Capítulo 8 – Ecos do Sangue

Voltar da Torre da Chama Sangrenta foi como acordar de um sonho febril. O mundo real parecia frio demais, calmo demais. Cada passo na calçada da cidade era como um eco distante da força que eu havia liberado lá dentro.

Enquanto caminhava em direção à Associação para registrar os espólios da dungeon, algumas pessoas me olhavam. Uns cochichavam. Outros encaravam o crachá na minha jaqueta. O nome Renji Arata começava a circular.

Na recepção, a atendente de olhos de sereia abriu um leve sorriso ao me ver.

— A Torre não foi fácil, não é?

— Não mesmo. Mas está limpa agora.

Ela digitou algo no terminal, e meus dados apareceram na tela. Seus olhos se arregalaram.

— Você derrotou o Ifrit... sozinho?

Assenti.

— Foi feio, mas foi.

Ela se inclinou levemente para frente, curiosa.

— Isso vai te colocar na lista de observação da sede central. Caçadores que derrotam monstros raros sem suporte são automaticamente monitorados. Parabéns, Arata. Você não é mais um nome qualquer no sistema.

Senti um calafrio. Monitorado? Talvez fosse um problema... talvez uma chance.

Antes de sair, ela me entregou uma pequena caixa.

— O pergaminho que você ganhou em "Raízes Mortas" foi avaliado. Uma habilidade rara de classe C foi designada: Eco de Sangue. Sugiro ler com atenção.

De volta à minha casa, fechei a porta e fui direto para o quarto. Abri a caixa com cuidado. Dentro, o pergaminho pulsava levemente, como se estivesse vivo. Ao tocá-lo, a informação inundou minha mente.

> Eco de Sangue (Classe C) – Passivo/Ativo. Suas habilidades se tornam mais intensas com cada ferimento sofrido. Quanto mais perto do limite, mais poderosas se tornam. (Cuidado: risco de superaquecimento corporal.)

Fiquei parado por alguns segundos. Não sabia se sorria ou me preocupava.

— Uma habilidade que me faz mais forte... sangrando? Isso é... shounen demais.

Mas fazia sentido. Transcendência Corpórea. Um corpo que evolui em luta, dor, experiência. O sistema não estava apenas me fortalecendo. Ele estava me moldando para ser o tipo de guerreiro que luta mesmo quando ninguém mais consegue levantar.

O telefone vibrou. Era uma mensagem de Dalki, meu amigo de infância que agora também estava trilhando seu caminho como caçador.

> "Temos que conversar. Aconteceu algo grande. Te encontro na sede da Associação em uma hora."

Suspirei e vesti a jaqueta. Algo me dizia que o mundo ao meu redor estava começando a se mexer. E eu estava bem no centro disso.

Na sede, Dalki me esperava perto do portão principal, os cabelos bagunçados e os olhos arregalados.

— Cara... tem uma guilda procurando você. Não uma qualquer. A Ordem de Férreo Valor. Eles mandaram um olheiro. Disseram que ouviram falar da sua batalha contra o Ifrit.

— Isso é... sério?

— E não é tudo. A antiga dungeon Vale dos Ossos Rubros se reativou. Mas o sistema identificou uma mudança nela. Agora é uma dungeon de Rank C+. Estão convocando candidatos para um time de reconhecimento. E adivinha? Seu nome tá na lista.

Meu coração acelerou. Rank C+ era acima da minha categoria. Mas se eu quisesse ser levado a sério, precisava aceitar esses desafios.

— Quando saímos?

Dalki sorriu, batendo no meu ombro.

— Amanhã às oito. Esteja pronto.

E naquele instante, soube que minha história estava apenas começando a se tornar conhecida. O mundo estava começando a me ver.

Mas eu ainda não tinha mostrado do que era capaz de verdade.

Eco de Sangue...

Hora de descobrir até onde esse corpo podia chegar.