Zaria deslizava os dedos pelo violão, concentrada na melodia que compunha enquanto a equipe ajustava os detalhes técnicos do ensaio. O estúdio estava tranquilo, o ar-condicionado soprava suavemente, e as luzes frias criavam uma atmosfera relaxante. Ela respirou fundo, tentando se conectar com as notas, mas um arrepio inesperado percorreu sua espinha. Era como se estivesse sendo observada.
Levantando os olhos, seu coração parou ao notar uma silhueta encapuzada próxima à porta do estúdio. O homem se manteve nas sombras, mas Zaria reconheceria aquele olhar em qualquer lugar. Hunter Chang. Seu estômago revirou. Desde que os escândalos sobre ele vieram à tona, ela nunca mais o viu pessoalmente. E agora, ele estava ali, camuflado em um ambiente onde não deveria estar.
A equipe parecia alheia à presença dele, focada nos equipamentos e nas telas, mas Zaria sabia que ele não estava ali por acaso. Tentando manter a calma, ela colocou o violão no suporte e se levantou lentamente.
— O que você está fazendo aqui? — sua voz saiu firme, mas seu coração martelava no peito.
Hunter se aproximou alguns passos, tirando o capuz. Seu rosto estava abatido, olheiras profundas marcavam sua expressão, e os lábios estavam pressionados em uma linha rígida. Ele parecia uma sombra do homem que um dia desfilava arrogância por onde passava.
— Preciso falar com você — sua voz soou rouca, quase suplicante.
Zaria cruzou os braços. O simples fato de ele estar ali já a incomodava profundamente.
— Não temos mais nada para conversar, Hunter. Saia daqui antes que alguém te veja.
Ele riu, mas sem humor.
— Você viu as notícias. Sabe o que estão dizendo sobre mim. — Ele deu mais um passo à frente, os olhos escuros fixos nela. — Minha carreira está desmoronando, Zaria. Você precisa me ajudar.
Como ele tinha coragem de pedir isso a ela?
— Eu? — ela soltou uma risada incrédula. — Eu não te devo nada, Hunter. Tudo o que está acontecendo é consequência dos seus próprios atos. Você não pode me envolver nisso.
Ele bufou, irritado.
— Você pode desmentir. Pode dizer que nunca fui um namorado abusador. Que tudo isso é mentira.
A frieza nas palavras dele fez Zaria sentir um calafrio. Por tanto tempo, ela abaixou a cabeça para as manipulações dele. Mas não mais.
— Eu não vou mentir por você, Hunter. Porque não é mentira. — Ela manteve o olhar fixo no dele, sem recuar. — Eu vivi isso. Eu sofri com você. E agora o mundo está vendo quem você realmente é. Não é meu problema.
A expressão dele mudou, tornando-se sombria.
— Você não entende, Zaria. Se não me ajudar, eu estou acabado. Tudo o que construí vai desmoronar. Você realmente quer isso? Quer me ver no fundo do poço?
— Eu quero que você pague pelo que fez. Quero que ninguém mais passe pelo que eu passei ao seu lado. Se isso significa que sua carreira vai acabar, então que seja. — Seu coração batia descompassado, mas suas palavras saíam afiadas.
Hunter cerrou os punhos, os olhos se estreitando. Pela primeira vez, parecia perceber que não tinha mais controle sobre ela.
— Você vai se arrepender de me virar as costas, Zaria. — Sua voz era baixa, carregada de ameaça.
Ela não cedeu. Manteve-se firme, os ombros erguidos.
— Nunca mais me procure, Hunter. Se fizer isso, eu mesma cuidarei para que todos saibam ainda mais sobre quem você realmente é. Agora saia daqui.
Os olhos dele ardiam em raiva, mas por fim deu meia-volta e saiu pela porta. Assim que ele desapareceu, Zaria sentiu o corpo inteiro tremer. Seu peito subia e descia em respirações irregulares. Como ele sabia que ela estava ali? Quem o ajudou a encontrá-la?
Ela pegou o celular e discou rapidamente o número de Yuna. A atriz atendeu quase imediatamente, a voz preocupada.
— Amor? Está tudo bem?
Zaria respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas.
— Hunter estava aqui. No estúdio. Ele me encontrou.
— O quê?! — A voz de Yuna subiu uma oitava, carregada de alarme. — Como assim? O que ele queria?
— Ele queria que eu o ajudasse a limpar a imagem dele. Disse que eu podia desmentir as acusações. Quando eu me recusei, ele me ameaçou.
Do outro lado da linha, Yuna ficou em silêncio, mas Zaria pôde ouvir a respiração pesada da namorada.
— Onde você está agora? Está sozinha? — Yuna perguntou, a voz séria.
— Estou com a equipe, mas estou nervosa. Como ele conseguiu me encontrar? Alguém deve ter dito onde eu estava...
— Você precisa reforçar sua segurança, amor. Não podemos correr riscos. Vou ligar para alguém agora mesmo.
Zaria passou a mão pelos cabelos, ainda tentando processar tudo.
— Eu não queria que chegasse a esse ponto, mas acho que você tem razão. Ele não vai desistir tão fácil.
— É claro que tenho razão — Yuna disse, a voz mais terna agora. — Você é minha prioridade, e eu não vou permitir que nada aconteça com você. Vamos resolver isso, juntas.
O nó no peito de Zaria começou a se desfazer. Saber que Yuna estava ao seu lado, pronta para protegê-la, fazia toda a diferença. Ela não estava mais sozinha nessa luta.
— Eu te amo, Yuna — sussurrou, sentindo os olhos marejarem.
— E eu amo você, meu amor. Vou cuidar de tudo, só me prometa que não vai se expor. Me espere aí, estou indo até você.
Zaria fechou os olhos e respirou fundo. Por mais que o passado tentasse assombrá-la, agora ela tinha alguém ao seu lado. E isso fazia toda a diferença.