O cheiro da manhã invadiu o quarto assim que a luz mágica do amanhecer atravessou as janelas. Klaus Erich von Hammer abriu os olhos devagar, permitindo que o peso da realidade repousasse sobre seus ombros. Hoje não era um dia qualquer.
Hoje, ele deixaria para trás o lar que conhecera durante uma década inteira.
Sentou-se na cama, inspirando profundamente enquanto seu olhar percorria o ambiente familiar. As paredes de madeira polida eram decoradas com gravuras simples, e o chão, feito de pedras lisas aquecidas por feitiços de mana moderada, oferecia um conforto que ele nunca imaginara ter. No canto do quarto, uma pequena esfera de cristal azul flutuava, emanando uma brisa suave que mantinha o ambiente arejado — um luxo que poucos poderiam desfrutar.
Antes do Ritual de Potencial, Klaus se lembrava vagamente da casa onde viviam: paredes rachadas, chão de terra batida e noites abafadas que pareciam sufocar. Não havia chuveiros mágicos, climatizadores de mana ou mesmo o aconchego de um segundo andar.
Foi depois da cerimônia que sua vida começou a mudar. O Estado percebeu o valor dele e, mais ainda, o da irmã que viria depois. Ofereceram à família uma residência mais apropriada: uma casa segura, discreta e confortável em um bairro digno. Não era um palácio, mas para Klaus, era mais do que suficiente. Cada detalhe — desde o piso quente até a água purificada por cristais de mana — era um lembrete silencioso do milagre que já era sua vida.
Rapidamente, vestiu-se com roupas simples, mas bem feitas, bordadas com pequenas runas para reforço e conforto. Ao sair do quarto, o cheiro de pão fresco vindo da cozinha o envolveu.
A escada de madeira, envernizada com cuidado, rangeu levemente sob seus passos. Ao descer, foi recebido por uma voz calorosa:
— Bom dia, jovem mestre — disse Marta com um sorriso generoso. Os cabelos presos e o avental impecável eram sua marca registrada, uma constante desde que Eleni assumira os negócios da família.
Após a morte de Eric, foi Eleni quem manteve a família de pé, expandindo discretamente o comércio de artefatos mágicos que sustentava os von Hammer. Marta era mais do que uma empregada — cuidava da casa com a dedicação de quem protege algo precioso.
Klaus respondeu com um aceno e um sorriso contido antes de seguir para a sala.
Lá, ele encontrou duas presenças que aqueceram seu coração. Greta, prestes a completar dez anos, correu em sua direção com a energia de alguém que ainda acreditava que abraços podiam resolver tudo.
— Mano, por que essa cara tão séria? — exclamou ela, rindo, enquanto se jogava em seus braços.
Klaus bagunçou os cabelos dourados da irmã, finalmente permitindo-se sorrir de verdade naquela manhã. Greta, apesar de seu talento mágico extraordinário, era para ele apenas sua irmãzinha — teimosa, sonhadora e cheia de vida.
Eleni, próxima deles, observava em silêncio. Seus olhos castanhos refletiam um misto de orgulho e preocupação, com um toque de melancolia escondido no brilho que ameaçava escapar.
Ela se aproximou, ajeitando a gola da camisa do filho com mãos firmes e cuidadosas.
— Você está pronto — disse ela, com uma voz baixa e controlada.
— Eu vou voltar melhor do que estou hoje — prometeu Klaus, tentando soar leve, mas sentindo o peso da promessa em cada palavra.
Um som distante de rodas anunciou a chegada da carruagem. A despedida estava prestes a acontecer.
Marta entregou-lhe uma mochila reforçada com runas. Greta lhe deu um beijo rápido na bochecha, e Eleni apenas assentiu, talvez temendo que qualquer palavra a fizesse desmoronar.
Do lado de fora, a carruagem o aguardava. Era robusta, feita de madeira escura e polida, gravada com selos protetores em prata. As bestas mágicas que a puxavam — criaturas imponentes de olhos brilhantes e couraça natural de mana — pareciam impacientes.
O cocheiro, um homem robusto de cabelos grisalhos, desceu da boleia e fez uma reverência.
— Heinrich, a seu serviço, jovem mestre — disse ele com um tom respeitoso.
Ao lado dele estava um jovem de cerca de dezoito anos, vestindo o uniforme cinzento e dourado da Falkenflug Akademie.
— Sou Lukas, do último ano. Fui designado para escoltá-lo até a academia — disse o rapaz, com um sorriso encorajador. Apesar de seu tom formal, havia uma simpatia genuína em seus olhos.
Klaus assentiu, sentindo a responsabilidade crescer a cada passo que dava em direção à carruagem.
Ao fechar a porta e ouvir o ranger das rodas em movimento, ele olhou pela janela uma última vez para sua casa — seu lar.
O primeiro passo de sua nova vida havia sido dado.