Capítulo 22 – Parte 3

O mundo pareceu congelar por um instante, o silêncio tão denso que abafava até o som do mar distante. O corpo do aluno morto jazia na poeira cinzenta do chão, seu sangue ainda quente escorrendo em fios escuros, formando pequenas linhas semelhantes à teia de uma aranha.

O grupo, paralisado, tentava compreender a cena, os olhos fixos no garoto, cujas feições contorcidas pelo terror pareciam gritar em desespero. Tudo indicava que o verdadeiro pesadelo dessa masmorra ainda estava por vir.

Nesse momento, um som grave quebrou a quietude. O barulho de patas pesadas arrastando o solo, garras raspando pedras, rosnados guturais ecoando à distância, mas se aproximando.

Das sombras entre as rochas, vindo sabe-se lá de onde, numa direção que o grupo ignorara, surgiram salamandras de fogo. Não era um grupo de salamandras comuns, nem um grupo com apenas algumas elites isoladas. Eram apenas elites.

Elas tinham placas vermelhas e negras reluzindo sob a luz estática do céu da masmorra, os olhos dourados brilhando como brasas vivas. A maioria nada carregava; entretanto, algumas traziam itens que não deveriam: farrapos de uniformes, brasões partidos, membros humanos mutilados. Aparentemente, mais de um grupo nunca voltaria para a Falkenflug Akademie.

Klaus sentiu o estômago revirar. Ele contou, em meio ao pânico, quantas daquelas criaturas emergiam. Vinte e seis salamandras. Uma horda havia surgido. Algo que eles liam nos livros havia acontecido diante deles. A clareira, naquele momento, poderia virar um campo de execução. O deles.

O ar tornou-se sufocante, o calor da masmorra pesando como uma sentença. Branik apertou o escudo, os nós dos dedos brancos, a mandíbula travada. Leonhard, tentando manter a compostura, tremia, murmurando algo ininteligível, talvez uma prece, talvez uma maldição. Emília, com o bastão mágico cravado no chão, tinha os olhos arregalados, a calma habitual substituída por uma tensão que fazia suas mãos tremerem. Até Lisette, a inabalável Lisette, segurou as espadas curtas com uma seriedade gélida, os olhos fixos nas criaturas, sem um traço de hesitação, mas com uma gravidade que traía o peso da situação.

Klaus respirou fundo, o coração disparado, mas manteve a marreta em suas mãos, evitando ao máximo tremer e mostrar seu medo.

"Qualquer erro, qualquer descuido, e somos o próximo grupo a cair", pensou, o peso da realidade esmagando-o.

As salamandras avançavam lentamente, seus passos pesados ressoando como tambores de guerra, o círculo se fechando como uma armadilha viva. Eram predadores confiantes, sabendo que a vantagem era esmagadora. O cheiro de enxofre e sangue impregnava o ar, e o sexto sentido de Klaus, agora em E+, gritava. Um alarme constante, sem oferecer escapatória.

O grupo assumiu posições, movidos por instinto treinado. Branik ergueu o escudo, uma muralha viva na linha de frente, os pés firmes na rocha. Leonhard recuou, as mãos brilhando com mana enquanto preparava feitiços. Emília entoava encantamentos de suporte, o bastão pulsando com auras prateadas que envolviam o time. Lisette e Klaus flanqueavam, prontos para atacar, os olhos rastreando cada movimento das criaturas.

— Eles são muitos, Klaus — Lisette sussurrou, a voz tensa, mas os olhos fixos na horda. — Mais do que esperávamos.

Klaus assentiu, a marreta pesando em suas mãos suadas.

— Eu sei, Lisette. Mas não temos para onde correr.

— Emília, use Aumento de Vigor e Reforçar Defesas! Rápido! — Branik rosnou, o escudo já chiando levemente com o calor das salamandras que se aproximavam.

— Estou fazendo o que posso! Esses feitiços demoram! — Emília respondeu, a testa franzida em concentração, o suor escorrendo.

Leonhard nada falou, os olhos fixos na salamandra alfa que parecia liderar o grupo.

— Concentrem-se! Lembrem-se do treinamento! — Klaus gritou, tentando injetar alguma coragem em suas próprias palavras. — Cada um de vocês sabe o que fazer. Se cairmos, cairemos juntos. Não se entreguem!

Sob o céu azul eterno, parado como uma testemunha indiferente, o combate inevitável se aproximava. As salamandras rosnaram, suas placas tilintando como armaduras, os olhos dourados fixos nas presas. O grupo sabia: ou lutariam com tudo, usando cada gota de força, cada fragmento de coragem que tinham, ou seriam apagados, reduzidos a restos ensanguentados na vastidão impiedosa da masmorra.