Capítulo 9 – Vale dos Ossos Rubros

O sol mal havia tocado o horizonte quando encontrei Dalki no portão sul da Associação. Ele vestia um sobretudo leve e carregava uma lança feita de obsidiana, com traços encantados gravados ao longo do cabo. Era diferente do garoto que conheci anos atrás. Agora ele parecia um guerreiro pronto para enfrentar o inferno.

— Pronto pra morrer hoje? — ele perguntou com um sorriso.

— Sempre. Mas espero que a morte esteja ocupada hoje.

A viagem até a entrada da dungeon levou pouco mais de duas horas. O local era uma antiga cratera cercada por árvores retorcidas e ossos esbranquiçados. As árvores pareciam gritar em silêncio, como se tivessem testemunhado horrores que os humanos ainda não conheciam.

No local, outros quatro caçadores nos esperavam. Dois da guilda Cinzas de Ferro, um independente e uma mulher da guilda Penumbra Escarlate. Ela se apresentou como Kaien, uma conjuradora de gelo com olhos que pareciam ter presenciado cem invernos.

— Vamos entrar em cinco minutos. Não sabemos o que mudou lá dentro, então fiquem alertas — disse o líder da missão, um brutamontes chamado Vrax, com uma armadura mágica que parecia um caldeirão blindado.

A dungeon se abriu como uma boca esperando para nos devorar.

Assim que atravessamos o véu, o frio nos tomou. Diferente da Torre de Fogo, aqui o mundo parecia drenado de cor e calor. O céu era um cinza doentio, e o solo era feito de pedra esfarelada misturada com osso.

No primeiro avanço, fomos atacados por criaturas que lembravam esqueletos, mas com músculos escuros como cinza e olhos de carvão incandescente. Dalki tomou a frente e sua lança dançou no ar, perfurando e abrindo caminho com precisão mortal.

— Renji, esquerda! — ele gritou.

Rolei e ativei Eco de Sangue pela primeira vez.

Uma lâmina cortou minha lateral, superficialmente, mas senti a magia em meu corpo ferver. Com um soco carregado, arrebentei o crânio de uma criatura, e a onda de impacto derrubou outras duas.

— Isso... foi diferente — murmurei, sentindo o sangue aquecer como se minha própria dor fosse combustível.

Enquanto avançávamos, os inimigos ficavam mais resistentes. A conjuradora Kaien congelava grupos inteiros com círculos mágicos, mas mesmo assim, as criaturas voltavam, como se algo as puxasse de volta à vida.

No coração do vale, encontramos um altar. Nele, uma criatura gigante com quatro braços e uma coroa feita de ossos humanos se ergueu.

> Guardião dos Ossos Rubros (Nível 45)

O chão tremeu, e a criatura soltou um rugido que fez até os caçadores experientes darem um passo para trás.

— Esse é todo nosso — Dalki disse, sorrindo para mim.

— Vamos fazer história.

E nós avançamos.

A criatura golpeava com violência irracional, cada soco seu deixava crateras no chão. Vrax segurava a linha de frente com sua barreira de energia, mas mesmo ela começava a ceder. Kaien tentava congelar as juntas da criatura, atrasando seus movimentos, enquanto eu rodeava por trás, buscando um ponto fraco.

Recebi um golpe de raspão na costela e ativei Eco de Sangue. Um brilho carmesim cobriu meus braços, e a dor virou combustível. Com a força canalizada, desferi um soco direto na base da espinha da criatura, abrindo uma rachadura de mana negra.

— Agora! — gritei.

Dalki não hesitou. Sua lança brilhou com um encantamento duplo e atravessou o espaço aberto com precisão. O monstro rugiu uma última vez antes de explodir em uma névoa púrpura, deixando apenas fragmentos de energia.

Silêncio.

Todos estavam ofegantes, cobertos de sangue e poeira mágica. Mas estávamos vivos.

Kaien me olhou pela primeira vez com respeito genuíno.

— Isso... foi um trabalho de caçador de verdade.

Eu sorri, ainda sentindo as costelas doendo.

No caminho de volta, uma notificação piscou no meu sistema:

> Transcendência Corpórea subiu de nível.

> Habilidade desbloqueada: Pele de Impacto.

Sorri. Mais um passo dado. Mais uma cicatriz no caminho.