EPISÓDIO 13 – Borboletas no Estômago e Caras Fechadas
Se alguém me dissesse, há um mês, que eu me tornaria representante de um projeto escolar, ganharia respeito de quem me zombava e ainda teria um crush novo interessado em mim… eu teria rido alto. Muito alto.
Mas ali estava eu: Isabelly Mendes. A garota que costumava comer no canto do pátio com um livro no colo, agora sendo observada por alguém novo, bonito e... misterioso.
Na terça-feira, Pedro Henrique apareceu pontualmente para a reunião do Círculo de Diálogo. Sentou-se ao meu lado e, durante toda a conversa, prestava atenção como se cada palavra dita ali fosse uma aula de vida.
— Esse projeto é genial, sabia? — ele comentou no final da roda.
— Obrigada. Mas foi algo que surgiu da necessidade... e da dor — confessei.
Ele olhou fundo nos meus olhos.
— As melhores ideias sempre vêm da dor, Isabelly.
Fiquei sem resposta por uns segundos. Meu estômago fez um looping. Parecia que uma orquestra inteira de borboletas tinha resolvido ensaiar ali dentro.
Na saída, Camila me esperava no corredor. O olhar dela não era exatamente hostil… mas também não era amigável.
— Você tá se aproximando rápido dele, né? — ela soltou, direto ao ponto.
— Como assim?
— O Pedro. Nem chegou e já tá colado em você.
Engoli seco.
— Eu não pedi pra ele se aproximar. Ele que quis participar do projeto.
— E claro que você é sempre o centro de tudo, né?
Aquilo doeu.
— Camila, a gente não tá competindo. Pelo menos eu não estou.
Ela mordeu o lábio inferior, como se quisesse dizer algo… mas preferiu virar as costas e ir embora.
E eu fiquei ali. Com a sombra de um novo conflito nascendo no meio da tentativa de paz.
Na quarta-feira, tudo ficou mais intenso.
Durante a aula de ciências, Pedro me passou um bilhete.
“Será que você me ajuda com o conteúdo? Tô meio perdido…”
Respondi com outro bilhete:
“Claro. Depois da aula, na biblioteca?”
Ele sorriu e piscou discretamente. Juro que fiquei sem saber onde enfiar o rosto. Senti os olhos da sala inteira queimando em mim — especialmente os de Camila.
Na biblioteca, sentamos perto da janela.
Pedro era do tipo observador. Inteligente, mas inseguro por ser novo. Fui explicando o conteúdo com calma, e ele prestava atenção de um jeito que me deixava nervosa.
Em um momento, ele colocou a mão sobre a minha, por impulso.
— Desculpa. É que... você me deixa calmo. Isso é raro.
Minha mão congelou. Meu coração parecia querer sair correndo pela porta da biblioteca.
— Tá tudo bem — sussurrei, com a voz mais baixa do que eu esperava.
Ele se afastou, respeitoso. Mas o gesto ficou martelando na minha cabeça o resto do dia.
Na hora da saída, Camila me esperava novamente. Dessa vez, com um sorriso irônico no rosto.
— E aí, tutora. Já beijaram ou ainda vão fazer um formulário antes?
— Camila… — suspirei, tentando manter a calma.
— Só estou brincando. Ou não. Quem diria que você, a “santinha da escola”, ia virar a nova queridinha dos garotos também.
— Você quer brigar?
— Não. Eu só queria entender por que tudo gira em torno de você agora.
— Porque eu parei de ter medo — respondi, firme.
Ela ficou em silêncio.
— Você também pode. Se parar de usar o sarcasmo como armadura.
Camila desviou o olhar. Pela primeira vez, parecia sem respostas.
Na quinta-feira, Pedro passou o recreio inteiro comigo, Bianca e Clara. As três estavam adorando a novidade. Bianca, claro, fazia questão de provocar:
— Isabelly, já deu nome pras borboletas no estômago?
— Que borboletas? — disfarcei, corando.
— Aquelas que só aparecem quando ele chega — respondeu Clara, rindo.
Pedro chegou por trás naquele momento, sorrindo.
— Tá tendo zoológico e não me chamaram?
A vergonha me atingiu em cheio.
— Nada demais. Só... biologia — disfarcei.
Ele se sentou ao meu lado como se aquilo fosse natural. Como se já fizesse parte do nosso pequeno grupo.
Na aula de português, tivemos que escrever uma carta anônima para alguém da escola, falando o que admirávamos naquela pessoa. A professora recolheria todas e depois sortearia algumas para ler.
No final da aula, uma carta foi lida em voz alta. A letra era firme. O conteúdo, direto:
“Você não é a mais bonita, nem a mais popular. Mas é a mais real. Você escuta, ajuda e brilha sem precisar apagar ninguém. Quando te olho, sinto vontade de ser melhor. Não sei se percebeu, mas... eu vejo você. Todos os dias.”
A sala ficou em silêncio.
— Alguém quer assumir a autoria? — perguntou a professora.
Ninguém se manifestou. Mas Pedro olhou pra mim com um sorriso de canto de boca que dizia tudo.
Meu coração... explodiu.
Na saída, Camila não me esperava. Em vez disso, recebi uma mensagem anônima no meu armário.
“Cuidado. Nem todo mundo que sorri é seu amigo. E nem todo elogio é sincero. Algumas pessoas gostam de colecionar corações, só pra depois quebrá-los.”
Dobrei o bilhete com as mãos tremendo.
O mundo parecia ter mudado tanto… mas ainda havia sombras nos corredores.
E eu sabia: o jogo tinha mudado de regras. Mas os riscos… estavam apenas começando.
[Continua no Episódio 14...]