Capítulo 7

Capítulo 7 – Juliana

Narrado por Alice Ventura

Na hora do intervalo, o colégio inteiro parecia ignorar o fato de que algo muito maior estava prestes a explodir.

Mas eu não.

Com a câmera nas mãos e o vídeo ainda fresco na cabeça, caminhei pelos corredores procurando Juliana. Meu coração batia como se eu fosse a culpada.

— A gente vai fazer isso agora? — Noah me alcançou com Davi logo atrás.

— Agora. Antes que alguém apague qualquer rastro.

— E se ela negar? — Davi perguntou, mantendo a voz baixa.

— A gente mostra o vídeo. — respondi. — Não quero briga, quero respostas.

Ela estava sentada sozinha, no fundo do pátio, com fones de ouvido e um caderno no colo.

Me aproximei devagar.

— Juliana?

Ela levantou o olhar, surpresa. Tirou os fones devagar.

— Oi... Alice, né?

— Sim. Posso sentar?

Ela hesitou, mas assentiu.

— Aconteceu alguma coisa?

— Eu queria conversar. É sobre... isso. — coloquei a câmera sobre a mesa.

Ela empalideceu.

— Eu não sei o que é isso.

— Você sabe. — falei, firme. — A gente viu o vídeo.

Davi e Noah se sentaram também. Ninguém piscava.

Juliana mordeu os lábios. Ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, respirou fundo.

— Eu escrevi. Algumas daquelas cartas. Não todas. — disse, olhando pro chão.

— Por quê? — perguntei, sem conseguir disfarçar a decepção na voz.

— Porque ninguém me via. Ninguém se importava. Então eu pensei... se eu contasse verdades escondidas, talvez as pessoas olhassem pra mim. Só um pouco.

— Mas você expôs gente de verdade. — Davi falou, tenso. — Pessoas ficaram machucadas.

— Eu sei! — ela gritou, cobrindo o rosto com as mãos. — Eu só queria fazer parte de alguma coisa!

Noah ficou em silêncio, depois falou:

— Você trabalha com Vanessa?

Ela sacudiu a cabeça.

— Não. Vanessa só pegou carona. Ela começou a receber as cartas e decidiu usar nos ensaios. Eu nem sabia que ela sabia.

— Então tem mais alguém além de você? — perguntei.

Ela assentiu, chorando.

— Tem outro autor. Alguém que escreve como se fosse eu. Mas não sou eu. Alguém quer me culpar por tudo.

— Quem? — Davi perguntou.

— Eu não sei. Juro. Só sei que recebi um bilhete semana passada com a minha própria letra... mas eu não tinha escrito.

Eu acreditei nela.

Era triste. Mas real.

— Tem como você nos ajudar a descobrir quem é? — perguntei.

Ela enxugou os olhos.

— Tem. Mas vamos precisar de coragem. E talvez... de um pouco de loucura.

Noah sorriu.

— Isso a gente tem de sobra.

Mais tarde, na biblioteca

Montamos tudo.

Uma câmera escondida. Um bilhete falso. Um plano que podia dar muito errado.

Juliana ia deixar o bilhete na sala de teatro, bem visível.

“A próxima verdade vai destruir quem mais sorri. Prepare-se.”

A isca estava pronta.

Tudo que restava era esperar o rato cair na armadilha.

— Se isso funcionar, amanhã saberemos quem é o verdadeiro autor. — Davi disse, olhando para a câmera escondida atrás dos livros.

— E se não funcionar? — Noah perguntou.

— A gente tenta de novo. — falei. — Até derrubar essa máscara de uma vez por todas.

E naquele momento, olhando pra eles dois, percebi que a verdade... nunca vem fácil.

Mas vale cada cicatriz.