Flashback – NovaStar Entertainment, Maio de 2011
Os corredores da agência pareciam um labirinto para Zaria, mas tinha um lugar onde ela sempre se sentia segura: a sala de ensaio número 3. Era onde Yuna costumava se esconder das responsabilidades por alguns minutos antes dos treinos exaustivos.
— Você não acha que devíamos estar ensaiando? — Zaria murmurou, observando Yuna sentada no chão, abraçando um violão.
— Devíamos, sim... Mas também precisamos respirar, não acha? — Yuna sorriu, seus olhos brilhando com um toque de travessura. — Além disso, você é um prodígio no violão. Quero uma apresentação particular.
Zaria corou, mordendo o lábio. Ainda não estava acostumada com os elogios diretos da mais velha.
— Eu não sou tão boa assim, já disse.
— Tente me enganar mais uma vez e vou te obrigar a dançar no meio do corredor lotado.
— Você não faria isso!
— Oh, eu faria.
Zaria suspirou, mas um pequeno sorriso escapou. Pegou o violão das mãos de Yuna, ajustou a posição e começou a tocar uma melodia suave. Seus dedos deslizavam pelas cordas com uma naturalidade que fazia a música parecer um reflexo de sua alma.
Yuna observava em silêncio, o que era raro para ela. Sempre tão falante, tão cheia de energia, agora estava completamente imersa naquele som. Zaria sentiu o olhar dela e, por um instante, desviou o olhar para encará-la.
A expressão de Yuna não era apenas de admiração. Era algo mais profundo, como se estivesse descobrindo um segredo que nem Zaria sabia que guardava.
— Você tem um dom especial. — Yuna murmurou, quase como um pensamento em voz alta.
Zaria riu, sem jeito.
— Diz isso para todos os trainees novos?
— Não. — A resposta veio rápida, e o olhar de Yuna era intenso. — Você é a única.
Um silêncio confortável se instalou entre elas, apenas a melodia preenchendo o espaço.
Então, Yuna estendeu a mão e tocou levemente a ponta dos dedos de Zaria. Um gesto pequeno, quase imperceptível. Mas Zaria sentiu.
Era como se um sentimento invisível sempre existisse entre elas. Uma conexão sutil, mas inegável.
E, de alguma forma, Zaria sabia que aquele momento ficaria com ela por muito tempo.
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Escritório da Sky Records – Uma semana depois, Setembro de 2023
Zaria correu pelos corredores da gravadora, seu coração acelerado não apenas pela pressa, mas pela turbulência de sentimentos que a envolvia. Hunter tinha aparecido sem aviso, atrasando sua saída. Ele sempre fazia isso. Criava obstáculos, a testava, fazia com que se sentisse culpada por coisas que não eram sua responsabilidade. Ele era sufocante.
Ao entrar na sala de reunião, todos já estavam lá, inclusive ela.
Yuna.
Zaria parou ao vê-la. O tempo tinha sido generoso com Yuna. Seus cabelos longos e pretos estavam ainda mais brilhantes, os olhos negros carregavam o mesmo brilho provocador e divertido de antes. Mas agora, ela era uma mulher adulta — uma presença ainda mais forte, uma confiança que se destacava.
E, por um breve segundo, Zaria se esqueceu de respirar.
Yuna, por outro lado, ao vê-la, apenas sorriu. O mesmo sorriso de anos atrás. Mas diferente da Zaria adolescente que sempre corava ao menor sinal de provocação, agora ela sustentava o olhar, embora sua respiração estivesse descompassada. Mais de uma década depois, elas estavam cara a cara.
— Vejo que continua com seu talento para chegar atrasada. — Yuna brincou, arqueando uma sobrancelha.
Zaria piscou, voltando ao presente.
— Vejo que continua implicante.
Yuna soltou uma risada baixa, cruzando os braços.
— Alguém tem que manter a tradição.
As pessoas ao redor riram baixinho, e a tensão inicial dissipou-se o suficiente para que Zaria conseguisse se sentar e se concentrar na reunião, pedindo desculpas pelo atraso. Seu empresário olhava intrigado para as duas; certamente, ele não sabia que elas já se conheciam.
Yuna ainda estava olhando para Zaria.
A reunião seguiu normalmente, discutindo detalhes do MV, do conceito, das filmagens. Mas Zaria sentia os olhos de Yuna sobre si em diversos momentos, e isso a deixava inquieta. Ela não imaginava que vê-la depois de anos ainda seria tão desconcertante. Seu coração batia tão forte. Ela se viu voltando para a adolescência — Yuna continuava causando os mesmos sentimentos nela sem nenhum esforço.
Quando tudo foi finalizado e os empresários começaram a se levantar, Yuna foi rápida:
— Yejin, vamos tomar um café? Colocar o papo em dia.
Zaria ponderou, mas ao perceber que seu empresário não se opôs, acabou assentindo. E, Yuna a tinha chamado pelo nome de batismo. Coisa que ninguém fazia além dos seus pais.
— Claro.
Yuna sorriu, satisfeita, e as duas seguiram para uma cafeteria próxima.
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O café foi servido, e Yuna, como sempre, estava relaxada, fazendo piadas e relembrando momentos da época de trainee. Mesmo que no fundo, ela soubesse que aquele encontro mexeu com seus pensamentos. Por fora, parecia calma, mas por dentro, sua mente estava em erupção.
— Lembra quando você derrubou seu milkshake em cima do produtor?
Zaria soltou um riso nervoso.
— Não precisava lembrar disso.
— Precisava, sim. Foi a primeira vez que vi você entrar em pânico. — Yuna riu, tomando um gole do café.
Zaria a observou, seu peito apertado. Era tão fácil estar com ela. Como se todos os anos separadas não tivessem significado nada. Yuna estava exuberante para Zaria; ela só melhorou com o tempo. A garota de 17 anos que conheceu permanecia ali, com gestos sutis. Mas a mulher que Yuna se tornara ofuscava completamente esses traços.
Ela tem pele clara e cabelos longos, lisos e pretos, que emolduram seu rosto de forma elegante. Seus olhos são grandes e expressivos, o tipo de olhar intenso e penetrante.
Em um momento de silêncio confortável, Yuna a encarou de um jeito diferente, os olhos escuros analisando-a com calma.
— Você está ainda mais bonita, sabia?
Zaria sentiu seu coração falhar uma batida.
— O quê?
Yuna sorriu de canto, apoiando o rosto na mão.
Zaria tinha cabelos loiros dourados, longos e lisos, que caem sobre os ombros. Seus olhos são igualmente grandes e marcantes, com um semblante mais suave e delicado. Sua aparência é graciosa e charmosa.
— Sempre foi linda. Mas agora... tem algo ainda mais cativante. Você cresceu. E eu gosto do que vejo. O loiro te cai muito bem. Você literalmente tem o rosto de uma estrela internacional. Eu nunca duvidei que você chegaria longe.
Zaria desviou o olhar, sentindo o rosto esquentar. O que Yuna estava fazendo com ela?
Ela ainda sentia o calor em seu rosto. As palavras de Yuna ecoavam como uma melodia perigosa dentro dela. "Você cresceu. E eu gosto do que vejo."
Ela mexeu na xícara de café, tentando parecer indiferente, mas Yuna percebeu. Claro que percebeu.
— O que foi? Está nervosa? — Yuna perguntou, um sorriso divertido brincando em seus lábios.
Zaria respirou fundo e ergueu o olhar.
— Por que estaria?
Yuna, inclinou-se ligeiramente na direção dela. Os olhos escuros estavam brilhando de pura provocação.
— Porque nunca soube lidar bem quando alguém flerta com você.
Zaria arregalou os olhos, sentindo a garganta secar.
— Você... está flertando comigo?
Yuna riu baixo, como se tivesse acabado de ouvir a coisa mais óbvia do mundo.
— O que você acha?
O coração de Zaria bateu forte. Ela mordeu o lábio, desviando o olhar para a janela. O que estava acontecendo ali?
Yuna continuou observando-a com aquele olhar intenso.
— Se fosse antes, você já estaria vermelha igual um tomate.
Zaria riu, balançando a cabeça.
— Talvez eu tenha aprendido a disfarçar melhor.
Yuna arqueou uma sobrancelha.
— Ou talvez você tenha aprendido a gostar.
Zaria sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O que era essa sensação no peito?
Ela não respondeu, e Yuna apenas sorriu de canto, satisfeita com o silêncio dela.
— Você não acha que a vida é cheia de surpresas? Quando nos conhecemos eu era quase uma idol, e agora, sou uma atriz prestes a estrelar o seu MV. Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer.
Zaria concordou com um sorriso.
— É verdade. Você se tornou uma atriz de sucesso. Eu não imaginava que você iria para o lado da atuação. Quer dizer, você é multi-talentos: canta, dança e atua. Quase uma Barbie profissões.
Yuna soltou uma gargalhada alta e sincera. Zaria ainda tinha o poder de tirar dela as melhores risadas.
— O seu humor não mudou nada, Yejin.
Zaria levantou o olhar — fazia tempo que ninguém a chamava assim. Afinal, o nome artístico veio justamente por causa de Yuna, no dia em que se conheceram.
O café foi terminando entre conversas mais leves, mas a tensão pairava no ar. Havia um pensamento não dito entre elas. Algo que ficava ali, pulsando, preenchendo cada espaço entre as palavras.
Quando se levantaram para ir embora, Zaria não sabia como se despedir. Não queria que aquele momento terminasse.
Yuna, percebendo, abriu os braços.
— Vem cá, já faz tempo.
Zaria respirou fundo e se aproximou, aceitando o abraço.
O toque foi mais envolvente do que esperava.
Yuna a envolveu com firmeza, segurando-a como se não quisesse soltar. O perfume dela era familiar e, ao mesmo tempo, hipnotizante. Zaria fechou os olhos, sentindo o calor do corpo dela contra o seu.
— Senti sua falta, sabia? — Yuna sussurrou perto de seu ouvido. — Me desculpe por ficar tanto tempo longe.
Zaria engoliu em seco, sentindo um arrepio percorrer sua pele.
Ela não respondeu. Apenas apertou o abraço um pouco mais forte antes de se afastar.
Quando seus olhos se encontraram, havia uma faísca.
— Nos vemos em breve, então. — Yuna sorriu.
Zaria apenas assentiu, sem confiar na própria voz.
Mas enquanto se afastavam, uma coisa era certa:
Naquela noite, ambas passariam o tempo inteiro pensando uma na outra.
E sorrindo.