O sol já brilhava no céu quando Zaria abriu os olhos. Ainda sonolenta, virou-se na cama, esperando ver Yuna ao seu lado, mas o espaço estava vazio. Ela sorriu sozinha, lembrando-se da noite anterior, do primeiro beijo, dos carinhos trocados, das palavras sussurradas no escuro. Tudo parecia um sonho.
Ao se levantar, sentiu um aroma suave de café. Curiosa e com o coração aquecido, caminhou até a área externa da casa, onde encontrou Yuna arrumando uma mesa próxima à piscina. Era uma cena digna de um filme: a luz da manhã refletia na água azulada, e sobre a mesa estavam pães frescos, frutas, panquecas douradas e duas xícaras de café fumegante.
— Bom dia, minha Rockstar — Yuna brincou ao vê-la se aproximar, segurando um jarro de suco de laranja. Seu sorriso era radiante.
Zaria mordeu o lábio, sentindo um calor gostoso dentro do peito.
— Você fez tudo isso? — perguntou, emocionada.
— Claro! Depois da noite que tivemos, achei que merecíamos uma manhã especial. — Yuna piscou, puxando uma cadeira para que Zaria se sentasse.
Elas aproveitaram o café da manhã sem pressa. Entre garfadas e goles de café, se olhavam com carinho, riam de pequenas bobagens e trocavam toques sutis que faziam o coração de Zaria disparar. Depois da refeição, se acomodaram em uma espreguiçadeira ao lado da piscina, com Zaria deitada entre as pernas de Yuna, encostando a cabeça em seu peito. Os dedos de Yuna passeavam distraidamente pelos cabelos dela, enquanto trocavam palavras doces e carícias leves.
— Não quero ir embora... — Zaria murmurou, apertando os olhos para o sol que brilhava sobre elas.
— Então fica — Yuna respondeu, apertando-a um pouco mais contra si.
— Você sabe que não posso... — suspirou.
— Eu sei, mas não gosto nem um pouco da ideia de te soltar. — Yuna deslizou os dedos pelo braço de Zaria, fazendo-a arrepiar.
Zaria sorriu e se virou para olhar a mulher que, em tão pouco tempo, já fazia seu mundo parecer diferente. Ela estava perdida nesse olhar quando seu celular apitou, quebrando o encanto. Seu motorista havia chegado.
— Parece que meu tempo acabou — ela sussurrou, relutante.
— Eu ainda acho que você pode ficar... — Yuna brincou, fazendo um biquinho exagerado.
Zaria riu, mas seu coração apertou ao ver a sinceridade nos olhos de Yuna. Sem conseguir evitar, segurou o rosto dela entre as mãos e depositou um beijo em seus lábios.
— Eu volto — prometeu.
Yuna suspirou, assentindo, antes de ajudá-la a pegar sua bolsa e acompanhá-la até o carro. Com um último olhar cheio de significado, Zaria entrou no veículo e partiu.
No caminho para casa, encostou a cabeça no vidro e deixou os pensamentos vagarem. Seu corpo ainda lembrava do calor de Yuna, do jeito como ela a segurava, dos beijos que tinham trocado. Era tudo tão novo, mas ao mesmo tempo tão certo. Zaria suspirou, sorrindo para si mesma. Ela se sentia nas nuvens.
Mas sua paz foi interrompida pelo som de uma notificação no celular. Pegou o aparelho e seu estômago revirou ao ver o nome que brilhava na tela: Hunter.
"Hunter: Estou de volta. Passo no seu apartamento à noite. Precisamos conversar."
O sorriso de Zaria desapareceu instantaneamente. Seu peito apertou, mas, ao invés do medo de antes, ela sentiu determinação. Essa seria sua chance de acabar com tudo. E desta vez, para sempre.
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O clima dentro do apartamento de Zaria estava carregado. Ela sentia o peito fervilhando, os dedos tremiam enquanto segurava o celular. Logo Hunter chegaria.
Nos últimos dias, as ligações incessantes e mensagens manipuladoras estavam acumuladas: "Eu preciso falar com você", "Por que está me ignorando?", "Você sabe que isso me machuca". E agora, a pior delas: "Se não me atender, eu vou até você".
E era o que ele estava prestes a fazer.
Quando o interfone tocou, Zaria fechou os olhos, respirou fundo e aceitou a realidade. Era agora. Ela abriu a porta e, ali, estava ele.
Hunter sempre soube usar a aparência a seu favor. Alto, bonito, um verdadeiro príncipe aos olhos do público. Mas Zaria sabia a verdade. Nos bastidores, ele era outra pessoa. E agora, parado à sua frente, seu olhar trazia o charme encantador de antes — mas havia uma irritação contida.
— Finalmente — ele disse, entrando sem ser convidado.
Zaria fechou a porta e se virou para encará-lo. Seu coração batia forte, mas ela manteve a postura. Não ia ceder desta vez.
— O que você quer, Hunter? — perguntou, cruzando os braços.
Ele riu de canto, como se aquilo fosse uma piada.
— O que eu quero? Quero saber por que minha namorada me ignora há semanas. Eu volto para casa e descubro que você sumiu. Agora, você quer agir como se nada estivesse acontecendo?
Zaria mordeu o lábio inferior. Ele ainda tinha a audácia de se fazer de vítima. Como sempre.
— Não estou agindo como se nada estivesse acontecendo, Hunter. Eu apenas tomei uma decisão. E você precisa aceitar.
Os olhos dele se estreitaram. O sorriso sumiu.
— Que decisão? — Ele deu um passo à frente. — O que você está tentando dizer?
Zaria engoliu em seco. Mas não recuou.
— Estou dizendo que acabou.
Hunter piscou algumas vezes, como se tivesse escutado errado. Depois, soltou uma risada seca, balançando a cabeça.
— Você só pode estar brincando. Acabou? Depois de tudo? Você simplesmente decidiu que não me quer mais?
— Não. Eu decidi que não quero mais sofrer. — A voz dela saiu firme. Pela primeira vez em anos, ela sentiu o controle nas mãos.
Hunter apertou a mandíbula. Ele se aproximou mais, e Zaria sentiu o cheiro do perfume dele, o mesmo cheiro que um dia a fez se apaixonar. Agora, só causava repulsa.
— Você está diferente — ele murmurou, inclinando a cabeça. — Quem foi? Quem colocou essa ideia ridícula na sua cabeça? Foi aquela atriz? A Yuna? Desde que ela apareceu na sua vida, você tem agido estranho.
Zaria sentiu o sangue gelar. Ele sabia. Ou pelo menos suspeitava.
— Isso não tem nada a ver com ninguém — respondeu, mantendo a calma. — Tem a ver comigo. E com tudo o que você fez.
Hunter bufou e passou as mãos pelos cabelos, claramente irritado.
— Você realmente acredita que pode me deixar assim? Depois de tudo que fiz por você? Eu estive ao seu lado quando ninguém estava. Eu te amei, Zaria! E é assim que você me agradece?
Ela sentiu a raiva crescer dentro de si.
— Amar? — Ela soltou uma risada incrédula. — Você me impediu de viver! Me isolou de amigos, me fez sentir culpada por cada pequena coisa! Você me manipulou o tempo inteiro, Hunter! Isso nunca foi amor. E eu demorei, mas finalmente percebi isso.
O olhar dele escureceu. Foi então que ele percebeu. O brilho prateado que sempre adornava a mão esquerda de Zaria não estava lá. Sua expressão se contorceu em fúria.
— Onde está sua aliança?
Zaria nem piscou. Com a mão firme, retirou do bolso o anel e o estendeu para ele.
— Estou te devolvendo.
O silêncio foi cortante. Hunter pegou o anel com força, os dedos tremendo de raiva.
— Você vai se arrepender disso — ele disse, sua voz baixa e cortante. — Você sabe que eu posso acabar com você, Zaria. Com um estalar de dedos, posso destruir sua carreira.
Ela sentiu o coração acelerar. O medo tentou se infiltrar. Mas não desta vez.
— Tente. — Sua voz não vacilou. — Eu não tenho mais medo de você.
Hunter encarou-a por longos segundos. Então, sem mais uma palavra, virou-se e saiu, batendo a porta com força.
Assim que ficou sozinha, Zaria sentiu as pernas fraquejarem. Ela deslizou até o chão, as lágrimas finalmente escorrendo pelo rosto.
Mas não era tristeza. Era alívio. Ela estava livre.
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Dia seguinte
Zaria encarava o celular em suas mãos, o coração ainda acelerado pelo confronto com Hunter na noite anterior. Sabia que ele não desistiria tão facilmente. Mas desta vez, não haveria volta.
Ela pegou o telefone e discou para a portaria do prédio.
— Boa tarde, senhorita Park. Como posso ajudar? — a voz do porteiro soou do outro lado da linha.
— Boa tarde, senhor Jeon. Eu preciso atualizar a lista de pessoas autorizadas a entrar no meu apartamento. — Sua voz estava firme. — Hunter Chang não está mais autorizado. Se ele aparecer, não permitam a entrada dele e me avisem imediatamente.
— Entendido, senhorita Park. Vamos atualizar o sistema agora mesmo e instruir os seguranças. Qualquer tentativa de entrada será reportada a você.
Zaria expirou lentamente.
— Obrigada, senhor Jeon. — E desligou.
Sem perder tempo, abriu o aplicativo de mensagens e procurou o contato de Luna.
Zaria: Lu, eu consegui.
A resposta veio em forma de chamada de vídeo.
— O quê? O que você conseguiu? Me conta tudo, agora! — Luna praticamente gritou.
Zaria respirou fundo, sorrindo.
— Eu terminei com o Hunter. Devolvi o anel. Liguei para a portaria. Ele não vai mais entrar aqui.
Luna gritou de alegria.
— Eu estou TÃO orgulhosa de você! Como você se sente?
— Aliviada. E um pouco nervosa. Mas livre.
— Isso é o mais importante. Vamos comemorar!
Zaria riu.
— Hoje eu só quero descansar. Mas vamos marcar sim.
— Combinado. Se precisar de mim, estou aqui.
Zaria sorriu, o coração livre das amarras que a seguraram por anos.
Logo depois, abriu outra conversa:
Zaria: Acabou. Hunter e eu. Finalmente.
Yuna: Eu sabia que você conseguiria. Você está bem?
Zaria: Sim. Cansada. Mas bem.
Yuna: Isso é tudo o que importa. Podemos nos ver amanhã?
Zaria: Claro. Eu adoraria.
Yuna: Então é um encontro.
Zaria sentiu as bochechas esquentarem. Um novo começo se aproximava. Calmo. Sincero. E finalmente, só dela.