limites

Yuna dirigia tranquilamente pelas ruas de Seul, os dedos deslizando com familiaridade sobre o volante. O rádio tocava uma melodia suave, preenchendo o silêncio confortável entre elas. O trânsito estava leve para um fim de tarde, e a cidade passava pelos vidros como um cenário em movimento. Ela tinha ido buscar Zaria no ensaio, após o susto com Hunter mais cedo.

Zaria, sentada no banco do passageiro, não conseguia desviar os olhos de Yuna. Seu olhar passeava pelo perfil da mulher ao seu lado, admirando cada detalhe com uma ternura silenciosa. A linha definida da mandíbula, o jeito como os lábios se curvavam levemente em concentração, os fios de cabelo soltos caindo sobre os ombros. Yuna parecia a mulher mais bonita do mundo naquele momento.

— O que foi? — Yuna perguntou, sentindo o olhar intenso sobre si. Ela desviou rapidamente os olhos da estrada para encarar Zaria com um sorriso curioso.

Zaria piscou, como se tivesse sido pega em flagrante. Mordeu o lábio inferior e riu baixinho, desviando o olhar antes de encará-la de novo.

— Nada... Só estou olhando para você. — Sua voz saiu mais suave do que pretendia.

Yuna sorriu de canto, gostando da atenção.

— E o que tem para olhar tanto? Eu tenho algo no rosto? — brincou.

Zaria suspirou e apoiou o rosto na mão, os olhos ainda fixos nela.

— Você é linda, Yuna. Sério. Não sei como consegue ser assim o tempo todo.

Yuna riu, balançando a cabeça.

— Agora eu sei que você quer alguma coisa. O que foi, hm?

Zaria estava com a mente cheia nos últimos dias. Seu empresário vinha se tornando mais insistente, ultrapassando limites que ela não gostava. Sempre questionando suas escolhas, impondo compromissos sem consultá-la. Como se quisesse ter controle sobre cada passo seu. E, para piorar, ele estava ainda mais evasivo quando ela tentava conversar sobre o futuro de sua carreira solo. Isso a incomodava, mas ela não se sentia pronta para expor isso a ninguém. Nem mesmo a Yuna.

Ela mordeu o lábio, tomando uma decisão súbita.

— Eu tinha um jantar com o meu empresário hoje... Mas acabei de decidir que não vou mais.

Yuna arqueou uma sobrancelha, surpresa.

— Não vai? Por quê?

Zaria suspirou, passando os dedos pelo cabelo.

— Porque eu não quero. Porque eu prefiro estar com você esta noite. — Sua voz era firme, mas havia uma suavidade ali, uma confissão sincera.

Yuna piscou algumas vezes, absorvendo as palavras. Depois, sorriu, desviando rapidamente os olhos para a estrada antes de voltar a encará-la.

— Você está fugindo dele, não está?

Zaria riu baixo, balançando a cabeça.

— Talvez. Mas, principalmente, eu só quero ficar com você.

Yuna segurou o volante com uma mão e estendeu a outra para entrelaçar os dedos com os de Zaria. Um gesto simples, mas que fez o coração de Zaria acelerar.

— Então, você dorme comigo hoje? — Yuna perguntou, o tom levemente divertido, mas os olhos brilhando de felicidade.

Zaria assentiu, apertando a mão dela de volta.

— Sim. Eu só quero paz hoje. Só quero você. Mas vou sair bem cedo amanhã, porque tenho um show marcado.

Yuna sorriu grande, satisfeita, e beijou a mão de Zaria rapidamente antes de voltar a se concentrar na estrada.

— Bem, nesse caso... Acho que podemos pedir comida e fazer uma maratona de filmes. Ou podemos...

Zaria a interrompeu, sorrindo.

— Ou podemos só ficar juntas, sem planos.

Yuna virou-se e encontrou o olhar sincero de Zaria. Seu peito aqueceu com a ternura daquela declaração.

— Eu gosto dessa ideia também — murmurou.

E assim, sem mais delongas, Yuna apertou um pouco mais a mão de Zaria e acelerou em direção ao conforto do lar, onde poderiam simplesmente ser elas mesmas, longe das pressões externas.

---

A noite estava calma. Yuna e Zaria decidiram aproveitar o momento apenas para elas. Juntas, montaram uma bela tábua de frios, repleta de queijos variados, frutas frescas e pequenas torradas crocantes. O vinho escolhido por Yuna era suave, perfeito para a noite tranquila que planejavam ter.

Zaria estava especialmente reflexiva naquela noite. O jantar que havia desmarcado com seu empresário pesava em sua mente, mas o alívio de estar ao lado de Yuna compensava qualquer desconforto. Depois de tudo pronto, as duas se dirigiram à varanda, o lugar favorito delas na casa de Yuna.

Zaria sentou-se entre as pernas de Yuna, recostando-se confortavelmente em seu peito. O calor do corpo de sua amada trazia uma sensação de segurança que ela tanto precisava. Yuna, por sua vez, passou os braços ao redor dela, puxando-a para mais perto, enquanto brincava distraidamente com os fios dourados de seu cabelo.

— Você está tão calada hoje, amor — Yuna comentou, beijando de leve o topo da cabeça de Zaria. — Ainda está pensando na conversa que teve com o Hunter?

Zaria suspirou, tomando um pequeno gole do vinho antes de responder.

— Não exatamente. Estou pensando no meu empresário. Últimamente tem sido difícil lidar com ele. Ele tem estado ainda mais atento aos meus passos. Quase como se quisesse me vigiar.

Yuna franziu a testa, apertando levemente os braços ao redor dela, como se quisesse protegê-la.

— Ele falou alguma coisa sobre nós duas? Sobre estarmos sempre juntas ultimamente?

— Não diretamente, mas está sempre sugerindo encontros para "acertar pendências", quer saber onde estou o tempo todo, acrescentando compromissos na minha agenda sem me consultar... Hoje, ele insistiu nesse jantar para conversarmos sobre essas "pendências", mas eu simplesmente não consegui ir. Meu coração disse para não ir. — Zaria virou o rosto para olhar Yuna, seus olhos castanhos refletindo a luz suave da lua. — Fiz errado?

Yuna passou os dedos suavemente pelo rosto dela, traçando a linha de seu maxilar com ternura.

— Claro que não. Você deve sempre confiar no que sente. Se alguma coisa dentro de você dizia para não ir, então foi a decisão certa. Às vezes, nossa intuição percebe coisas que nossa mente ainda não processou.

Zaria assentiu, apoiando-se ainda mais em Yuna, absorvendo seu calor e suas palavras. Ficaram assim por um tempo, apenas apreciando a companhia uma da outra, sentindo a brisa suave da noite. Yuna pegou um pedaço de morango da tábua e levou aos lábios de Zaria, que aceitou com um sorriso pequeno.

— Eu sei que ele é importante para sua carreira, mas ninguém tem o direito de ultrapassar seus limites, amor. Você é dona da sua própria voz, do seu próprio destino. Se ele está te deixando desconfortável, você precisa estabelecer esses limites.

— Eu sei, é que é complicado... — Ela suspirou, fechando os olhos ao sentir Yuna deixar um beijo delicado em sua têmpora. — Mas quando estou com você, eu esqueço de tudo isso. Você me faz sentir leve, livre.

Yuna sorriu, beijando sua bochecha antes de sussurrar em seu ouvido:

— E eu farei de tudo para que você sempre se sinta assim.

Elas continuaram ali, na varanda, aproveitando aquele momento de cumplicidade. O mundo lá fora podia ser complicado, mas juntas, pareciam invencíveis.