Capítulo 13 – Parte 3

A névoa fina da masmorra pairava como um véu sobre o acampamento improvisado, misturando-se ao cheiro metálico e agridoce de sangue seco e fluido ácido. Klaus Erich von Hammer respirou fundo, sentindo o ar pesado e viscoso arranhar sua garganta. O silêncio ao seu redor era denso, preenchido apenas pelo crepitar distante de poças de ácido e pelo som de folhas secas arrastadas pelo vento gélido daquele mundo artificial.

Ele afastou a marreta para o lado, apoiando-a contra a rocha musgosa, tentando aliviar a tensão que ainda prendia seus músculos. Seus braços protestavam contra cada movimento, as costas ainda pulsavam com a ferida parcialmente cicatrizada, e seu corpo, mesmo fortalecido por poções e descanso, carregava o peso acumulado de três dias de luta incessante. Mas naquela noite, ao contrário das anteriores, ele não estava sozinho.

Lisette von Stragberg permanecia sentada a poucos metros, a postura impecável apesar do ambiente imundo. Seus olhos castanhos percorriam lentamente a vegetação alta ao redor, como se buscassem padrões invisíveis nas sombras da masmorra. O silêncio entre eles era palpável—não desconfortável, mas carregado de avaliação mútua. Klaus não sabia exatamente o que pensar de sua presença. Para ele, Lisette sempre fora uma figura distante na Falkenflug Akademie, pertencente ao círculo dos mais habilidosos, aqueles cujo talento era incontestável. Agora, sentados no mesmo território hostil, sem títulos ou reputações para protegê-los, eram apenas sobreviventes.

Ele limpou a garganta, quebrando o silêncio.

— E então... como foram esses três dias pra você?

Sua voz saiu rouca, cansada. Enquanto falava, mexia distraidamente na bolsa de couro ao seu lado, onde guardava o frasco de nutrivital e algumas poções. Não esperava uma resposta detalhada—Lisette era conhecida por sua precisão e autocontrole, e Klaus sabia que ela não desperdiçava palavras sem necessidade.

Ela não respondeu de imediato. Seus olhos ainda estavam na névoa, como se pesasse cada palavra antes de deixá-la escapar.

— Razoáveis.

O tom foi neutro, firme.

— O que se espera de uma masmorra como esta.

A resposta era típica dela: objetiva, direta, sem floreios. Mas Klaus percebeu algo mais profundo ali—um eco de cansaço, a sombra da exaustão que ele próprio carregava.

Ele sorriu de forma torta, tentando aliviar a rigidez da conversa.

— Razoáveis, é? Meu segundo dia foi tudo, menos razoável.

Inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, sentindo ainda a dor silenciosa do combate recente.

— Enfrentei mais de cento e oitenta criaturas. Uma atrás da outra. Sem parar. Mal conseguia respirar.

Lisette finalmente virou o rosto, uma sobrancelha arqueada em uma mistura de ceticismo e interesse. Seus olhos estudaram Klaus por alguns segundos, como se tentasse decidir se era exagero ou verdade.

— Cento e oitenta?

A voz soava mais lenta agora, como um desafio.

— Está tentando me impressionar, von Hammer?

Klaus soltou uma risada seca, o som áspero ecoando pelo acampamento.

— Queria que fosse isso. Mas não.

Ele ergueu o pulso, apontando para a pulseira mágica, cuja tela brilhava na escuridão.

— Veja você mesma. A pulseira não mente.

Lisette inclinou-se ligeiramente, o olhar fixo no visor brilhante.

208 Criaturas Eliminadas. 250 Créditos Acumulados.

Por um momento, sua postura impecável se desfez em surpresa contida.

— Inacreditável.

Ela murmurou, recostando-se.

— Eu achava que estava à frente. Matei sessenta e duas criaturas nesses três dias. E não ouvi ninguém na academia chegar perto disso.

Havia uma curiosidade mais aberta em seu olhar agora, um interesse genuíno.

— Você é algum tipo de prodígio, então?

Klaus balançou a cabeça, a expressão séria agora substituindo qualquer vestígio de orgulho.

— Prodígio? Não. Só um idiota com uma marreta que não sabe quando recuar.

Ele deu de ombros.

— Ou talvez só teimosia.

Lisette observou-o em silêncio por alguns instantes. Então, um leve sorriso curvou o canto de seus lábios.

— Teimosia pode ser uma força.

Sua voz era mais suave agora.

— Ou uma fraqueza. Depende do quanto você sobrevive.

Klaus soltou um pequeno suspiro.

— Por enquanto, estou sobrevivendo.

— Por enquanto.

Ela ecoou, e o sorriso ainda estava presente—mas havia um toque de cautela nele.

A conversa continuou por alguns minutos. Não era exatamente leve, mas havia algo genuíno ali.

Falaram sobre a masmorra—os padrões que Klaus começara a notar, as criaturas mais perigosas que Lisette enfrentara, e como os vermes alados quase a encurralaram. Não eram amigos, não ainda, mas havia um entendimento tácito entre eles, um elo que apenas aqueles que sobreviveram ao caos poderiam compartilhar.

O acampamento, com seu pó repelente brilhando na penumbra, parecia um oásis temporário. A presença de Lisette, por mais reservada que fosse, tornava a masmorra menos sufocante.

Klaus olhou para a névoa, a marreta ainda ao alcance.

— Acha que vamos sair disso inteiros?

A pergunta saiu antes que ele pudesse pensar.

Lisette tomou um gole de seu cantil antes de responder.

— Se continuarmos aprendendo… talvez.

Ele assentiu, sentindo um conforto estranho naquela resposta vaga.

Pela primeira vez em dias, a solidão da masmorra parecia menos absoluta.