Zaria estava sentada no banco de madeira sob a cerejeira do jardim da casa dos seus pais, com as mãos trêmulas segurando a pequena caixinha de veludo azul-marinho. O sol poente tingia o céu em tons de dourado e rosado, como se a natureza tivesse decidido acompanhar a emoção que ela sentia naquele instante. O som do vento entre as folhas embalava a ansiedade doce que vinha crescendo dentro dela.
Yuna apareceu na varanda sorrindo, com os cabelos presos em um coque desajeitado e uma xícara de chá nas mãos. Ao ver Zaria ali, ela desceu os degraus devagar, notando o olhar nervoso da namorada. Zaria se levantou assim que a viu.
— Posso te dar uma coisa? — Zaria perguntou, com um sorriso pequeno nos lábios.
Yuna arqueou uma sobrancelha, surpresa.
— Já ganhou meu coração. Ainda tenho direito a mais?
Zaria riu, sem conseguir conter o nervosismo. Entregou a caixinha para Yuna com as duas mãos, como se entregasse um objeto sagrado.
— Abre.
Yuna abriu a caixa devagar e encontrou uma pulseira delicada de prata, com vários pingentes cuidadosamente pendurados. Seus olhos se fixaram no presente por alguns segundos, e depois se voltaram para Zaria, confusos e curiosos.
— Cada um desses pingentes representa um momento nosso... como uma linha do tempo. Queria que você tivesse uma lembrança pra carregar tudo o que vivemos. De um jeito bonito, só nosso.
Yuna sentou-se no banco ao lado de Zaria, sem tirar os olhos da pulseira.
— Você fez isso pra mim?
Zaria assentiu e pegou a pulseira entre os dedos, começando a girar os pingentes um a um.
— Esse aqui — disse, apontando para o primeiro — é um pequeno microfone. Representa o início. A música, que nos conectou mesmo quando a gente não sabia que isso iria acontecer. Foi na música que eu pensei em você pela primeira vez. E foi através dela que a gente se reencontrou.
Yuna sorriu, tocando o pequeno pingente com delicadeza.
— Esse é o urso que te dei — Zaria continuou — ele simboliza a noite em que nos beijamos e nos reencontramos. E que eu me apaixonei de novo ao ver você sorrir.
Yuna mordeu o lábio, tentando conter a emoção.
— Esse é um violão — Zaria apontou — Porque me lembra da primeira conversa que tivemos. E da música que eu compus para você. O primeiro indício da nossa ligação de alma.
Yuna soltou um riso breve e emocionado.
— Tem uma câmera aqui também — disse Zaria, mostrando um pingente pequeno e bem detalhado. — Porque você sempre esteve diante das câmeras, e ainda assim, foi nos bastidores que me mostrou quem você realmente era. A Yuna que ri de qualquer besteira, que dança em programas ao vivo como se fosse a coisa mais divertida do mundo. E foi impossível não te amar.
Yuna pegou a pulseira em suas mãos, girando até o próximo pingente.
— Um boné — ela murmurou.
— Quando te vi no meu primeiro dia como trainee, você estava usando um — Zaria sorriu. — O dia em que te conheci, foi o mais marcante da minha vida. Naquela época, eu não sabia que estava diante da minha verdadeira metade. E foi a partir daquele dia que os meus sonhos começaram a ser realizados.
— E esse? — Yuna apontou para um pingente em formato de palco.
— O palco que sempre foi meu refúgio, mas também minha prisão. E foi por você que ele voltou a ser apenas um lugar onde eu canto, porque fora dele eu finalmente vivo.
Yuna levou a mão à boca, tocada demais pelas palavras.
— Esse aqui — disse Zaria, apontando por fim ao último pingente. — é um coração entrelaçado com uma lua. O coração é nosso, e a lua... é o símbolo de tudo o que foi secreto, silencioso e bonito. Como a nossa história, que mesmo nas sombras, floresceu.
Zaria respirou fundo, os olhos úmidos.
— Queria que você tivesse isso com você. Queria que nunca esquecesse do quanto cada pedacinho nosso construiu esse amor.
Yuna não conseguiu falar. Apenas olhou para Zaria, os olhos marejados, o peito apertado por uma emoção boa demais para ser descrita.
— Você acabou de me dar a coisa mais linda que eu já recebi — sussurrou. — Eu nem sei o que dizer.
Zaria sorriu. Ela também tinha a mesma pulseira, guardada em outra caixinha da mesma cor.
— Só diz que vai usar.
— Vou usar para sempre.
Yuna se inclinou e beijou Zaria, com a intensidade de quem entende a raridade do amor que tem nas mãos. Elas ficaram ali, por um tempo. No segundo andar, os pais de Zaria olhavam de longe a cena, verdadeiramente felizes pela filha.
— Eu espero que o amor delas seja resiliente o suficiente para suportar qualquer adversidade — disse sua mãe, com um olhar pesaroso.
— Eu também, querida. No meio em que elas vivem, tudo pode se tornar um caos, se não for conduzido da forma certa. Não quero que nenhuma das duas se machuque.
Yuna se aconchegou no colo de Zaria, com a pulseira no punho, como se fosse um pedaço do coração da cantora que agora também era seu. Zaria também tinha a sua no pulso.
Elas sabiam que nada no mundo conseguiria apagar a história que estavam escrevendo. Porque algumas conexões, quando nascem de verdade, se tornam eternas. E elas agora tinham a própria linha do tempo gravada em prata e embalada por amor.