máscaras caindo

Yuna dirigia pelas ruas de Seul com o rádio ligado, cantarolando baixinho enquanto se aproximava do prédio de Zaria. Desde a gravação do videoclipe, as duas estavam se reaproximando, e Yuna estava animada para passar um tempo com ela. Sabia que Zaria estaria de folga, então fez questão de liberar sua agenda para surpreendê-la.

Ao chegar ao edifício, cumprimentou o porteiro e subiu no elevador. Não avisou que estava indo porque queria que fosse realmente uma surpresa. Mas, assim que saiu no andar de Zaria, percebeu que algo estava errado.

Pelo corredor, era possível ouvir vozes abafadas.

Uma discussão.

Yuna franziu a testa e se aproximou lentamente da porta.

— Você não entende, Zaria? Eu faço tudo por você e é assim que me retribui? Fingindo que eu não sou nada? — a voz de Hunter ecoou, carregada de raiva.

Yuna congelou no lugar.

Hunter?

Seu coração pesou. O que ele estava fazendo ali? Até onde sabia, ele e Zaria não tinham nenhum envolvimento. Mas ali estava ele, dentro do apartamento dela, falando com uma agressividade que Yuna jamais imaginou.

— Hunter, por favor, abaixa a voz... — Zaria respondeu, a voz trêmula.

— Abaixar a voz? Para quê? Para que você continue me tratando como se eu fosse descartável? Você acha que pode brincar comigo desse jeito?

O estômago de Yuna revirou. Tinha alguma coisa muito errada.

Sem perder tempo, bateu na porta com firmeza.

O silêncio caiu instantaneamente dentro do apartamento. Segundos depois, passos apressados vieram em direção à porta. Quando Zaria abriu, sua expressão estava pálida, os olhos brilhando como se estivesse segurando lágrimas.

— Yuna... o que você está fazendo aqui?

Antes que ela pudesse responder, Hunter apareceu atrás de Zaria. Seu olhar encontrou o de Yuna e, por um breve instante, ele pareceu perdido. Como se sua máscara tivesse escorregado por um segundo e ele soubesse que fora flagrado.

Mas logo ele se recompôs.

— Yuna — disse, forçando um sorriso. — Que surpresa.

Yuna cruzou os braços e olhou diretamente para Zaria.

— Eu vim visitar minha amiga. Mas pelo visto... cheguei em um momento complicado.

Zaria baixou o olhar, desconfortável. Hunter, por outro lado, tentou manter a postura, mas Yuna percebeu como ele estava tenso.

— Foi só uma discussão boba — ele disse rapidamente. — Coisas de casal, sabe?

Yuna piscou.

Casal?

Seu cérebro levou alguns segundos para processar aquela informação. Hunter e Zaria estavam juntos? Aquele mesmo Hunter que tinha dado em cima dela?

Ela sentiu uma onda de raiva subir por seu peito.

— Engraçado — ela disse, encarando Hunter com frieza. — Você não mencionou nada sobre estar em um relacionamento quando me chamou para sair.

O corpo de Zaria ficou rígido. Hunter cerrou a mandíbula, mas tentou rir de forma despreocupada.

— Você deve ter entendido errado...

— Entendido errado? — Yuna interrompeu, dando um passo à frente. — Porque eu me lembro muito bem do que você disse naquele dia.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Zaria olhou de um para o outro, claramente confusa.

— Hunter... o que ela está falando?

Ele bufou, passando a mão pelos cabelos.

— Zaria, isso não é nada. Eu só estava brincando com Yuna, não tem motivo pra isso virar um problema.

Yuna soltou uma risada seca.

— Brincando? Você me chamou para sair. Disse que seríamos uma ótima dupla. — Ela então virou-se para Zaria. — Ele sempre te trata assim quando ninguém está por perto?

Zaria abriu a boca para responder. Sua expressão era a de alguém que estava tentando encontrar palavras para justificar o injustificável.

Yuna sentiu seu peito apertar.

Ela viu o olhar de Zaria. O cansaço. A maneira como seus ombros estavam tensos, como se estivesse constantemente na defensiva.

E foi nesse momento que Yuna percebeu.

Zaria estava vivendo algo muito pior do que ela imaginava.

Ela respirou fundo e olhou diretamente para Hunter.

— Eu não sei o que está acontecendo entre vocês, mas uma coisa eu sei. — Seu olhar se tornou afiado. — Eu não vou fingir que não vi isso.

A expressão de Hunter se fechou. Ele sabia que Yuna não era do tipo que se calava.

E, naquele momento, percebeu que ela se tornaria um problema para ele.

Hunter ajustou a jaqueta, passando a mão pelos cabelos em um gesto frustrado. Seu olhar passou de Zaria para Yuna, seus lábios se entreabriram como se quisesse falar, se justificar. Mas ele percebeu que não adiantaria. Yuna já tinha visto quem ele realmente era.

— Nos falamos depois, Zaria — disse ele, a voz ainda carregada de irritação.

E, sem esperar resposta, saiu do apartamento, batendo a porta atrás de si.

O silêncio que ficou no ar foi sufocante.

Zaria permaneceu de pé no meio da sala, olhando para a porta fechada como se estivesse congelada. Mas então, seus ombros começaram a tremer. Suas mãos se apertaram ao redor do próprio corpo, como se tentasse segurar o peso dentro de si.

Foi nesse momento que desabou.

Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, e Yuna não pensou duas vezes. Correu até ela e a envolveu em um abraço apertado, segurando-a como se pudesse protegê-la de toda a dor que carregava.

— Está tudo bem... — murmurou, acariciando os cabelos de Zaria. — Coloca tudo para fora.

Zaria segurou o tecido da blusa de Yuna com força, enterrando o rosto em seu ombro, soluçando sem se conter. Elas ficaram assim por vários minutos. Sem pressa. Yuna sabia que ela precisava daquilo. Precisava se permitir sentir.

Quando os soluços diminuíram, Zaria respirou fundo, ainda com a cabeça encostada no ombro dela.

— Eu... eu não sei o que fazer... — sua voz saiu fraca, trêmula.

Yuna se afastou ligeiramente, segurando o rosto de Zaria entre as mãos e olhando diretamente em seus olhos avermelhados.

— Então me conta. O que está acontecendo entre você e o Hunter?

Zaria pensou. Sua expressão era de alguém que carregava um peso enorme, um peso que nunca tinha conseguido dividir com ninguém. Mas, olhando para Yuna, viu compreensão, viu apoio.

Ela sentiu que poderia contar a verdade.

Respirou fundo e começou a falar.

— Eu e Hunter estamos juntos há três anos... Desde o início, sempre foi complicado. Ele tem um jeito intenso, possessivo. No começo, eu achava que era só porque ele gostava muito de mim. Mas, com o tempo, começou a ficar pior...

Yuna permaneceu em silêncio, ouvindo cada palavra com atenção, o coração se apertando com cada detalhe.

— Ele me controla, Yuna. Controla o que eu faço, com quem eu falo... Eu sempre preciso tomar cuidado com as palavras para não irritá-lo. E quando ele se irrita... — Zaria desviou o olhar, como se sentisse vergonha. — Ele nunca me machucou fisicamente, mas as palavras dele... Elas doem tanto quanto.

Yuna sentiu um nó na garganta.

— Zaria... — sua voz saiu em um sussurro.

— E eu tentei, sabe? Tentei sair. Mas ele sempre volta, pedindo desculpas, dizendo que vai mudar, que me ama mais do que qualquer coisa. E eu... — Zaria fechou os olhos, frustrada consigo mesma. — Eu fico com medo de que ele realmente mude, e eu me arrependa de ter ido embora.

Yuna segurou suas mãos com firmeza.

— Não, Zaria. Você não pode pensar assim. Isso não é amor. Amor não machuca, não sufoca, não te faz sentir medo.

A mais nova olhou para ela, vulnerável.

— Mas eu não sei como sair disso...

Yuna respirou fundo. Agora tudo fazia sentido. A forma como Zaria estava sempre tão reservada, como parecia se esforçar para parecer feliz. Hunter era o queridinho da mídia, sempre sorridente, sempre atencioso em frente às câmeras. Mas, no íntimo, era um narcisista cínico que manipulava Zaria há anos.

— Escuta o que eu vou te dizer — começou Yuna, a voz firme, mas gentil. — Você não precisa dele. Você é talentosa, independente, tem uma carreira incrível e pessoas que te amam. Você consegue sair disso. Mas precisa querer.

Zaria baixou o olhar.

— E se eu não conseguir?

Yuna apertou suas mãos.

— Você não está sozinha. Eu estou aqui. E não vou permitir que ele continue te machucando.

Zaria sentiu as lágrimas voltarem, mas dessa vez eram diferentes. Ela sentia que alguém realmente via sua dor.

E, no fundo, começou a acreditar que talvez pudesse ser forte o suficiente para sair daquela situação.