Capítulo 1 - Parte 2

No coração das terras conhecidas, ergue-se o Reino de Reisenmark, uma fortaleza de resistência e esperança entre as sombras e a luz. Fundado há mais de seiscentos anos por Sigmund Albrech von Edelheim, Reisenmark nasceu das cinzas de uma era caótica, quando a magia selvagem quase erradicou toda a civilização. Sigmund, um homem de origem humilde — portador de somente uma estrela —, desafiou o impossível e tornou-se um símbolo de que a fé, a estratégia e a coragem podiam superar até mesmo os limites impostos pela natureza.

A ascensão de Reisenmark não foi marcada por conquistas rápidas ou ousadas. O reino tomou forma por meio de avanços lentos e meticulosos. Cidades foram erguidas em zonas de baixa densidade mágica, protegidas por muralhas encantadas que repeliam ameaças e patrulhas constantes que garantiam a segurança. Reisenmark nunca teve ambições de expansão desmedida; seu verdadeiro objetivo era a contenção. Conter o avanço das zonas corrompidas, conter o surgimento dos portais, conter a influência do mal silencioso que sussurrava além do tecido do mundo.

Dividido em províncias autônomas, cada território de Reisenmark reflete um equilíbrio entre a tradição e o mérito. Enquanto os nobres tradicionais ainda possuem influência, novos nobres — pessoas cuja ascensão foi conquistada por talento comprovado em testes de potencial — desafiam os paradigmas antigos. Em Reisenmark, não é o sangue que define o poder, mas o brilho das estrelas. Um camponês com oito estrelas pode alcançar o título de barão; um nobre de linhagem antiga com somente três estrelas pode ver seu título desvanecer-se como um eco de eras passadas.

No centro do reino, Edelheim, a capital nomeada em homenagem ao fundador, pulsa como o coração vivo de Reisenmark. É o lugar onde tradição e vigilância se cruzam em um ritmo constante. As cerimônias nos santuários ecoam pela cidade, enquanto anúncios urgentes sobre novos portais ressoam pelas ruas. Templos, academias, fortalezas e guildas se amontoam como um organismo em estado de alerta, cada uma desempenhando seu papel para proteger o reino do caos.

Entre todas as instituições, nenhuma possui o mesmo prestígio da Falkenflug Akademie.

A academia, localizada na fronteira entre uma zona de baixa e uma de média densidade mágica, ocupa uma posição estratégica e simbólica. Ela é o escudo que protege Reisenmark e a lança que garante seu futuro. Fundada há cerca de quatrocentos anos em homenagem ao arquimago Falkenfürst, cuja coragem salvou o reino durante a Primeira Quebra dos Portais, a Falkenflug é muito mais do que uma escola — é o pilar sobre o qual o reino se sustenta.

Seus corredores de pedra encantada vibram com a energia da dedicação e do rigor. Magos conjuram feitiços, guerreiros cruzam espadas em treinamento, estrategistas planejam batalhas simuladas, e curandeiros aperfeiçoam suas artes. A Falkenflug forma os melhores talentos do reino, aqueles destinados a proteger Reisenmark das adversidades que o cercam. A competição é implacável e, para os estudantes, o fracasso é mais do que indesejável — é impensável.

Ser aceito na academia é, ao mesmo tempo, um privilégio e um peso. Embora existam outras academias espalhadas pelo reino, nenhuma possui a tradição, o respeito e a carga simbólica que a Falkenflug carrega. Grandes nobres e até reis já passaram por seus salões, e os heróis que figuram nas baladas populares muitas vezes iniciaram suas jornadas ali.

Antes mesmo de sonhar com Falkenflug, toda criança em Reisenmark enfrenta um marco decisivo: o Ritual de Potencial.

Ao completar cinco anos, cada criança é levada por sua família aos santuários do Altíssimo, lugares onde a mana se harmoniza e o véu entre o visível e o invisível se torna mais tênue. Com torres de pedra branca e vitrais que capturam a luz da mana, os santuários são guardados por clérigos que servem a Der Eine, o Deus Criador.

O ritual, embora simples, carrega uma grande solenidade. A criança é colocada diante de um artefato de mana cristalizada, enquanto preces são entoadas. O momento decisivo ocorre com o uso do Espelho da Verdade, um artefato consagrado que revela o potencial latente. Estrelas surgem ao redor da criança, visíveis somente para os presentes, indicando sua capacidade única.

Além das estrelas, o ritual também revela a aptidão da criança — se seu dom é voltado para magia ou para armas. Em casos raros, algumas mostram afinidade excepcional, como espada ao invés de armas convencionais. Ainda mais incomum são os prodígios com talento tanto para armas quanto para magia. Esses casos são tão extraordinários que costumam ser celebrados como bênçãos divinas.

Embora a fé no Altíssimo permeie o ritual, ela não o domina. Outras crenças não são proibidas, mas é vedada a construção de templos que não sejam dedicados ao Altíssimo. Para os habitantes de Reisenmark, Der Eine não é somente um deus; ele é a representação da ordem e da razão que lutam contra o caos. Sua influência é discreta, mas constante, integrando-se à vida cotidiana através de santuários, cânticos e celebrações sazonais.

É entre os vitrais dourados e os cânticos sagrados que uma nova geração é marcada para carregar o destino do reino.

E foi em um desses rituais, há poucos anos, que duas crianças de uma família quase esquecida tiveram seus caminhos entrelaçados ao destino de Reisenmark.