Yuna decidiu que não deixaria Zaria sozinha naquele dia. Não depois de tudo que ouvira. Então, fez o que sabia fazer de melhor: trouxe leveza para o momento.
Depois de secar as lágrimas, levou Zaria para a cozinha.
— Vamos cozinhar juntas! Se tem uma coisa que cura qualquer alma ferida, é comida boa! — disse com um sorriso animado.
Zaria riu fraco.
— Desde que não seja você quem cozinhe, pode ser.
— Ei! Eu sou uma chef incrível! — Yuna protestou, colocando as mãos na cintura.
— Claro, claro... — Zaria zombou, os olhos brilhando com um toque de diversão.
Elas passaram a tarde cozinhando — ou pelo menos tentando. Entre ingredientes derrubados, farinha no rosto e risadas altas, Zaria se viu esquecendo completamente da discussão com Hunter. Estar com Yuna sempre fora sinônimo de diversão, ela se sentia leve, como se um peso tivesse sido retirado de seus ombros.
Depois do jantar, sentaram-se no sofá, revivendo memórias do passado. Falaram sobre os primeiros anos na indústria, os desafios, os momentos engraçados nos bastidores.
— Você lembra daquela vez em que quase caí do palco e segurei no vestido da Syx? — Zaria riu, cobrindo o rosto de vergonha.
— Lembro?! Eu chorei de tanto rir! Você quase derrubou ela junto! Era numa aula de dança, senão me engano.
Elas gargalharam até sentirem o rosto doer. Era nostálgico, reconfortante. Como se voltassem a ser aquelas jovens sonhadoras que apenas queriam cantar e se divertir.
Então, sem pensar duas vezes, Zaria olhou para Yuna com um brilho sincero nos olhos.
— Você quer dormir aqui hoje?
Yuna assentiu. Ela não deixaria Zaria sozinha, ainda mais tão vulnerável.
— É claro que sim.
Com isso, prepararam um espaço no chão da sala com um grande cochonete e várias almofadas. Abriram uma garrafa de vinho e passaram a noite conversando, rindo, brindando. Como nos velhos tempos, que faziam piquenique no quarto.
Os minutos se transformaram em horas. E, em algum momento da madrugada, Yuna percebeu que Zaria havia adormecido.
Ela olhou para a amiga ao seu lado, os traços delicados. Zaria parecia em paz.
Yuna pegou um cobertor e, com cuidado, envolveu Zaria em seus braços.
Sentiu o calor dela, a respiração tranquila contra sua pele.
E assim, as duas permaneceram abraçadas, como se, naquele instante, nada mais importasse.
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O sol da manhã invadia suavemente a sala, filtrando-se pelas cortinas e criando um brilho dourado sobre o cochonete onde Yuna e Zaria dormiam. O ambiente estava silencioso, apenas o som distante do tráfego nas ruas quebrava a tranquilidade.
Zaria abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes enquanto se acostumava com a luz suave. Sentiu um corpo quente ao seu redor, um abraço aconchegante que a envolvia por completo.
Foi então que percebeu.
Ela estava nos braços de Yuna.
A outra dormia profundamente ao seu lado, o rosto sereno, os traços relaxados pelo sono tranquilo. Zaria permaneceu imóvel, apenas observando. Tinha uma calma cativante em Yuna. O modo como sua respiração era suave, como seus lábios se entreabriam levemente enquanto dormia.
Zaria sorriu, sentindo o peito aquecer com uma ternura inesperada.
Uma mecha de cabelo de Yuna tinha caído sobre seu rosto, e Zaria, instintivamente, estendeu a mão para afastá-la. Seus dedos roçaram suavemente a pele da amiga, que se remexeu ligeiramente.
Antes que Zaria pudesse se afastar, sentiu o corpo de Yuna se mover e, em um gesto inconsciente, ela a puxou para mais perto, abraçando-a como se fosse um travesseiro.
Zaria arregalou os olhos, sentindo o calor aumentar entre elas.
Seu coração acelerou, mas, ao ver a expressão dengosa de Yuna, que franziu levemente a testa antes de afundar ainda mais no abraço, ela não conseguiu conter um sorriso.
Yuna era mesmo adorável.
Sem lutar contra aquele momento, Zaria relaxou nos braços dela. Havia um conforto genuíno ali, um conforto que a fazia se sentir segura e protegida.
E, sem perceber, fechou os olhos novamente.
Adormeceu outra vez no calor daquele abraço.
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O cheiro do café fresco preenchia o apartamento, misturando-se com o calor suave da manhã. Mas antes disso, antes das xícaras e do pão tostado, houve um despertar que Yuna não esqueceria tão cedo.
Ela sentiu o corpo de Zaria se mover antes mesmo de abrir os olhos. O abraço que antes parecia tão natural agora a fazia sentir uma estranha eletricidade na pele. Yuna se esticou preguiçosamente, resmungando algo incompreensível antes de afundar o rosto nos cabelos de Zaria.
Foi nesse momento que Zaria despertou completamente.
Seu coração deu um salto ao perceber como estavam próximas. Tão próximas que conseguia sentir o calor da respiração de Yuna contra sua pele.
— Bom dia, princesa. — A voz de Yuna saiu rouca de sono, e tinha um sorriso brincando em seus lábios.
Zaria sentiu as bochechas queimarem.
— Y-Yuna... você pode me soltar agora.
Yuna não pareceu ter pressa alguma.
— Ah... que pena. Eu estava tão confortável... — Ela suspirou dramaticamente, mas, antes de soltá-la, sussurrou com um tom divertido: — Dormir abraçadinhas assim... Parece até que somos um casal.
Zaria sentiu o rosto pegar fogo.
— N-Não diga coisas assim logo de manhã!
Yuna abriu os olhos e a encarou com um sorriso malicioso.
— O quê? Só estou constatando fatos. — Ela piscou, se espreguiçando e finalmente soltando Zaria. — Mas, sinceramente... se todas as minhas noites de sono fossem assim, eu não reclamaria. Eu dormi muito bem.
— Yuna! — Zaria protestou, cobrindo o rosto com as mãos.
A risada de Yuna ecoou pelo apartamento, cheia de travessura.
Após o banho e algumas tentativas frustradas de evitar o olhar divertido de Yuna, Zaria preparou o café da manhã. A atmosfera estava leve.
Yuna, como sempre, fazia piadas e brincava, mas agora Zaria notava um sentimento novo nos gestos dela. A forma como a observava por cima da xícara de café, o jeito que sua voz ficava um pouco mais suave quando falava seu nome.
Zaria tentava ignorar a estranha sensação que se instalava em seu peito, mas era difícil.
— Gostei desse serviço de hotel. Uma noite confortável e um café da manhã maravilhoso? Vou começar a vir mais vezes. — Yuna brincou, pegando um pedaço de pão.
— Desde que você pare de fazer comentários indecentes de manhã cedo, podemos negociar. — Zaria retrucou, estreitando os olhos.
Yuna sorriu de canto.
— Você ficou corada na hora. Fofo.
Zaria suspirou, tentando esconder um sorriso.
Elas tomaram o café da manhã juntas, conversando como sempre, mas tinha uma troca de olhares a mais, uma risada que ficava um pouco mais prolongada, um silêncio confortável que antes não existia.
Quando chegou a hora de Yuna ir embora, Zaria a acompanhou até a porta.
— Você tem certeza de que não quer ficar mais um pouco? — A pergunta saiu antes que Zaria pudesse segurar.
Yuna sorriu suavemente, passando a mão pelos cabelos.
— Eu adoraria. Mas se eu não for agora, vou acabar morando aqui.
Zaria riu, mas ao ver Yuna sair pela porta, sentiu um aperto no peito que não esperava.
Quando a porta se fechou, ela olhou para o apartamento vazio e suspirou. O espaço parecia grande demais, silencioso demais sem Yuna ali.
Enquanto dirigia pelas ruas de Seul, Yuna apoiou uma mão no volante e a outra no queixo, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.
Ela não sabia explicar, mas sentia o peito se contrair e um sorriso involuntário aparecer no canto dos lábios. O cheiro de Zaria ainda estava em suas roupas.
E, parando para refletir, ela sentiu falta daquele cheiro antes mesmo de se afastar por completo.