Entre as famílias que outrora ergueram Reisenmark das ruínas, poucas eram tão antigas e respeitadas quanto a Casa von Hammer. Seus ancestrais lutaram ao lado de Sigmund Albrech von Edelheim, brandindo marretas encantadas que racharam muralhas, esmagaram aberrações e abriram caminho para o nascimento de um novo reino. Durante séculos, o nome von Hammer reverberou pelos salões de Edelheim como sinônimo de força e coragem.
Mas a glória, assim como a mana, pode se dissipar.
Com o passar das gerações, a linhagem enfraqueceu. Potenciais outrora impressionantes de seis e sete estrelas tornaram-se quatro, depois três, até que os herdeiros da Casa von Hammer perderam seu destaque. Grandes salões tornaram-se silenciosos, propriedades foram vendidas e o brasão da família — um martelo cruzado com uma estrela — desbotou nas tapeçarias esquecidas. Restou somente um nome, mantido mais pela nostalgia dos velhos do que pelo reconhecimento entre os nobres.
Foi nesse cenário de decadência que Klaus Erich von Hammer nasceu.
Filho de Eric von Hammer, um homem digno, mas obscurecido pelo peso de uma história que já não lhe pertencia, e de Eleni, filha de um comerciante próspero, mas sem sangue nobre, Klaus veio ao mundo carregando expectativas modestas. A esperança de sua família limitava-se a sobreviver com honra — quem sabe mantendo viva a última centelha de um legado quase apagado.
Quando Klaus completou cinco anos, foi levado ao Santuário de Edelheim para o Ritual de Potencial. A cerimônia atraiu pouca atenção, e sua mãe, Eleni, guardava um segredo em silêncio: ela estava grávida novamente, embora ainda não tivesse anunciado oficialmente.
O ritual seguiu como tantos outros. Preces foram entoadas, formalidades cumpridas, até que algo inesperado aconteceu.
Sete estrelas surgiram ao redor de Klaus.
O potencial que não se via na Casa von Hammer havia mais de um século reaparecera. Por um breve instante, os sacerdotes hesitaram em seus cânticos, espantados com o brilho do garoto diante do Espelho do Destino. A notícia espalhou-se rapidamente. O Estado, sempre atento aos talentos raros, registrou o nome de Klaus em seus anais. A Falkenflug Akademie já o aguardava, mesmo que ainda estivesse distante em seu futuro.
Mas a história da família estava longe de terminar ali.
Dois meses após o ritual, Greta von Hammer veio ao mundo. Menor e mais frágil que Klaus, Greta parecia uma chama tímida em comparação ao irmão, cuja trajetória já estava sendo moldada para grandes feitos. No entanto, quando chegou o momento de Greta enfrentar o Ritual de Potencial, o destino revelou algo ainda mais grandioso.
Dez estrelas.
A pequena Greta atingiu a perfeição reservada aos maiores prodígios. O Estado não somente registrou seu nome, mas cercou-a de expectativas. Professores foram designados, planos traçados, e muitos afirmaram que o futuro de Reisenmark poderia ser definido por aquela jovem maga de cabelos dourados.
E como uma luz intensa projeta sombras, a ascensão de Greta ofuscou Klaus.
Embora seu talento fosse raro e impressionante, Klaus passou a ser lembrado somente como "o irmão da Greta". Nas reuniões da nobreza e nos salões de avaliação, os olhares e sussurros estavam voltados para Greta — suas lições, demonstrações de mana e conquistas iniciais. Klaus não foi negligenciado, mas também não era o centro das atenções.
Ainda assim, Klaus não se deixou consumir pela inveja. Ele dedicou-se aos estudos e treinamentos com disciplina implacável, ciente de que carregava um peso diferente: não o da glória imediata, mas o da responsabilidade silenciosa.
Os anos passaram e a tragédia visitou a Casa von Hammer.
Eric von Hammer, o último senhor da família, sucumbiu a uma doença súbita. Já debilitado por ferimentos do passado, ele não resistiu e faleceu em poucas semanas. Sem um patriarca, a família já reduzida tornou-se ainda menor. Klaus, com somente quatorze anos, prestes a completar quinze, assumiu o papel de líder, mesmo sendo jovem e inexperiente.
A responsabilidade não lhe foi atribuída com aclamações ou cerimônias. Era simplesmente um fato: ele era o filho mais velho, protetor de sua mãe, Eleni, e escudo de sua irmã prodigiosa, Greta.
Com o peso do nome sobre os ombros e o futuro incerto à sua frente, Klaus preparava-se para ingressar na Falkenflug Akademie. Não somente como um aluno, mas como o herdeiro de um legado esquecido, determinado a provar que ainda era digno da promessa de sua família.
No amanhecer de seus quinze anos, Klaus Erich von Hammer cruzou as muralhas da Falkenflug Akademie. Não como "o irmão de Greta", mas como um jovem disposto a forjar um nome que o mundo jamais esqueceria.