O relógio marcava 9h27 quando Florencia entrou no Fórum Central.
A sala do julgamento era fria, com paredes brancas e bancos de madeira.Mas o clima era mais gelado ainda: os Montenegro já estavam lá.
Verónica, com óculos escuros e um véu discreto — como se fosse vítima.Leonardo, em silêncio.E, surpreendentemente, Isabela, sentada como quem assiste a uma peça... só que ela mesma escreveu o roteiro.
Florencia se sentou entre o advogado Gustavo e Mateo, que não tirava os olhos de Isabela. Ele sentia o cheiro da manipulação no ar.
A juíza entrou.
— “Estamos aqui para averiguar a autenticidade do vínculo entre a Sra. Florencia Ferreira e o Sr. Leonardo Montenegro. Além disso, analisaremos possíveis irregularidades em testamentos antigos.”
Gustavo foi o primeiro a falar:
— “Temos provas de que o Sr. Leonardo manteve um relacionamento com Mariana dos Santos, e que estava ciente da gravidez. Apresentamos uma carta escrita por Mariana, além de uma testemunha que confirmou ter entregue a correspondência ao próprio Leonardo.”
Murmuros pela sala.Verónica apertou os punhos.Leonardo abaixou a cabeça.
A juíza o chamou:
— “Sr. Leonardo, o senhor confirma que recebeu a carta?”
Silêncio.
Flor o encarava com um olhar duro, mas ainda com um resquício de esperança.
Ele suspirou, com a voz baixa:
— “Sim. Eu recebi. Mas fui covarde. Achei que Mariana queria dinheiro. Não respondi. E me calei... por vergonha.”
Flor sentiu algo quebrar por dentro.A verdade doía mais que a mentira.
Gustavo prosseguiu:
— “O exame de DNA realizado de forma extrajudicial também aponta compatibilidade de 99,9% entre pai e filha.”
Verónica se levantou.
— “Essa menina é uma aproveitadora! Está atrás de dinheiro! Ela quer destruir essa família por inveja!”
A juíza bateu o martelo.
— “Sente-se, senhora. O tribunal ouvirá todos, mas com respeito.”
Verónica obedeceu, mas seus olhos estavam em chamas.
Foi então que Isabela se levantou, sem ser chamada.
— “Se me permite, meritíssima, gostaria de apresentar uma dúvida sobre a integridade dessa carta. O papel está envelhecido demais para uma carta de vinte anos. E temos um perito que poderá comprovar falsificação.”
A juíza franziu o cenho.
— “Essa alegação foi protocolada?”
— “Não, meritíssima. Mas posso providenciar agora.”
Flor sentiu um gelo percorrer a espinha.
Gustavo cochichou:
— “Ela vai tentar adiar a decisão. Está ganhando tempo.”
A juíza respirou fundo.
— “O tribunal rejeita alegações não previamente apresentadas. O julgamento prossegue.”
Flor soltou o ar preso.
A última parte do julgamento foi o depoimento de Flor.
Ela se levantou, firme, voz controlada:
— “Eu não pedi pra nascer nessa guerra. Só queria a verdade. E o direito de saber de onde vim. Nunca quis tirar nada de ninguém — só queria que minha mãe fosse respeitada. Ela morreu sozinha, doente, sendo chamada de louca. Agora, quem era louco era esse silêncio.”
A juíza anotou algo. Olhou para os presentes.E anunciou:
— “A sentença será divulgada em 7 dias. Está encerrado.”
Ao sair do tribunal, Flor sabia que o pior ainda estava por vir.
Isabela a encarou no corredor e disse, num sussurro:
— “Você ganhou hoje. Mas essa guerra... ainda é minha.”
Flor não respondeu.
Apenas sorriu, fria.
Porque sabia que a próxima batalha seria pública, política, e financeira.
E ela já não era mais a mesma menina.
Agora, era uma Montenegro por direito... e por vingança.