Zaria estava saindo do escritório da gravadora após uma tarde intensa de preparativos para sua turnê, quando seu celular vibrou com uma mensagem de Yuna a convidando para jantar. O convite foi recebido com um sorriso discreto, que ela prontamente aceitou.
Ao chegar ao restaurante fino, avistou Yuna à sua espera, segurando uma rosa delicada entre os dedos. O gesto a pegou de surpresa, e ela sentiu seu coração aquecer com a atenção e carinho da outra.
— Para você — Yuna disse, estendendo a flor com um sorriso charmoso.
Zaria pegou a rosa com cuidado, tocada pelo gesto.
— Obrigada, é linda.
Elas se sentaram e começaram a conversar sobre os acontecimentos da semana. Yuna, sempre atenta, logo tocou no assunto que a preocupava.
— Você tem falado com o Hunter? — perguntou, entrelaçando os dedos sobre a mesa.
Zaria suspirou, pegando o celular e o destravando. — Veja por si mesma. — Ela passou o aparelho para Yuna, que arregalou os olhos ao ver a tela cheia de notificações.
Havia mais de 40 ligações perdidas e quase 100 mensagens. O nível de toxicidade de Hunter era pior do que Yuna imaginava. Ele cercava Zaria de todas as formas, como uma teia de aranha.
— Nossa, isso é absurdo em tantos níveis. Esse cara é louco!
— Isso porque você não viu as que eu apaguei sem nem ler. Ele me sufoca.
Yuna lia algumas mensagens pela aba de notificação, sem realmente abri-las. Começou a pensar por que era tão difícil para Zaria se livrar disso. Hunter a deixava encurralada com suas chantagens emocionais. Ele fazia isso há tanto tempo que já dominava a arte de convencê-la. Mas agora ele percebia que Zaria estava agindo diferente. Ela o ignorava há dias, e isso o estava enlouquecendo. Seu desespero era tão grande que passou a enviar mensagens até para a mãe da jovem, que ligou para a filha preocupada. Zaria disse apenas o necessário — não queria preocupar sua mãe. Ela sequer imaginava o abuso psicológico que a filha sofria.
— Eu estou orgulhosa de você por finalmente estar dando um gelo nele. Esse é o primeiro passo para se desvencilhar. Apenas não deixe que ele chegue perto de você até que esteja pronta para enfrentá-lo. Sei que falar é muito fácil. Já passei por uma situação semelhante, onde tive que tomar uma decisão para o meu próprio bem-estar. Você vai sofrer pela perda, mas não vai morrer por isso. O tempo cura tudo.
Zaria ouvia atentamente. Yuna parecia distante ao falar aqueles pensamentos.
— Eu soube pela mídia sobre o seu ex... Deve ter sido difícil deixá-lo após tanto tempo — ela disse com compreensão.
— Acho que o mais difícil foi aceitar que uma pessoa com quem compartilhei tantos anos da minha vida foi capaz de me trair de uma maneira tão sórdida e pública. Ele não se importou com o que eu sentiria. Foi um covarde por não ser sincero. Nós, como pessoas públicas, temos que ter cautela em diversos lugares, mas ele simplesmente não deu bola para fazer aquilo em público e manchar minha reputação.
— Você ainda o ama? — Zaria perguntou de forma direta e sincera. Yuna olhou em seus olhos e respondeu com firmeza:
— Não. Deixei de amá-lo no momento em que vi as fotos. Ele não merecia mais o meu amor.
Zaria assentiu, sem conseguir formular uma frase. Então Yuna continuou:
— E você, ama o Hunter?
— Eu acho que... amo o Hunter que conheci há três anos, o cara legal e gentil. Eu me apego àquelas memórias. E isso torna tudo mais difícil. O cara que ele é hoje é alguém que não reconheço. Eu não sinto nada por ele.
Yuna observou Zaria atentamente antes de mudar de assunto, tentando trazer um tom mais leve à conversa. Zaria estava começando a se perder no próprio sofrimento, e Yuna não queria que a noite terminasse assim.
— E quando vai ser o primeiro show da sua turnê? — perguntou com curiosidade.
— No próximo sábado — Zaria respondeu com um brilho animado nos olhos. — Aqui em Seul.
Yuna franziu os lábios, lembrando-se de que estaria fora da cidade nesse dia. Internamente, pensou em como poderia dar um jeito de estar lá de surpresa, mas manteve esse pensamento para si. Apenas sorriu e disse:
— Vai ser incrível. Seus fãs estão ansiosos por isso.
Zaria sorriu de volta, sem suspeitar do que passava pela cabeça de Yuna. Elas continuaram conversando, aproveitando a noite e o raro momento de leveza em meio ao turbilhão de emoções que cercava suas vidas.
A noite estava fria quando o carro parou diante do prédio de Zaria. A luz amarelada dos postes iluminava suavemente a rua, refletindo-se nos vidros escuros do veículo. Dentro do carro, o clima era diferente da doçura descontraída do jantar que haviam compartilhado. Agora, um silêncio envolvia as duas, carregado de algo indefinido, algo denso que nenhuma delas ousava definir.
Zaria virou-se para Yuna com um sorriso tímido, os olhos suavizados pelo brilho discreto do painel do carro.
— Obrigada pelo jantar. Foi realmente especial.
Yuna assentiu lentamente, deixando o olhar vagar pelo rosto delicado da outra.
— Você merece momentos especiais, Zaria.
Sua voz saiu mais baixa do que pretendia, mais rouca, e ela percebeu que seu próprio coração acelerava.
Zaria umedeceu os lábios, sentindo um estranho calor subir por sua nuca.
— Foi bom passar um tempo assim com você... Sem pressões, só nós duas.
Yuna inclinou-se um pouco mais perto, absorvendo a expressão serena de Zaria, cada detalhe de sua pele iluminada de maneira suave.
— Acho que deveríamos fazer isso mais vezes.
O silêncio voltou a se instalar, mas dessa vez parecia palpável, quase tangível. Yuna ponderou antes de erguer uma das mãos e pousá-la suavemente no rosto de Zaria. Seu toque era quente, firme, e fez Zaria prender a respiração sem perceber.
Com um movimento deliberadamente lento, Yuna inclinou-se e pressionou um beijo contra a bochecha dela. Mas não foi um beijo breve. Não foi um mero toque. Seus lábios permaneceram ali por segundos a mais do que o necessário, absorvendo o calor da pele de Zaria, sentindo sua respiração falhar.
Zaria sentiu um arrepio percorrer sua carne, os dedos se apertando contra o tecido do próprio casaco. O perfume de Yuna envolvia-a, uma mistura suave e viciante que fazia seus sentidos se embaralharem. Quando Yuna finalmente se afastou, seus olhos encontraram os de Zaria, e havia curiosidade ali — um sentimento escondido, mas que preenchia o espaço entre elas como eletricidade no ar antes de uma tempestade.
Zaria piscou algumas vezes, sua mente processando tudo em câmera lenta.
— Eu... boa noite, Yuna.
Yuna não respondeu rapidamente. Apenas sorriu de canto, observando o efeito que seu toque deixara em Zaria.
— Boa noite, Zaria.
Zaria abriu a porta do carro, saindo apressadamente para dentro do prédio, sem ousar olhar para trás. Seu coração batia contra o peito de maneira descompassada, suas bochechas ainda ardiam. Assim que entrou no elevador, tocou de leve o lugar onde Yuna a beijara, sentindo uma corrente de sensações contraditórias passarem por seu corpo.
Dentro do carro, Yuna permaneceu imóvel, os dedos tamborilando levemente no volante. Ela também sentia o peso daquele momento, uma intensidade desconhecida que parecia puxá-la para um caminho sem volta. Suspirou, apoiando a cabeça no encosto do banco, antes de finalmente ligar o motor e partir.
Ambas sabiam que alguma coisa tinha sido plantado naquela noite. Mas nenhuma delas estava pronta para admitir isso — não ainda.