No terceiro dia seguido desde que ganhei meu crachá de caçador, acordei antes do sol. O corpo reclamava, os músculos pesavam, mas a mente... a mente gritava por mais. Era como se, quanto mais eu lutasse, mais vivo eu me sentia.
O sistema apitou com uma nova notificação:
> Dungeon Classificada: Torre da Chama Sangrenta
> Rank: D+
> Status: Ativa, 82% limpa
> Risco: Presença de monstro raro detectada
Isso me chamou a atenção. Um monstro raro? Em uma dungeon incompleta? Normalmente, os caçadores iam em grupos para esse tipo de desafio. Mas eu... eu era outro tipo de caçador. Eu era obstinado.
Depois de um rápido café e algumas palavras trocadas com minha mãe, me equipei e fui até o portão norte da cidade, onde a entrada para a dungeon havia sido aberta dias antes. A região estava deserta. Era evidente que ninguém queria arriscar enfrentar o tal "monstro raro".
Quando entrei, uma onda de calor me envolveu. A atmosfera da torre era opressiva, como estar dentro de uma caldeira. As paredes eram negras e escarlates, e a luz vinha de fissuras em chão e teto por onde chamas vazavam.
Minhas botas chiaram ao pisar, e minha pele suava em segundos. Mas a magia de reforço me protegeu do pior.
No primeiro andar, topei com os Guardas da Cinza, guerreiros de Edra com armas em brasa. Lentos, mas resistentes. Usei a mobilidade a meu favor, pulando entre colunas e soltando golpes com Tensão Muscular e Pulso Arcano. Levei mais tempo que nas dungeons anteriores, mas venci.
No segundo andar, uma armadilha mágica me prendeu por trinta minutos. Era um campo de ilusão que me fazia reviver minha derrota contra os valentões da escola. Eu via Bruno, seu sorriso de escárnio. Sentia seus socos, ouvia seus insultos.
Mas dessa vez, meu corpo reagia diferente.
Transcendência Corpórea ativa.
Rompi a ilusão com um rugido e um soco direto na parede encantada. A parede se partiu. A dor era real, mas a força também era.
E então, no último andar, o monstro raro apareceu.
Era um demônio do fogo, com dois metros e meio, corpo envolto em labaredas, chifres curvos e olhos dourados. Brandia uma espada flamejante, e seu nome brilhou no ar:
> Ifrit do Sangue Ardente
Ele não esperou. Avançou com uma explosão, a espada cortando o ar como uma onda de calor. Rolei para o lado e chutei a base da torre, levantando poeira. Ataquei com um soco direto, mas fui repelido por uma aura incandescente. Ele era diferente. Mais rápido, mais letal.
Instinto de Combate ativado.
Comecei a calcular. Eu não podia vencê-lo em um confronto direto. Precisava esgotá-lo.
Corri ao redor do campo, desviando de bolas de fogo, analisando seus padrões. Era como uma coreografia de morte. A cada ataque, ele diminuía ligeiramente a velocidade. A magia dele se concentrava na espada. Se eu conseguisse neutralizá-la...
Usei Pulso Arcano no chão, levantando escombros, e os joguei contra ele como projéteis improvisados. A espada cortou um, dois, três, mas o quarto ele não conseguiu bloquear. Aproveitei.
Ativei Tensão Muscular e disparei. Pulei por cima dele, girando o corpo, e com um chute descendente, quebrei sua guarda. A espada caiu. A aura se rompeu.
E então, liberei tudo.
Habilidade combinada: Soco Explosivo + Pulso Arcano + Tensão Muscular.
O impacto foi uma luz branca e calorosa. O som abafou todos os outros. Quando abri os olhos, Ifrit estava em cinzas. Eu estava no chão, tremendo, mas de pé.
> Dungeon concluída. Recompensas: 4.000 créditos, Lâmina de Fogo Adormecida, Pedra de Rank C.
> Você subiu de nível.
> Nova habilidade em observação...
Eu sorri, mesmo com os braços doendo.
Eu tinha derrotado um monstro raro. Sozinho.
E pela primeira vez, a torre inteira pareceu se curvar levemente, como se reconhecesse minha força.
Talvez fosse imaginação.
Mas eu sabia a verdade:
Eu não era mais um caçador comum.