Nunca mais. Eu prometo.
— Tu vai morar com a gente?
Isabel me olhou.
E naquele segundo, soube que não era só a criança esperando a resposta.
— Ainda não, filho. Mas vou estar aqui todo dia. Até a mamãe deixar.
Léo sorriu.
— Ela vai deixar. Ela gosta de ti. Eu ouvi ela dizendo pra tia Rosa.
Isabel tossiu.
— Esses ouvidos... — ela murmurou.
— Eu também gosto dela. Muito.
— Eu shippo vocês — disse Leo, com toda a naturalidade do mundo.
— Tu o quê?
— Shippar, pai! É tipo torcer pra vocês ficarem juntos. Igual nos vídeos.
Isabel e eu rimos.
A nova geração e seus vocabulários...
Voltamos pra casa exaustos. Os dois adormeceram no banco de trás, abraçados. Isabel dormiu no passageiro, com a cabeça encostada na janela.
E eu... só dirigi em silêncio, com o coração cheio.
Naquela tarde, entendi que ser pai não é só estar presente. É pertencer.
Fazer parte.
Errar, tentar de novo. Amar com todo o cansaço.
E saber que cada gargalhada deles... vale mais do que qualquer fortuna.
Fim do episódio 45