Zaria segurava o celular com força, olhando para a tela de bloqueio onde os números marcavam 23h12. Faltavam menos de cinquenta minutos para o lançamento do seu álbum, e seu coração estava acelerado. Luna estava sentada no sofá ao seu lado, segurando uma taça de vinho, enquanto observava a amiga com um sorriso de canto.
— Você tá inquieta demais — comentou Luna, balançando levemente a taça.
— E como eu não estaria? — Zaria suspirou, passando a mão pelos cabelos loiros. — Eu esperei tanto por esse momento... Nem parece real.
— É claro que parece! Você trabalhou duro pra isso — Luna rebateu, dando um gole no vinho. — Eu te vi passando noites em claro, surtando com as músicas, se preocupando com cada detalhe. Isso aqui é só o resultado da sua dedicação.
Zaria sorriu, sentindo-se grata pelo apoio da amiga. Luna sempre estivera ao seu lado nos momentos mais importantes, e naquela noite não seria diferente.
Mas então, sua mente voltou ao momento de mais cedo, ao encontro inesperado com Yuna. Seu sorriso se alargou sem que percebesse, e Luna não deixou passar despercebido.
— Ok, agora eu quero saber quem fez você sorrir assim.
Zaria imediatamente disfarçou, pegando sua taça de vinho e tomando um gole rápido.
— Ninguém — respondeu, tentando parecer despreocupada.
— Aham, sei — Luna cruzou os braços. — Você esquece que eu te conheço bem demais? Isso tem nome e sobrenome.
Zaria revirou os olhos, mas manteve o mistério. Não queria compartilhar aqueles pensamentos ainda.
— Tá bom, não quer me contar, tudo bem. Mas e o Hunter? — Luna perguntou, mudando de assunto.
O sorriso de Zaria se desfez um pouco.
— O que tem ele?
— Até quando você vai deixar esse cara te infernizar?
Zaria suspirou, jogando a cabeça para trás no encosto do sofá.
— Luna, você sabe que não é tão simples.
— Claro que é — a outra retrucou. — Você já deveria ter colocado um ponto final nisso há tempos.
Zaria mordeu o lábio. Ela sabia que Luna tinha razão. Hunter era um peso do qual ela precisava se livrar, mas, de alguma forma, ele sempre dava um jeito de se manter por perto, mesmo quando ela tentava afastá-lo.
— Eu só... não quero confusão agora — Zaria admitiu, baixando o olhar. — Ainda mais com o lançamento do álbum.
— Z, esse cara é uma âncora te segurando no fundo. Você merece estar cercada de pessoas que te fazem bem, não de alguém que só suga sua energia.
A loira respirou fundo, sentindo o peso das palavras de Luna.
— Eu sei.
— Então faz alguma coisa sobre isso. Porque, se depender de mim, na próxima vez que eu ver esse cara, ele vai se arrepender de ter respirado perto de você.
Zaria soltou uma risada, sentindo-se um pouco mais leve.
— Eu prometo que vou pensar nisso.
Luna balançou a cabeça, satisfeita por pelo menos ter plantado a semente.
— Ótimo. Agora, vamos focar no que importa — disse, pegando o celular e olhando o horário. — Faltam vinte minutos!
Zaria sentiu o estômago revirar de nervoso, mas, uma excitação tomou conta dela. O álbum estava prestes a ser lançado. E, dessa vez, nada nem ninguém tiraria isso dela.
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Yuna estava deitada na sacada da sua suíte, os fones de ouvido conectados ao celular, o céu escuro pontilhado de estrelas acima dela. A cidade à sua volta parecia distante, irrelevante. A única coisa que importava naquele momento era a voz de Zaria preenchendo seus ouvidos, suas palavras cravando-se em sua pele.
Cada música carregava um pedaço da alma dela. A melancolia, os suspiros, a dor escondida entre os versos. Yuna podia sentir tudo. Era impossível não se perguntar se aquelas letras eram sobre algo específico — alguém específico.
Então, a penúltima música começou a tocar.
Uma melodia suave, familiar. Uma letra que ela já ouvira antes.
Yuna sentou-se de imediato, o coração acelerado.
— Não pode ser... — murmurou para si mesma.
Dois anos após o debut dela com o grupo Eternal sunshine, em uma noite qualquer, Zaria tinha cantado um trecho para ela. Apenas um verso, quase sem pretensão, como se fosse um pensamento em voz alta. Yuna se lembrava de como a melodia tinha ficado presa em sua mente, de como tinha elogiado Zaria na época.
E agora... agora estava ali, em seu álbum.
Yuna apertou o celular entre os dedos, ouvindo cada palavra com ainda mais atenção. A letra falava sobre o passar do tempo e as mudanças que ele traz, mas também sobre os laços que permanecem, mesmo quando a vida segue em direções inesperadas. Era uma canção nostálgica, quase como uma carta escrita para alguém especial, refletindo sobre momentos compartilhados e a incerteza do futuro.
Seu peito apertou.
Ela percebeu o que aquilo significava.
Se Zaria manteve aquela música por tanto tempo, se ela escolheu colocá-la em seu álbum de estreia... então talvez ela ainda pensasse naquilo. No que quer que tenha acontecido entre elas.
Ou no que não aconteceu.
Antes que pudesse pensar demais, Yuna abriu o chat e digitou uma mensagem.
Yuna: Ouvi seu álbum inteiro. Você se superou, Yejin. Está lindo.
Ela mordeu o lábio. Então digitou a segunda parte.
Yuna: Mas preciso perguntar... "Years without you"? Você ainda lembra daquela noite?
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Zaria estava deitada no sofá, a cabeça apoiada no colo de Luna, os dedos girando distraidamente a taça de vinho já quase vazia. O nervosismo pelo lançamento tinha sido substituído por uma leve embriaguez, e ela ria de algo aleatório que Luna tinha dito quando seu celular vibrou.
Ao ver o nome de Yuna na tela, seu riso morreu.
Luna percebeu a mudança e estreitou os olhos.
— É quem eu tô pensando?
— Shh. — Zaria ignorou a provocação da amiga e abriu a mensagem.
Ao ler o nome da música, seu coração deu um pulo. Ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
Yuna lembrava.
Ela sentiu o calor do álcool nublar um pouco seu julgamento, mas então seus dedos começaram a se mover no teclado.
Zaria: Você ouviu tudo?
Yuna: Cada trecho.
Zaria passou a língua pelos lábios, sentindo-se vulnerável. Então, decidiu se permitir um momento de honestidade.
Zaria: E o que você achou?
Demorou um minuto para Yuna responder.
Yuna: Acho que você contou nossa história, na penúltima música.
O estômago de Zaria revirou. Luna percebeu sua expressão e tentou espiar a tela, mas Zaria se afastou, apertando o celular contra o peito.
Respirou fundo antes de digitar de volta.
Zaria: Talvez algumas histórias precisem ser contadas.
Dessa vez, Yuna respondeu mais rápido.
Yuna: E algumas precisam de um novo final.
O coração de Zaria disparou outra vez.
Ela olhou para a tela por longos segundos, sentindo uma sensação quente se espalhar por seu peito. Perigosa. Sensação essa que ela não sabia se estava pronta para lidar.
Mas uma coisa era certa: a conversa daquela noite mudaria tudo.