EPISÓDIO 2 – As Meninas do Corredor 3
Todo mundo fala que o segundo dia de aula é melhor que o primeiro. Mas ninguém te prepara pra quando ele é… pior.
Eu sabia que voltar pro Colégio Estrela Azul seria difícil, mas não imaginava que seria como pisar num campo minado.
Logo no portão, vi as três meninas do dia anterior me encarando: Bianca, Camila e a outra, que ainda não sabia o nome. Elas estavam no mesmo banco, no mesmo tom de riso, como se fossem donas da escola. E de certa forma… eram.
Fingi não notar e segui para a sala. Mas o silêncio que caiu quando entrei me lembrou que eu ainda era a “novata”.
Sentei no meu canto, tentando desaparecer. Até que uma folha de papel dobrada caiu na minha mesa. Olhei ao redor, confusa. Desdobrei devagar.
“Você se acha demais.”
Não tinha nome. Só aquela frase. Curta. Fria. Cruel.
No recreio, respirei fundo e me forcei a sair da sala. Não podia me esconder pra sempre.
Foi aí que conheci Léo. Ele estava sentado na beira do jardim, lendo um livro de capa azul. Sozinho.
— Posso sentar aqui?
Ele olhou pra mim, surpreso. Depois assentiu.
— Você é a Isabelly, né?
Assenti.
— E você é o garoto que todo mundo ignora?
Ele deu uma risadinha.
— Acho que sim. Mas eu prefiro pensar que sou invisível por escolha própria.
Ficamos em silêncio por um tempo.
— Por que elas são assim comigo? — perguntei de repente.
Ele fechou o livro.
— Porque você é nova. E chamou atenção. Elas odeiam dividir os holofotes.
— Mas eu nem pedi isso.
— E é justamente por isso que te odeiam mais.
Pensei na folha de papel. No olhar de Bianca. Na risada de Camila. No modo como todo mundo parecia saber onde andar, o que dizer, como sorrir… menos eu.
Na hora da saída, tentei sair rápido. Mas alguém puxou minha mochila.
— Ei — disse Bianca, com um sorriso forçado. — Você é boa mesmo ou só se faz?
— Como assim?
— As respostas ontem. Você acertou tudo. Isso é real?
— Eu estudo bastante — respondi, tentando não tremer.
Ela me olhou de cima a baixo.
— Vamos ver quanto tempo isso dura.
Antes que eu pudesse responder, Camila riu e puxou Bianca pelo braço.
— Deixa ela, Bi. Ela ainda vai aprender como funciona aqui.
Fiquei parada ali por alguns segundos, com a mochila pendurada, o rosto quente e o coração disparado. Mas, ao fundo, ouvi a voz de Léo:
— Você não precisa se provar pra elas.
Virei e o vi acenando de longe.
Naquele instante, percebi: talvez eu não precisasse de muitas pessoas. Talvez bastasse ter uma só… que me enxergasse de verdade.
Em casa, mamãe me perguntou como foi o dia.
— Melhor do que ontem — menti.
— Fez amigos?
— Um. Talvez.
Ela sorriu e me abraçou.
— Um já é um começo, filha.
Naquela noite, escrevi no meu diário:
“Hoje me senti invisível. Mas encontrei alguém que também é. E, juntos, talvez a gente comece a aparecer.”
Adormeci com a sensação de que algo estava mudando.
Devagar, mas estava.
[Continua no Episódio 3…]