Capítulo 13 – Parte 4

Lisette permaneceu em silêncio por alguns instantes, ainda assimilando os números absurdos que Klaus havia revelado. A brisa fraca que atravessava aquele campo artificial sussurrava entre as plantas distorcidas da masmorra, como se o próprio ambiente também escutasse aquela conversa. O ar, denso e impregnado pelo cheiro metálico de fluidos secos, parecia suspenso, esperando pela próxima troca de palavras.

Por fim, ela quebrou o silêncio com uma pergunta simples, mas carregada de curiosidade:

— Mas... afinal, como isso aconteceu? Como você enfrentou cento e oitenta monstros?

Não havia incredulidade na voz dela, tampouco frieza. Apenas uma busca sincera por entendimento. Seus olhos castanhos claros o estudavam com atenção, como se tentasse juntar todas as peças antes de tirar uma conclusão.

Klaus expirou devagar, recostando-se melhor contra a elevação de pedra. Sua mente ainda ecoava as cenas do dia anterior, os golpes incessantes, o cheiro sufocante da batalha, o peso esmagador da exaustão.

— Esses bichos têm um padrão, — começou, sua voz mais grave na quietude do acampamento. — Eu só fui entender isso hoje. Se você derrota um deles e permanece muito tempo no mesmo lugar, outros começam a aparecer. E quanto mais você fica, mais eles vêm... e continuam vindo.

Lisette franziu levemente o cenho, processando a informação.

— Eu não percebi isso.

— Nem eu no primeiro dia, — Klaus admitiu, passando a mão pela lateral da cabeça, sentindo a rigidez dos músculos ainda tensos. — No segundo, acabei ficando em uma área onde já tinha matado alguns... e continuei lá. Quando percebi, era tarde. Tinha tantos deles que era impossível fugir. Tive que lutar. Um atrás do outro... sem parar.

Ela o observou em silêncio, surpresa visível, embora contida.

— Então você... atraiu deliberadamente as criaturas por permanecer no campo de cadáveres?

— Não deliberadamente, mas... foi o que aconteceu.

Klaus inclinou-se um pouco para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, sentindo o peso das palavras conforme explicava.

— Hoje, com mais atenção, testei sair logo após matar um. Esperei à distância. Quando voltei, não tinha nada. Então é isso. É como se... os cadáveres chamassem os vivos.

Lisette levou um dedo ao queixo, pensativa, seu olhar perdido em algum ponto da vegetação ao redor.

— Isso nunca foi relatado.

— Pois é.

Klaus lançou um olhar breve para a névoa que pairava além do acampamento, como se tentasse decifrar os mistérios daquele lugar.

— Essa masmorra parece ter padrões próprios. Talvez seja um tipo de comportamento único desses vermes.

Ela inclinou ligeiramente a cabeça, seu tom tornando-se levemente especulativo.

— Bichos nunca vistos antes... E com um padrão de reprodução ou de surgimento tão acelerado assim... São perigosos.

— Muito, — confirmou Klaus, sua voz mais séria agora. — Tive sorte de não morrer ontem.

Um silêncio breve se instalou, quebrado por ela logo depois:

— Você é a quarta pessoa que encontro desde que entrei aqui, — disse, voltando a olhá-lo. — Vi um rapaz da Classe Eule 1 que, honestamente, é muito forte. Ele derrotou uns vinte a menos do que eu. E até agora, toda vez que encontrei alguém, percebi que estava na dianteira. Mas com você... não. Com você, eu estou muito atrás.

Ela estendeu o pulso e ativou o visor da pulseira. O número brilhou na tela luminosa.

62 Criaturas Eliminadas. 73 Créditos Acumulados.

— Esse é meu total. E eu achava que estava indo bem.

Klaus observou os números e deu de ombros, um sorriso cansado nos lábios.

— Você está indo bem. Só que, no meu caso, acho que foi mais teimosia do que técnica.

Lisette não respondeu de imediato.

Seus olhos permaneceram fixos no visor da própria pulseira, e havia um traço difícil de ler em sua expressão—algo entre admiração, frustração e curiosidade sincera.

Mas ela apenas suspirou, desligando o visor e voltando-se para ele.

— De todo modo... é impressionante.

Klaus sentiu um calor estranho no peito.

Não era comum ouvir um elogio dela, mesmo que velado.

Por um instante, a noite silenciosa da masmorra pareceu um pouco menos pesada.