A chuva fina que se acumulava no asfalto brilhava sob os postes da cidade, espelhando a melancolia de uma madrugada cinzenta. Eram quase onze da noite, e o set da nova série de Yuna estava quieto, envolto no cansaço dos últimos dias. As gravações haviam se estendido além do planejado, mais uma vez, e ela mal tivera tempo para si. A cabeça, no entanto, estava longe dali — mais especificamente, a milhares de quilômetros de distância, onde Zaria havia passado o último mês em turnê pela Europa.
Mesmo com a troca de mensagens esporádicas, a distância entre elas doía mais do que qualquer cansaço físico. A saudade era afiada. Um mês sem vê-la. Um mês com o coração em suspenso.
Cloud, o gatinho que elas adotaram, estava aos cuidados de Mina. Que era apaixonada por gatos. Ela sempre mandava fotos de Cloud brincando com o seu gato. Ele estava crescendo muito rápido.
Yuna se recostou no pequeno sofá de seu trailer, os olhos cansados fixos. Sentia falta do riso abafado de Zaria, das mãos e do calor que ela trazia com sua presença. Seu telefone vibrou ao lado. Uma notificação do Instagram... e logo em seguida, uma mensagem de Jiwon.
“Jiwon: Me encontra na frente do set. Não pergunta nada. Só vem.”
Yuna franziu o cenho, confusa, mas seu coração se acelerou sem aviso. Era raro Jiwon aparecer em plena madrugada, e mais raro ainda era ele soar daquele jeito. Curiosa e um pouco alarmada, ela pegou um casaco e saiu.
Do lado de fora, Jiwon estava encostado em seu carro preto, segurando dois copos de café e um sorriso travesso.
— Você está maluco? O que está fazendo aqui a essa hora? — ela perguntou, tentando conter o sorriso, apesar da surpresa.
— Te resgatando — ele respondeu com simplicidade, entregando-lhe um dos copos. — Zaria chegou.
Yuna perguntou, incrédula:
— O quê...?
— Ela desembarcou em Seul hoje. Sozinha. Eu vi agora pouco em uma página de fofoca no Instagram. Ela tentou ser discreta, mas alguém filmou ela saindo pelo portão B. Adivinha quem lembrou que você não poderia sair sozinha pra ir vê-la?
Yuna ficou parada, o café esquentando sua mão e o coração batendo forte no peito.
— Você veio me buscar pra ver ela?
— É claro! — ele respondeu, sorrindo como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Você acha que eu ia deixar você dormir hoje sem correr até ela? Entra no carro. Temos que iniciar o nosso plano.
Ela olhou ao redor, pensando na gravação do dia seguinte, mas sua vontade falou mais alto. Ela ligou para a diretora, explicando a situação brevemente.
— Eu volto de manhã cedo. Prometo — disse, avisando sua equipe de que precisaria de dispensa por algumas horas.
Quando entrou no carro, Jiwon ligou o motor e eles seguiram pelas ruas desertas de Seul, iluminadas apenas pelos faróis e pelas sombras suaves da madrugada.
Yuna olhava pela janela, as mãos inquietas no colo.
— Eu senti tanto a falta dela... — murmurou. — Mesmo falando pouco, mesmo de longe. Eu ficava escutando as músicas que ela postava nos ensaios, tentando adivinhar o que ela estava sentindo. Eu não conseguia parar de pensar na gente.
Jiwon não disse nada. Apenas diminuiu levemente o volume do rádio, onde uma música suave preenchia o ambiente.
— Durante esse tempo todo, eu percebi que... ela é a mulher da minha vida. Não é só paixão, Jiwon. É tipo... é certeza, sabe? — ela virou o rosto para ele, os olhos brilhando. — Eu nunca tive isso com ninguém. E não vou perder. Não mais. Vou conversar com ela sobre a sua ideia. E se ela aceitar, vamos acertar as coisas. Desde já, agradeço por você fazer isso por nós. Por nos apoiar.
Ele sorriu, desviando os olhos da estrada só por um segundo.
— Então diz isso pra ela. Hoje.
A cidade passou por eles como um borrão de luzes e prédios adormecidos. O caminho até o bairro de Zaria parecia mais curto do que o normal, como se o universo também quisesse acelerar aquele reencontro.
Quando pararam em frente ao prédio dela, Yuna olhou para o amigo. Seu coração estava a mil.
— Eu estarei aqui de manhã bem cedo para te levar de volta. Suba lá, e reconquiste a sua garota — disse Jiwon, reclinando o banco e pegando seu celular.
— Te devo essa, amigo. Obrigada.
— Não precisa agradecer. Só me paga um café mais tarde.
Yuna riu, o sorriso trêmulo.
— Você é o melhor.
Ela atravessou a calçada com passos rápidos, sentindo o vento da madrugada bater em seu rosto, misturado com ansiedade, saudade e aquele friozinho incontrolável no estômago.
Respirou fundo antes de bater na porta. Uma, duas, três vezes. Do outro lado, o som de passos apressados ecoou pelo corredor. Quando Zaria abriu a porta, seu olhar sonolento encontrou o de Yuna. O choque durou apenas um segundo antes de a saudade falar mais alto.
Yuna não esperou. Avançou e a envolveu em um abraço apertado, segurando-a como se quisesse se fundir a ela. Zaria envolveu as pernas em volta da cintura dela, a agarrando como um coala.
— Eu amo você. Não vou cometer o mesmo erro de te deixar partir outra vez. Fica comigo para sempre, Zaria. Para sempre.
Zaria se agarrou a ela, sentindo o cheiro familiar que tanto havia desejado nesses dias de distância. Seus olhos se fecharam, absorvendo aquele momento, e quando falou, sua voz saiu como um sussurro quebrado:
— Me desculpa por ficar longe. Eu quero você na minha vida. Eu te amo. Vamos pensar apenas em nós duas e na nossa felicidade. Vamos ter nossa família.
O beijo veio sem esperar. Um encontro intenso de lábios, de urgência e entrega. Zaria puxou Yuna para a sala do apartamento sem sair do beijo, sem dar espaço para dúvidas ou arrependimentos.
Elas se sentaram no sofá, ainda ofegantes, os dedos entrelaçados como se o contato físico fosse necessário para que tudo aquilo fosse real. Zaria abaixou o olhar, mordendo o lábio antes de falar:
— Eu tive medo, Yuna. Medo do que isso significaria para a minha vida, para minha carreira… Mas percebi que nada disso importa se eu não tiver você ao meu lado.
Yuna apertou sua mão com carinho.
— Então vamos fazer isso juntas. Vamos viver do nosso jeito. Não importa o que as pessoas esperam de nós. O que importa é o que queremos.
Zaria deixou a tensão se dissipar. Ela já sabia sua resposta, mas dizer em voz alta fazia toda a diferença.
— Eu escolho você. Escolho a nossa felicidade. Se tiver que começar do zero, eu começo. Mas ao seu lado.
Yuna sorriu, os olhos marejados de emoção. Levantou a mão e acariciou o rosto de Zaria com delicadeza, como se estivesse gravando aquele momento em sua memória.
— Então vamos. Vamos viver sem arrependimentos.
Zaria puxou Yuna para mais um beijo, selando sua decisão com a certeza de que, dali em diante, nada mais importava além do amor que compartilhavam.
— Eu tenho uma ideia. Na verdade, foi ideia do Jiwon, ele sugeriu que a gente forjasse um namoro fake entre vocês dois. Para despistar nós duas. O que acha?
— Isso seria ousado. Ele tem certeza disso? Nós nunca tivemos nenhuma interação em público.
— Por isso, eu seria a solução perfeita. Seria a amiga intermediária. Justamente, por ser próxima dele e de você.
Zaria pareceu pensar. Ela colocou o rosto no ombro de Yuna e abraçou sua cintura. Yuna a envolve por completo em seus braços.
— Um plano perfeito. Acredito que a mídia tiraria completamente o foco de nós duas. Seria uma boa estratégia de marketing.
— Então você topa?
— Claro que sim. Eu aceito qualquer coisa para ficar com você. Além do mais, eu estou achando que sei quem é a pessoa por trás das fotos anônimas. Poderíamos usar isso para termos certeza.
— Quem é a sua suspeita?
— Meu empresário. Acho que ele está avisando os paparazzis e desencadeando tudo isso.
Yuna franze as sobrancelhas.
— Qual seu plano, minha detetive?
— Vamos organizar com seu amigo algo relacionado a um encontro. Vou falar alto perto do Kang, que vou em um encontro. Se ele morder a isca, vamos ter a certeza.
— Uau... Você é boa. É uma ótima ideia. Estou dentro. (...)
A madrugada envolvia o apartamento em um momento cúmplice, quebrado apenas pelas respirações aceleradas e sussurros entrecortados. Yuna e Zaria estavam entregues uma à outra, como se o tempo perdido precisasse ser recuperado em carícias e beijos urgentes.
Seus corpos se encontraram no escuro, guiados pelo desejo e pela saudade, explorando cada curva e detalhe, como se redescobrissem um território já conhecido, mas sempre novo. Os toques eram suaves e intensos, como se quisessem se gravar uma na pele da outra, tornando-se parte uma da outra.
Zaria deslizou os dedos pelo rosto de Yuna, olhando fundo em seus olhos antes de beijá-la com doçura, sussurrando seu nome como se fosse uma prece. Yuna a puxou para mais perto, suas peles se roçando, seus corações batendo no mesmo ritmo, os corpos nus. O mundo lá fora deixava de existir—não havia pressões, nem expectativas, apenas o amor puro e ardente que compartilhavam naquele instante.
Entre lençóis bagunçados e juras sussurradas, se entregaram completamente, seus corpos movendo-se em perfeita harmonia, dançando ao som de suspiros e gemidos abafados. A paixão se misturava à ternura, ao carinho que transbordava em cada toque e em cada olhar.
E quando o cansaço finalmente as alcançou, ainda entrelaçadas, Zaria desenhou círculos suaves nas costas de Yuna, sorrindo contra sua pele.
— Para sempre — murmurou, enquanto Yuna a abraçava mais forte, selando sua promessa com um último beijo antes de adormecerem, seguras nos braços uma da outra.