EPISÓDIO 1 – A Primeira Impressão Nunca se Esquece
Meu nome é Isabelly. Tenho 10 anos, dois cadernos cor-de-rosa, um estojo cheio de canetas cheirosas e um segredo guardado no coração.
Hoje foi o meu primeiro dia no Colégio Estrela Azul.
Acordei antes do despertador. Fiquei olhando para o teto, tentando imaginar como seria essa nova escola. Será que as pessoas iam gostar de mim? Será que eu ia conseguir esconder tudo o que está acontecendo em casa? Engoli a vontade de chorar e fui escovar os dentes como se tudo estivesse bem.
Mamãe diz que eu sou forte. Mas às vezes, eu só queria ser uma menina comum. Daquelas que não precisa mudar de cidade de repente, ou esconder que o papai… sumiu.
Coloquei meu uniforme novo. Azul-marinho, com gola branca e uma saia que rodava. Gostei. Me senti bonita. Peguei meu caderno com adesivos de elefante e desci as escadas.
Mamãe me esperava com pão com manteiga e suco de laranja. Sorriu como sempre, mas os olhos dela entregavam o cansaço. Ela trabalha demais. Faz tudo por mim.
— Hoje é o grande dia, minha princesa — ela disse, tentando esconder o nervosismo. — Mostra pra eles quem você é.
— Quem eu sou? — perguntei baixinho.
Ela me beijou na testa e sussurrou: — Uma estrela que ainda não sabe o quanto brilha.
A porta da sala de aula era grande demais. Respirei fundo e empurrei com força. Todos os olhos se voltaram para mim. Um frio percorreu minha espinha.
— Oi… — falei com a voz mais doce que consegui. — Meu nome é Isabelly. Sou nova aqui.
A professora sorriu. Era baixinha, usava óculos enormes e tinha cara de quem adora livros.
— Bem-vinda, Isabelly. Sente-se ali, ao lado da Bianca.
Olhei pra onde ela apontava. Bianca era uma menina de cabelo liso e castanho, com uma tiara brilhante na cabeça. Ela me lançou um olhar de cima a baixo, como quem avalia uma roupa na vitrine. Não sorriu.
Sentei-me assim mesmo. Tirei meu caderno e tentei me concentrar, mas ouvia sussurros atrás de mim.
— Ela parece uma boneca... — alguém disse.
— Olha o caderno rosa! Aposto que é mimadinha…
Fingi que não ouvi. Sorri para a professora. Anotei tudo na lousa. Quando levantei a mão para responder uma pergunta de matemática, a turma inteira olhou surpresa. Acabei acertando a resposta e a professora me elogiou. Isso não ajudou muito.
— Nerd. — cochichou uma menina loira chamada Camila.
No recreio, peguei meu lanche e procurei um banco vazio. Vi três meninas me observando de longe. Riam, mas não sei se era comigo ou entre elas. Comecei a me sentir invisível, mesmo sendo notada demais.
Foi quando ele apareceu.
— Oi. É sua primeira vez aqui, né? — disse um menino de olhos puxados e cabelos escuros, segurando um pacotinho de biscoito.
Assenti. — É. Sou Isabelly.
— Sou o Léo. Bem-vinda.
Sorri. Ele foi o primeiro a me tratar com normalidade. Sentou ao meu lado e me ofereceu um biscoito. Eu recusei, mas fiquei feliz por ele ter vindo.
— Já percebeu que aqui tem panelinhas? — ele falou, com um meio sorriso. — Tipo filme americano.
—Notei — respondi, olhando discretamente para Bianca e suas amigas, que ainda cochichavam enquanto olhavam pra mim.
— Mas tem gente legal também. Só precisa de tempo.
— Tomara.
Na volta pra sala, um papelzinho foi jogado em minha direção. Abri, curiosa.
“Princesinha metida. Aposto que vai chorar até o fim do dia.”
Olhei em volta. Camila e Bianca seguravam o riso.
Meu coração doeu. Por um momento, tive vontade de pedir pra minha mãe vir me buscar. Mas lembrei do que ela disse:
"Uma estrela que ainda não sabe o quanto brilha."
Engoli o choro. Sentei-me ereta. Abri meu caderno rosa e escrevi em letras grandes:
"Não vim pra agradar ninguém. Vim pra ser eu."
À tarde, quando a aula terminou, fui a última a sair. A professora me chamou.
— Isabelly, parabéns pela participação hoje. Você tem um jeito muito especial de aprender. Fico feliz por ter você conosco.
Agradeci, sem conseguir conter o sorriso. Lá fora, mamãe me esperava encostada no portão.
— E aí, como foi?
Pensei em dizer tudo. O bilhete. O olhar de julgamento. As risadinhas.
Mas pensei melhor.
— Foi bom. Conheci o Léo. Acertei uma conta de cabeça. A professora me elogiou.
Mamãe sorriu, aliviada.
Entramos no ônibus. Eu encostei a cabeça no vidro e vi o colégio ficando pra trás.
Talvez não seja fácil. Mas ninguém prometeu que seria.
E mesmo que demore… um dia essa escola vai entender quem é a verdadeira Queridinha da Classe.
[Continua no próximo episódio…]