irmandade

O relógio marcava 19h quando a campainha do apartamento de Luna tocou. Ela, empolgada com a noite de reencontro, correu até a porta com o vinho já na mão. Era a primeira vez que o grupo inteiro se reunia desde o hiato — e também a primeira vez que Yuna se juntaria oficialmente àquela zona apocalíptica chamada VENUS.

— Prontas para ver uma coisa maravilhosa? — Luna perguntou às outras, com um sorriso malicioso no rosto, enquanto ia abrir.

— Você está falando da Zaria ou da namorada dela? — Syx respondeu, já mastigando uma fatia de pizza. Estava esparramada no chão, cercada por almofadas.

A porta se abriu... e então o caos começou.

— AAAAAAAH! — foi o grito agudo e prolongado de Mina, assim que viu Yuna entrar com Zaria logo atrás. — É ELA! É A PRÓPRIA! Ai meu Deus, eu tô tremendo! É a mulher mais gostosa da Coreia do Sul na MINHA frente, na MINHA casa!

— Na casa da Luna, no caso — Syx corrigiu calmamente, sem sequer olhar.

Mina não ouviu. Estava girando no próprio eixo como uma garotinha que acabou de ver seu idol favorito ao vivo. Ela pulou, apontou, tropeçou num tapete e quase derrubou o refrigerante em cima da mesa. Zaria segurava a barriga de tanto rir.

— Eu avisei que ela ia surtar — Luna disse, satisfeita, tomando um gole do vinho como quem assiste a um ótimo reality show.

Yuna parou, rindo muito. — Gente, que recepção calorosa. Eu deveria ter vindo antes!

— EU TE AMO! — Mina gritou. — Tipo, de verdade. Eu te assisti em "The great achievement" TRÊS vezes. Meu pai também. E minha tia. Você é tipo patrimônio da Coreia!

— A mulher tá toda suada e tremendo — comentou Syx, ainda rindo. — Parece que viu um alienígena que fala coreano fluente.

— A gente viu mesmo, porque essa mulher aqui não é real — Mina disse, agarrando o braço de Luna como apoio emocional.

Zaria deu um passo à frente, segurando a mão de Yuna como se dissesse "calma, ela é minha".

— Mina, se recomponha. Você tá fazendo minha namorada achar que ela entrou num culto.

— MAS ELA ENTROU! — Mina gritou de novo. — Um culto ao corpo perfeito e ao talento supremo! Eu amo as gays, você sabe.

Yuna, divertida, entregou a sacola com os vinhos para Luna.

— Tá aqui nosso presente da viagem. E talvez um calmante pra Mina, se você tiver.

— Já coloquei maracujina no refrigerante dela — disse Syx, balançando o copo. — Não adiantou nada.

Logo a noite seguiu com mais risadas, muita comida e vinho. Mina, depois de um tempo, conseguiu se acalmar (relativamente) e até sentou ao lado de Yuna com um olhar sonhador.

— Eu ainda não superei que você existe.

— Eu existo e como bastante carboidrato, se isso ajuda — respondeu Yuna, pegando um pedaço de tteokbokki.

— Isso só te deixa mais perfeita.

Foi aí que, no meio de uma conversa sobre comentários nas redes sociais, Luna teve a ideia absurda. Ela olhou para as pernas de Yuna — cruzadas elegantemente — e falou com a maior naturalidade do mundo:

— Zaria... Você me permite dar uma apalpada na coxa da sua gata? Sempre tive essa curiosidade.

Zaria parou no meio da mordida.

— Você tá brincando?

Yuna soltou uma gargalhada.

— Essa é nova. Luna, você andou bebendo demais? — Syx pergunta incrédula.

— Eu tô falando sério! Se você visse os comentários nas fotos dela, entenderia. É o sonho da nação tocar nessa coxa. Eu vou fazer isso por todas nós.

— SE ELA VAI, EU TAMBÉM VOU! — gritou Mina, levantando em um pulo. — O corpo dessa mulher merece ser estudado em aula de anatomia estética!

— Eu deixo — disse Zaria, fingindo estar conformada. — Mas é só uma vez. Não venham querer fazer disso um hábito.

— Peraí, e eu não tenho voz? — perguntou Yuna, ainda rindo. — Não sou um pedaço de carne no açougue, sabiam?

— Você perdeu esse poder. Quem manda em você agora é a Zaria — decretou Syx, deitada com um pedaço de queijo em uma mão e o celular na outra.

Luna se aproximou cerimoniosamente, ajoelhando-se como se fosse prestar reverência. Tocou a coxa de Yuna com dois dedos e soltou um assobio respeitoso.

— Nossa. Isso aqui é premium. Mina, sua vez.

Mina veio correndo e apalpou como se estivesse tocando uma escultura sagrada.

— Isso é real? Isso existe de verdade? Eu nunca mais vou criticar minha genética, vou só aceitar que fui feita para admirar.

— Mina, imagina que ela apalpa isso todas as noites. Zaria tá muito bem servida.

Yuna se jogou no sofá, chorando de rir. Zaria a olhava com amor e fingido ciúme.

— Eu sabia que você ia roubar a cena até com as minhas amigas. Chega de tocar nela, suas taradas.

— Culpa sua por namorar uma mulher tão maravilhosa como eu — respondeu Yuna em tom brincalhão, segurando a mão dela.

Enquanto a noite acalmava, as garotas se jogaram nas almofadas espalhadas pela sala. Syx estava dormindo com uma fatia de pizza na mão, Luna enrolada numa manta, e Mina ainda olhando para Yuna como quem viu um cometa raro.

Luna, virou-se para Zaria, sussurrou:

— Você está feliz, né?

Zaria olhou para Yuna — agora rindo baixinho de algo que Mina falou — e respondeu:

— Mais do que eu imaginava que seria possível.

— Parece que a Yuna tem mais uma fã número um — Luna aponta para Mina, que ria alto.

— O fã-clube dela só aumenta. Meus pais amaram ela — Zaria diz orgulhosa.

— Você encontrou uma pessoa cativante. A Yuna tem uma áurea muito divertida. Dá certinho com a Mina, as duas se parecem.

— Verdade. Mina só é mais espalhafatosa — As duas riram.

Juntas, cercadas por carinho e amizade, a noite terminou em gargalhadas, travesseiradas e aquela sensação gostosa de que o amor, quando compartilhado entre amigas, é ainda mais bonito.