Capítulo 4 – Um Palco Chamado Mentira
Narrado por Alice Ventura
A verdade é uma peça. E a escola, um teatro onde todo mundo finge não estar atuando.
Naquela tarde, eu estava pronta para ver a máscara de Vanessa cair.
— Plano em ação? — sussurrei para Davi.
— Em ação. — ele respondeu, mexendo discretamente no celular.
— Alguém pode me lembrar o que exatamente é esse plano? — cochichou Noah, nervoso. — Porque até agora só sei que tô vestindo uma blusa do grêmio estudantil que nem é minha.
— Disfarce. — Davi murmurou. — Você é o "monitor de apoio cultural". Ninguém suspeita de quem segura uma prancheta.
— Ainda acho que isso é furada.
— Cala a boca e segura firme. — falei, empurrando Noah mais pra dentro da sala do clube de teatro.
Vanessa estava sentada numa cadeira de diretor de cinema — porque é claro que ela teria uma dessas — e organizava os alunos como se fosse a dona da escola.
— Muito bem, elenco! — ela disse, estalando os dedos. — Hoje vamos improvisar cenas com base em... cartas anônimas.
Meus olhos se arregalaram.
— Ela não…
— Ela vai. — Davi confirmou.
Vanessa levantou algumas folhas com um sorriso maquiavélico.
— Recebi essas cartinhas misteriosas… E achei genial usá-las como inspiração para cenas realistas. Vocês vão dramatizar segredos verdadeiros.
— Isso é… perverso. — murmurei.
— Isso é crime. — completou Noah.
Um aluno aleatório subiu ao palco.
— Eu sou... um garoto que finge gostar da namorada, mas está apaixonado pelo melhor amigo dela!
— SOCORRO. — sussurrei, quase engasgando.
— Essa carta é real? — Davi cochichou, surpreso.
— Eu conheço esse menino. É real sim. — respondi.
— Então Vanessa tem acesso às cartas… — Davi concluiu.
— Ou é ela mesma quem escreve. — Noah disse, anotando tudo na prancheta como se fosse de verdade.
Depois da encenação bizarra, Vanessa bateu palmas.
— Bravo! Isso é verdade crua, meu povo! Verdade que arde, que destrói!
— E que pode levar alguém à expulsão. — murmurei.
— Precisamos agir. — Davi falou. — Agora.
Fiz um sinal com a cabeça. Hora da segunda parte do plano.
Me aproximei de Vanessa com um sorriso falso tão perfeito que me senti em um comercial de creme dental.
— Vanessa! Que cena, hein? Intensa. Adorei a ideia das cartas. Onde você conseguiu?
Ela olhou pra mim como quem vê uma barata, mas decidiu manter a pose.
— Ah, sabe como é... fãs anônimos. As pessoas me entregam histórias.
— Hm, e você guarda essas cartinhas onde? — perguntei casualmente, olhando ao redor.
— Num lugar seguro. — ela respondeu, o tom azedo.
— Como o seu armário no vestiário feminino? — provoquei.
Os olhos dela faiscaram.
— Você anda fuçando minhas coisas?
— Claro que não! — sorri. — Só pensei alto.
Nesse momento, Noah se aproximou e “acidentalmente” esbarrou em Vanessa, derrubando os papéis que ela segurava.
— Ai, desculpa! — ele disse, agachando-se para ajudar.
Enquanto ela se abaixava também, Davi deu a volta por trás e pegou discretamente um envelope entre as caixas do palco. Me olhou e balançou a cabeça. Conseguiu.
— Acho que a gente já viu o bastante. — sussurrei.
Vanessa levantou-se e ajeitou o cachecol.
— Vocês são novos aqui?
— Só visitantes culturais. — Noah disse, saindo rapidamente com a prancheta.
Saímos da sala antes que ela pudesse fazer mais perguntas. Quando viramos o corredor, Davi abriu o envelope.
— Três bilhetes originais. E olha esse aqui...
Ele leu em voz alta:
“Ela finge ser feliz. Ela é boa nisso. Mas se alguém olhar nos olhos dela, vai ver a verdade.”
Me arrepiei.
— Essa letra… é a mesma de todos os outros. — murmurei.
— Prova suficiente? — perguntou Noah.
— Quase. Precisamos de algo mais... algo que ligue definitivamente Vanessa aos bilhetes.
— Tipo uma câmera escondida? — sugeriu Davi.
— Ou um confronto. Ao vivo. — disse, sentindo a adrenalina subir. — Uma armadilha.
— Gosto disso. — Noah sorriu. — Vamos transformar o jogo dela contra ela mesma.
— E mostrar quem realmente está por trás do teatro todo. — Davi completou.
Suspirei, olhando para o envelope.
— Se é verdade que ela tá por trás disso... então ela vai cair. Mas se for outra pessoa…
— A gente vai descobrir. — Davi colocou a mão no meu ombro. — Juntos.
Pela primeira vez em muito tempo, eu senti que não estava sozinha. Não importa quem fosse o autor dos bilhetes. Eu tinha uma equipe. E agora... nós íamos até o fim.