Capítulo 11 – Reconhecimento

Criar uma guilda parecia fácil quando se via de fora. Mas na prática? Era como mergulhar em um mar de burocracia, desconfiança e… solidão.

Com o registro oficializado, a Raiz Carmesim passou a existir, mas ninguém nos levava a sério. Nenhuma missão de alta prioridade era oferecida para novos grupos, e os caçadores veteranos riam pelas costas.

— Uma guilda com dois membros? E um deles é o maluco do poder físico? — ouvi alguém dizer na recepção da Associação.

Ignorei. Ou tentei.

No sistema de guildas, o primeiro passo era alcançar o “nível de reconhecimento”. Era necessário cumprir pelo menos cinco missões públicas de Rank C ou superior para que a guilda fosse considerada “ativa”. E para isso, era preciso escolher bem.

Dalki estava animado, como sempre.

— Já escolhi a primeira missão. Localização: Distrito 3. Uma dungeon de Rank C que está prestes a entrar em colapso.

— Colapso? Não é cedo demais?

— É por isso mesmo que vamos. Se limparmos uma dungeon antes do colapso, ganhamos o dobro de reconhecimento e uma bonificação do sistema.

Respirei fundo. Não era exatamente como imaginei nossa estreia… mas também não queria que a Raiz Carmesim parecesse fraca.

Chegamos à dungeon ao entardecer. Uma fenda azul escura com bordas vermelhas tremia levemente, como se estivesse prestes a se romper. Dois caçadores da Associação estavam ali apenas para observar, nos encarando com desconfiança.

— Vocês são os únicos designados para isso? — perguntou um deles.

— Raiz Carmesim. Estamos aqui para resolver — respondi com firmeza.

Ao atravessar a fenda, nos vimos em uma floresta soturna, repleta de raízes espinhosas e névoa. Sons de criaturas ecoavam à distância.

— Nada de pressa — murmurei. — Vamos trabalhar como um time.

— Sempre — respondeu Dalki, com um sorriso.

Os primeiros inimigos eram licantropos deformados, com pele escamosa e garras de cristal. Seus movimentos eram imprevisíveis. Dalki segurava a linha de frente, enquanto eu manobrava pelos flancos.

O soco explosivo funcionava, mas a resistência deles era acima do comum. Foi quando senti algo diferente.

> Eco de Sangue: ativado

O calor familiar percorreu meus músculos, e meus golpes começaram a vibrar com uma intensidade nova. Cada impacto gerava uma onda de pressão que desestabilizava os inimigos.

Dalki gargalhou.

— Você está diferente. Mais forte.

— Não é força. É… controle.

No centro da floresta, encontramos o núcleo da dungeon: uma árvore monstruosa, com olhos nas folhas e galhos que se moviam como serpentes. O Guardião da Dungeon.

— Dalki, precisamos dividir a atenção dele. Você segura os galhos. Eu vou direto na raiz.

Ele assentiu e partiu.

Enquanto desviava das investidas da árvore, percebi que a Transcendência Corpórea vibrava. Eu sentia cada célula do meu corpo respondendo à batalha. Era como se meu corpo estivesse aprendendo em tempo real.

Concentrei toda a magia que tinha em um único ponto.

— Soco Explosivo... Perfurante!

O punho atravessou a casca viva, indo direto ao núcleo da árvore. Um grito vegetal ecoou, e o mundo começou a desmoronar.

Fenda estabilizada. Dungeon limpa.

Caímos de volta à realidade com a respiração pesada e os corpos arranhados. Mas vivos.

Na Associação, os dois observadores nos esperavam.

— Relatório recebido. Raiz Carmesim: uma missão concluída. Três pontos de reconhecimento registrados.

— Só faltam quatro — murmurei.

Dalki deu um tapa nas minhas costas.

— Estamos só começando.