Capítulo 13 — Parte 2

O terceiro dia na masmorra, embora menos brutal que os anteriores, não poupou Klaus Erich von Hammer do peso acumulado de suas batalhas. A fadiga ainda se agarrava a ele como uma sombra persistente, mesmo após enfrentar apenas cinco monstros ao longo do dia. Seus músculos, marcados pelo esforço contínuo, protestavam a cada movimento, e a dor nas costas, parcialmente curada pela poção do dia anterior, tornava-se um incômodo constante. No entanto, a calma relativa permitia que ele administrasse melhor suas forças, um raro luxo em um ambiente onde sobrevivência era uma conquista diária.

O ar da masmorra era tão denso quanto nos dias anteriores, impregnado pelo cheiro de carcaças em decomposição e poças de ácido que ainda liberavam vapor tóxico. As rochas luminescentes projetavam sombras inquietas sobre o chão alaranjado coberto de musgo, criando formas estranhas que se moviam conforme Klaus caminhava. Ele retornou ao seu acampamento improvisado, um pequeno monte cercado pelo pó repelente que espalhara no primeiro dia. O círculo de terra protegida era o mais próximo de um refúgio que ele poderia chamar de seu.

Ainda não tomara seu banho mágico, o único alívio contra o sangue e a gosma seca que se acumulavam em sua pele. Tampouco organizara seus pertences para o descanso. Agachado junto à bolsa de couro, Klaus revisava seu equipamento — a marreta, algumas poções, o frasco de nutrivital — e planejava uma refeição rápida antes de finalmente relaxar. O silêncio opressivo da masmorra envolvia tudo, interrompido apenas pelo crepitar ocasional de fluidos ácidos corroendo a vegetação. Seu instinto permanecia alerta, afiado pelo treinamento rigoroso da Falkenflug Akademie.

Então, um som inesperado cortou sua concentração.

Um movimento súbito na vegetação fez as folhas estremecerem, acompanhadas por um ruído baixo e controlado de algo se aproximando. Klaus reagiu instantaneamente. Seus músculos, mesmo cansados, se retesaram, e suas mãos agarraram a marreta com força. O coração disparou, os olhos vasculhando a névoa tênue que pairava sobre o terreno irregular.

Um novo inimigo?

Outro verme?

Algo pior?

Ele prendeu a respiração, preparado para o confronto.

Mas o que emergiu da névoa não era um monstro.

A figura atravessou a vegetação com passos medidos, alta e elegante, os cabelos dourados presos em um coque prático. Os olhos castanhos captavam a luz fraca da masmorra, uma expressão cautelosa mas serena no rosto. Klaus reconheceu imediatamente.

Lisette von Stragberg.

Conhecida por sua precisão em combate e postura impecável, era uma das figuras mais respeitadas entre os estudantes que entraram esse ano da Falkenflug Akademie.

Por um instante, ambos ficaram parados, a surpresa refletida em seus rostos. Klaus não abaixou a marreta imediatamente, seus olhos ainda avaliando a recém-chegada. Lisette manteve a distância, observando-o com a mesma cautela. Não havia medo em sua postura, apenas análise — a marca de alguém que aprendera a nunca baixar a guarda.

Ela quebrou o silêncio primeiro.

Com um gesto fluido, fez uma reverência breve, mas elegante, como se estivesse em um salão de festa em Edelheim (a capital do reino) e não em uma masmorra fétida e mortal.

— Lisette von Stragberg, Classe Eule 1.

Sua voz era firme, mas possuía uma suavidade que contrastava com o ambiente hostil. Klaus, sentindo o peso da tensão diminuir, abaixou a marreta e respondeu com igual formalidade, embora sua voz saísse rouca pelo esforço acumulado dos últimos dias.

— Klaus Erich von Hammer, Classe Eule 3.

O silêncio voltou, preenchido apenas pelo zumbido distante da masmorra e pelo arrastar ocasional do vento sobre a vegetação alta.

Klaus, um pouco desconcertado, apontou para o acampamento com um gesto hesitante.

— Se quiser descansar... o espaço é seguro.

A voz saiu mais grave do que ele pretendia.

Lisette avaliou o local com um olhar rápido, notando o pó repelente e a organização rudimentar do acampamento. Após uma breve pausa, assentiu.

— Agradeço. Lugares seguros são raros aqui.

A resposta foi simples, direta, sem rodeios.

Ela caminhou lentamente até o espaço limpo e sentou-se a alguns metros dele, mantendo uma distância respeitosa. Seu gesto era calculado, mostrando que entendia a natureza da masmorra e os riscos de confiar cegamente em alguém, mesmo um colega de academia.

Klaus observou enquanto ela retirava um cantil de água de sua bolsa e tomava alguns goles, sem nunca perder sua postura impecável.

Ele voltou a se agachar junto aos seus pertences, reorganizando-os com gestos lentos.

Havia algo estranho naquela presença.

Algo que alterava o peso da solidão que o acompanhara nos últimos dias.

Pela primeira vez desde que entrara na masmorra, Klaus não estava sozinho.

A sensação era estranha, quase incômoda.

Mas, de alguma forma, também reconfortante.

Como uma trégua silenciosa em meio ao caos.