confissão

O vento soprava suavemente pela varanda do quarto de Yuna. O céu de Seul estava pintado com tons suaves de azul e rosa, e o silêncio confortável entre elas era preenchido apenas pelo som distante da cidade.

Zaria brincava distraidamente com o pingente do colar que Yuna lhe dera durante a viagem. Ela sentia que havia um sentimento no ar, algo que Yuna queria dizer, mas ainda não tinha encontrado coragem.

— O que foi? — Zaria perguntou, olhando para ela.

Yuna tinha os olhos fixos no horizonte antes de soltar um suspiro longo.

— Eu preciso te contar uma coisa. Uma coisa que eu deveria ter dito há muito tempo.

Zaria inclinou a cabeça, curiosa, mas esperou pacientemente.

Yuna respirou fundo antes de continuar:

— Quando éramos trainees... eu tinha uma queda por você.

Zaria arregalou os olhos, completamente pega de surpresa.

— O quê?

Yuna riu, um pouco nervosa.

— Sim. Mas eu era uma adolescente confusa, e você também era muito nova. Eu não queria insistir nesses pensamentos, então... eu simplesmente os afastei.

Zaria piscou algumas vezes, processando aquilo.

— Você nunca deu nenhum sinal...

Yuna deu um meio sorriso.

— Porque eu estava ocupada tentando esconder de mim mesma. Eu era jovem e assustada, e na minha cabeça, sentir aquilo por outra garota... sentir aquilo por você... parecia errado.

Zaria sentiu o peito apertar.

— Foi por isso que você se afastou?

Yuna assentiu, desviando o olhar.

— Sim. Quando fiz meu debut, minha vida virou de cabeça para baixo. E, aos poucos, eu fui me distanciando de você. Mas o pior de tudo... — Yuna fechou os olhos, a culpa estampada em sua expressão. — Foi ter parado de responder suas mensagens. Você não merecia aquilo.

Zaria se lembrou dos dias em que esperava por uma resposta que nunca chegava. Das vezes que pensou que tinha feito algo errado. Da saudade crescente que sentia de Yuna, sem entender o motivo do afastamento.

— Eu sentia tanto a sua falta... — Zaria murmurou, a voz embargada.

Yuna a olhou nos olhos, cheia de arrependimento.

— Eu também. Mas, ao invés de lidar com isso, eu enterrei tudo. Achei que era melhor assim.

Zaria suspirou, mordendo o lábio inferior, pensativa antes de falar:

— Você sabe... — ela começou, um pouco incerta. — Que eu escrevi "Years without you" por sua causa?

Yuna inclinou a cabeça, observando-a com um olhar carregado de lembranças.

— Eu sempre soube. No instante em que ouvi a música pronta, eu soube. A letra falava tudo o que estávamos passando naquela época. Mas... o que realmente me fez ter certeza foi quando você me enviou a demo. A letra era a mesma.

Zaria se lembrou daquele dia. Do tempo que passou ensaiando se enviava ou não.

— Eu achava que você nem tinha ouvido de verdade.

Yuna soltou uma risada baixa.

— Ouvi. E senti cada palavra.

Elas se encararam, absorvendo o peso daquela confissão.

— Por que nunca me disse nada? — Zaria perguntou, a voz carregada de emoção.

— Porque eu me sentia culpada. Eu sabia que tinha te magoado, e quando ouvi a música, foi como se tudo o que eu estava fugindo me atingisse de uma vez. Eu queria te procurar, te pedir desculpas, mas... não tive coragem.

Zaria sorriu suavemente, um sorriso misturado com tristeza e compreensão.

— Você já está se redimindo agora.

Yuna entrelaçou os dedos nos de Zaria, apertando com leveza.

— E eu pretendo continuar.

Naquele instante, o passado não parecia mais uma sombra dolorosa entre elas. Era apenas uma lembrança, um caminho tortuoso que as levou até ali. Juntas.

Elas decidiram se deitar. O quarto estava iluminado apenas pela luz suave do abajur, criando um ambiente acolhedor. Zaria estava deitada na cama, olhando para o teto, enquanto Yuna estava ao seu lado, apoiada no cotovelo, observando-a atentamente.

— No que está pensando? — Yuna perguntou suavemente, acariciando uma mecha do cabelo de Zaria.

Zaria suspirou, virando-se para encará-la.

— Em como eu nunca imaginei que estaríamos aqui. Juntas, desse jeito.

Yuna sorriu, os olhos cheios de ternura.

— Nem eu. Mas agora que estamos, não quero te perder de novo.

Zaria sentiu o coração acelerar com aquelas palavras. Yuna era tão segura de si, tão intensa nos sentimentos, e isso a fazia se sentir protegida. Mas, ao mesmo tempo, ainda havia cicatrizes dentro dela.

— Eu... eu ainda me sinto quebrada, Yuna. Ainda tem coisas dentro de mim que doem.

Yuna segurou delicadamente o rosto de Zaria entre as mãos, os polegares acariciando sua pele macia.

— Eu não espero que você se cure do dia para a noite, Yejin... Só quero estar aqui para te ajudar. Quero curar o seu coração ferido, se você me deixar.

Zaria sentiu seus olhos marejarem. Yuna era a primeira pessoa a lhe dizer algo assim, sem pressa, sem expectativas irreais. Apenas com amor.

— Você já está me curando — ela sussurrou, antes de tomar a iniciativa e unir seus lábios aos de Yuna.

O beijo começou suave, repleto de sentimentos. As mãos de Yuna deslizaram, trazendo-a para mais perto. A respiração de ambas se misturava, os corações batendo em um ritmo acelerado, como se finalmente tivessem encontrado um lar uma na outra.

Yuna se afastou em busca de ar, seus olhos escuros analisando o rosto de Zaria, como se estivesse procurando qualquer sinal. Ultimamente, elas estavam tendo momentos mais quentes, mais íntimos. Mas Yuna sabia que Zaria ainda tinha seus limites. Ela sempre se afastava quando sentia que ia perder o controle. Beijar Zaria era viciante.

— Não precisamos ter pressa. Eu só quero que você fique bem.

Zaria se aninhou em seu peito.

— Você é tão incrível. Por que demoramos tanto tempo para nos reencontrar?

— Eu não sei. Mas estou feliz que finalmente te reencontrei.